Karl Marx apresentou ao mundo há cerca de um século e meio uma dicotomia: socialismo ou barbárie. Lamentavelmente, a realidade comprova a veracidade da análise marxista: vivemos a barbárie, e nada indica que possamos superá-la, pelo menos no curto ou médio prazo. Não há luz no fim do túnel.
As recentes declarações do presidente estadunidense George W. Bush ao jornal The Times são uma clara demonstração do quanto o autoproclamado `eixo do bem` é, em verdade, o `eixo do mal`.
Apesar de tentar amainar posições e declarações adotadas anteriormente, com nítido interesse eleitoreiro, Bush em nenhum momento faz autocrítica do genocídio provocado pela invasão do Iraque.
Admite que não foram encontradas as armas de destruição em massa, motivo da agressão militar, mas não lastima a morte de mais de 80 mil pessoas - na visão mais otimista - ou de mais de 600 mil pessoas - na mais pessimista - decorrente da invasão.
Ao abordar sua conduta à frente da principal potência mundial, Bush não explica a grave crise econômica em que lançou seu país e, em consequência, quase todo o planeta. Ele simplesmente ignora o preço do barril de petróleo na casa dos US$ 140, a falta de alimentos, os exacerbados gastos militares dos EUA, a crise imobiliária e financeira do seu país.
Contraditória e concomitantemente, como que para explicar o momento em que vivemos, a ONG WWF China (WWF bastante conhecida dos brasileiros por ser contra os interesses nacionais do nosso país) lança `alarmante` estudo no qual condena o invejável crescimento econômico chinês e a redução da fome e da miséria naquele país.
Alerta para um possível (?) esgotamento dos recursos naturais em âmbito mundial caso seja mantido o atual ritmo de crescimento da nação mais populosa do mundo.
Em consonância com o pensamento do seu chefe de plantão, não faz nenhuma alusão à opulência e ao desperdício promovidos pelos EUA e pelas transnacionais, muito menos aos lucros exorbitantes desses conglomerados, em que pese toda crise econômica mundial.
Esses dois fatos são sintomáticos, pois demonstram cabalmente a atual estratégia da sanha por lucro das transnacionais: a maximização da exploração dos recursos naturais, em qualquer parte do planeta, independentemente das vontades e decisões dos governos nacionais e dos seus povos. Até mesmo porque a maioria desses governos atua de forma subserviente aos interesses táticos e estratégicos desses grupos.
Dos anos 70 aos anos 90 do século passado vivemos a era do chamado neoliberalismo, do esvaziamento dos Estados nacionais, da privatização de setores estratégicos e economicamente fortes/lucrativos desses estados e da contração de direitos dos trabalhadores e da população mundo afora.
Agora, vivemos uma nova fase da busca incessante pelo lucro a qualquer preço: o neocolonialismo. Exaurir os recursos naturais, independentemente do mal que cause à biodiversidade, esgotando a capacidade biológica do planeta, é um dos últimos (?) veios de manutenção de um sistema corroído, corrompido e combalido.
Pouco interessa que mais de 800 milhões de pessoas vivam na miséria, que milhões morram de fome, que jovens e crianças do Terceiro Mundo não tenham a menor perspectiva de vida, que as grandes cidades estejam cheias de pedintes sem rumo. O que interessa é o lucro, só o lucro.
Agora, não apenas os seres humanos pagam a conta, o planeta também `tem` que dar a sua parte. Voltamos à época em que os países colonizadores exploravam os recursos naturais dos colonizados, vulgos `descobertos`.
Só que agora em uma outra etapa, em benefício dos grandes grupos privados que se utilizam das principais potências militares para garantir os seus lucros. Algo como ingleses, franceses, holandeses, portugueses e espanhóis fizeram com países da América Latina, África, Ásia e Oceania.
Não fará diferença substancial a possível vitória de um negro na corrida à Casa Branca. Barack Obama é do Partido Democrata, mas representa, do ponto de vista estratégico, a continuidade de uma política econômica que visa a exaurir os recursos naturais, particularmente do Terceiro Mundo, a fim de superar a atual crise econômica e assegurar os lucros das transnacionais.
Ou será que existe alguma dúvida de que na maior potência do planeta só existem, historicamente, dois partidos disputando a presidência? Ambos representam os mesmo interesses, apenas com o invólucro diferente.
Em verdade, a famosa dicotomia apresentada por Karl Marx se fundamenta na própria contradição entre o pensamento e a vida: `Os filósofos apenas interpretam o mundo de forma diferente, o que importa é mudá-lo`. (Teses sobre Feuerbach).
Afonso Costa (jornalista).
Fonte: AEPET.
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