quinta-feira, 5 de junho de 2008

POLÍTICA - Sérgio Cabral e a mídia sabiam.

Por Marcelo Salles, da redação do Fazendo Média.

Na terça-feira, dia 3 de junho de 2008, o RJTV divulgou trechos de um vídeo que a Polícia Federal usa como prova de que o deputado estadual Álvaro Lins (PMDB-RJ) teria comprado votos na eleição de 2006, o que constitui crime eleitoral. Veja aqui a reportagem. Trata-se de um vídeo gravado no Tijuca Tênis Clube, em 2006, pela associação dos investigadores excedentes da Polícia Civil.
Na foto, (1) Sérgio Cabral (PMDB-RJ), (2) Francisco Dornelles (PP-RJ), (3) Álvaro Lins (PMDB-RJ) e (4) Marcelo Itagiba (PMDB-RJ). Unidos, foram eleitos
Ocorre que esse vídeo obtido pela Polícia Federal circula entre jornalistas desde o ano passado, e foi usado na representação do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) contra Álvaro Lins por quebra de decoro parlamentar. Na época, nem a Assembléia Legislativa e nem a imprensa deram muita importância e a denúncia foi engavetada.
Vídeo foi gravado no Tijuca Tênis Clube, em 2006, pela associação dos investigadores excedentes da Polícia CivilE o que é pior: embora o RJTV não tenha mostrado, outros trechos do mesmo vídeo revelam que o deputado estadual Álvaro Lins (PMDB-RJ) não estava sozinho naquela atividade. O governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB-RJ), o ex-senador Francisco Dornelles (PP-RJ) e o deputado federal Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) também estiveram presentes. Os quatro fizeram juntos a campanha de 2006. Todos foram eleitos.Em sua fala aos investigadores excedentes, o governador Sérgio Cabral afirma: "Esse é meu compromisso, de convocar todos vocês. Vamos preencher todas as duas mil vagas. E vamos continuar fazendo concurso público". Em vários outros momentos o governador sugere que vai nomear os excedentes. "Não pretendo como governador repetir nunca mais essa situação. De ver um cidadão passar num concurso, uma mulher, um homem, ver a sua vaga ali e não ser chamado. Não pretendo. Mas fiquem certos, que vocês estão prontos como cidadãos, como servidores públicos, que vocês irão contribuir muito para oxigenar, renovar e melhorar a nossa polícia".
Fotos retiradas do vídeo: público acompanha os candidatos
E a certa altura, Cabral esvai-se em elogios para Álvaro Lins: "Ter na Assembléia Legislativa um deputado com a inteligência, a vibração, a energia, o caráter de Álvaro Lins para mim é fundamental como governador do estado do Rio de Janeiro. Fundamental, Álvaro. Fundamental".
Sobre Álvaro Lins (na foto, durante o evento), Cabral declarou em campanha: "Ter na Assembléia Legislativa um deputado com a inteligência, a vibração, a energia, o caráter de Álvaro Lins para mim é fundamental como governador do estado do Rio de Janeiro. Fundamental, Álvaro. Fundamental"
Não se sabe exatamente que tipo de caráter o governador do estado admira, mas convém assinalar que o enérgico Álvaro Lins de Sérgio Cabral foi preso na quinta-feira, dia 29 de maio, pela Polícia Federal, sob acusações um tanto quanto vibrantes: facilitação de contrabando, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha armada.Ao chegar sua vez ao microfone, Lins cumprimenta os presentes. "Bom dia meu amigo Marcelo Itagiba, nosso chefe". Em seguida destaca a importância das palavras do governador Sérgio Cabral. "Vocês viram o que o governador falou. É só querer. E ele já assumiu o compromisso. E nós conseguimos isso todas as outras vezes. E eu nunca tive um governador pra assumir o compromisso junto conosco. Nunca tive. Isso que vocês viram aqui hoje nunca aconteceu. É a primeira vez".
Marcelo Itagiba (direita), "nosso chefe" nas palavras de Álvaro Lins
Todos esses trechos constam do vídeo editado pela associação dos investigadores excedentes da Polícia Civil, que foi incluído pela Polícia Federal em processo contra Álvaro Lins por compra de votos. Embora as corporações de mídia possuam a íntegra do vídeo, não foram consideradas jornalisticamente relevantes as presenças do governador do Rio de Janeiro, de um senador e de um deputado federal numa atividade que, segundo a Polícia Federal, foi usada para a prática de crime eleitoral.

Nenhum comentário: