quarta-feira, 18 de junho de 2008

SEGURANÇA PÚBLICA - Não tem jeito, tem que ir pro paredão.

A violência só é crime, se atentar contra a propriedade privada e/ou o poder político das elites. Para o coronel Mendes (RS) o povo deve ir para o paredão.
Não, o que lemos no título não é uma palavra de ordem do nosso jornal, ou de qualquer partido ou liderança da esquerda nacional ou internacional. Não se trata também de qualquer brado indignado de um bolchevique contra os desmandos, exploração, massacre ou baderna promovidos pelo capital em sua fase neoliberal. Não foi gritada por qualquer palestino da Faixa de Gaza contra miliciano israelense, ou por um iraquiano, referindo-se ao pesidente estadunidense George W. Bush. Nem mesmo por um sem-terra, cujo movimento (MST) foi identificado agora pelo ministro Paulo Brossard enquanto as Farc brasileiras. Não foi sequer o desespero de um preso de Guantânamo ou de Abu Ghraib contra seu torturador, acompanhada de uma cusparada de sangue e pedaços de dentes na cara do algoz, segundos antes de lhe aplicarem a “solução final”. Não foram as últimas palavras de Fidel Castro, ou a saudação do Che incorporado por uma médium na cidade baiana de Xique-Xique (dizem que o Che e o capitão Carlos Lamarca costumavam baixar por lá, mas que a médium agora se transferiu para Goiás).
Se assim não fosse, a senhorita Condoleezza Rice – Miss Condy – já teria baixado mais uma vez por aqui com sua trupe, deitando falação sobre a necessidade da “flexibilização das fronteiras” e do conceito de “soberania nacional” para conter o terrorismo; a grande mídia comercial teria estampado manchetes contra a infiltração comunista (no mais puro estilo guerra fria); os sites da ultra-direita e de seus coronéis de pijama teriam invadido a internet com suas asneiras anacrônicas e seus ódios sempre sincrônicos; e os partidos e associações de empresários do agronegócio já teriam soltado nota ameaçando o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusando-o de “inércia, leniência e conivência” com o terror, até que lhes fosse liberada alguma propina, um cala-boca – tipo alguns milhões do FAT através do BNDES.
Na verdade, brado retumbante partiu de um coronel tucano, bate-pau oficial da governadora tucana do Rio Grande do Sul, dona Yeda Crusius. Seu nome é Paulo Roberto Mendes, coronel feito comandante da Brigada Militar (PM gaúcha) pela governadora, que o orientou e dele exige (como se fosse necessário) a manutenção da “paz social” a ferro e fogo naquele Estado, aplastrando qualquer manifestação popular. Sobretudo aquelas que protestem contra o descalabro do governo gaúcho e, mais ainda, se tais manifestações protestarem contra a corrupção comandada pela senhora Crusius e sua quadrilha de apaniguados.
Para que não sobre dúvida, de acordo com o coronel, quem deve ir para o paredão são os movimentos de sindicatos, camponeses, estudantes, professores – enfim, o povo, a cujas manifestações se refere o chefe militar como “baderna provocada por desocupados”.
Por isto, certamente, nenhum “intelectual humanista de direta” (!), desses que a grande mídia comercial costuma desencavar em momentos críticos, veio a público com sua velha arenga e seu velho bordão de “os fins não justificam os meios”, ou babaquices do gênero “a violência só gera a violência” – como o fariam caso a frase fosse proferida por alguém de esquerda, visando a distribuição de riquezas e o bem estar da maioria do povo. Ao contrário: no caso do coronel, como se trata de defender a concentração de riquezas e poder nas mãos dos de sempre, certamente para a alcatéia, os fins justificam plenamente os meios: “coloquem o povo no paredão – protejam a propriedade e a corrupção”. Mais que isto, para esses mesmos personagens, a violência é um método tão justo como o foi no Brasil durante o golpe de 1964 e os anos subseqüentes, ou como nas ditaduras do Cone Sul do Continente nos anos 1970. A violência só é crime, se atentar contra a propriedade privada e/ou o poder político das elites.
O mais cômico (não fosse trágico) é que, enquanto o coronel Paulo Roberto Mendes exibe com garbo e galhardia seu destempero, fazendo público o que seus colegas tucanos prefeririam não fosse verbalizado, mas apenas sussurrado quase como um segredo de alcova, as denúncias contra a governadora Crusius são feitas sistematicamente pelo seu vice-governador, senhor Paulo Feijó, prócer do DEM (Democratas, ex-PFL, ex-Arena), tradicional aliado do PSDB (Partido da Social-Democracia Brasileira – os tucanos). Deixar o DEM na condição de guardião da moral e probidade pública é o mesmo que amarrar cachorro com lingüiça e/ou botar a raposa para tomar conta do galinheiro.
Mas, já que falamos das patranhas e trapalhadas do modo tucano de governar, não custa lembrar que, em São Paulo, além dos já conhecidos expedientes do Governo José Serra, que impedem a formação na Assembléia Legislativa de qualquer CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que lhe seja minimamente incômoda, o chefe do Executivo paulista acaba de vetar o projeto de lei conhecido como “Selo Verde”, que estimula as usinas a desenvolverem práticas de responsabilidade sócio-ambiental, como condição para conseguirem acesso a incentivos fiscais e recursos em bancos. O projeto de lei foi proposto pelo deputado Simão Pedro (PT-SP), e aprovado no dia 7 de maio na Assembléia Legislativa.
Enfim, parece-nos que não tem jeito, mesmo.
Fonte: blog Brasil de Fato.

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