quarta-feira, 18 de junho de 2008

VENEZUELA - O novo discurso de Chaves sobre as Farcs.

Claudia Jardim, de Caracas.

A mudança no tom e discurso do presidente venezuelano, Hugo Chávez, em relação ao conflito armado colombiano surpreendeu tanto a seus críticos, como seus simpatizantes, e marcaria uma mudança "tática" no rumo de sua política externa.Ao afirmar que a "guerra de guerrilhas passou à história" e exigir que o grupo colombiano libertasse incondicionalmente todos os reféns em seu poder, Chávez estaria marcando distância das FARC, ação vista por muitos como um recuo do governo venezuelano que entra em uma dura campanha para manter a hegemonia de seus partidários nas eleições para governadores e prefeitos, em novembro.Para o sociólogo venezuelano, Javier Biardeau a mudança de Chávez representa uma manobra, e não uma marcha ré. Para muitos venezuelanos, a tensão com a Colômbia - e a transferência do conflito armado para este lado da fronteira - não era vista com bons olhos.Foi a primeira vez que Hugo Chávez utilizou um tom enérgico para criticar as FARC, desde que aceitou mediar o acordo humanitário - que previa a libertação de reféns em troca de guerrilheiros presos. Com a manobra, Chávez estaria tentando retirar de cima o peso da pressão interna. No entanto, para Javier Biardeau, o ajuste no discurso do mandatário venezuelano tem como foco principal a política interna colombiana, ao afetar tanto ao governo como a nova direção das FARC." Ao exigir a libertação de reféns, o presidente pressiona internamente a (Álvaro) Uribe, levando-o a reativar os mecanismos para o acordo humanitário e deixa a pressão sobre o governo colombiano", avaliou Biardeau, professor de sociologia da Universidade Central da Venezuela (UCV). "Ao mesmo tempo, Chávez fortalece a ala política das FARC, que apoia a libertação dos reféns e se distancia da ala mais radical militarista", acrescentou.Novo comandoAs mudanças na linha de comando das FARC, a partir da ascensão de Alfonso Cano à chefia do grupo armado em substituição do líder e fundador da guerrilha, Manuel Marulanda - cuja morte foi anunciada há um mês -, foram vistas por analistas como a possibilidade do fortalecimento da ala política da guerrilha e da libertação de outros reféns.A pressão para uma saída negociada do conflito também veio de Quito. O presidente equatoriano, Rafael Correa, seguiu a linha de seu colega venezuelano e pediu às Farc abandonarem as armas. "Que futuro tem a guerrilha que combate com um governo democrático? Já basta vamos ao diálogo, deixem as armas, vamos ao diálogo político democrático para encontrar a paz", disse Correa a um canal de televisão local.Para o jornalista e escritor colombiano Jorge Botero, a crise permanece em um impasse neste momento. "A situação da guerrilha se complica ainda mais e dificilmente as FARC aceitarão o pedido de Chávez de libertar todos os reféns incondicionalmente. A guerrilha exige também a libertação de seus presos", afirmou.Apesar de haver elogiado as declarações de Chávez, o presidente colombiano não deu sinais de que pretende sentar em uma mesa de negociação para discutir o acordo humanitário, principal reivindicação das FARC. "O governo acredita que está ganhando esta guerra e que a saída é militar, não política", disse Botero. "É preciso aguardar a reação de Alfonso Cano. A libertação de alguns reféns poderia simbolizar alguma mudança, mas ainda não há sinais disso", acrescentou.
Reeleição UribeA tensão nas relações diplomáticas da região andina também diminuíram. Desde 1º de março, quando o Exército colombiano bombardeou um acampamento das FARC instalado no Equador, os canais de diálogo entre Bogotá, Caracas e Quito estavam marcados por troca de acusações de lado e lado.A crise se intensificou quando o governo Uribe passou a acusar a Chávez e Correa de manter vínculos com a guerrilha, informação que supostamente teria sido obtida a partir de documentos encontrados no computador do número dois das FARC, Raúl Reyes, morto durante o bombardeio.Ao mesmo tempo em que Chávez acusava a Uribe de manter um "narcogoverno" e um governo "paramilitar", a popularidade do mandatário colombiano ascendia a 80% de apoio, índice que coincide com a discussão no Parlamento da Colômbia para promover uma reforma constitucional que permita a Uribe candidatar-se a uma segunda reeleição em 2010."Chávez agora deixa de ser um dos pretextos que fortalecia a Uribe em sua campanha interna e que acabava desviando a atenção das crises de corrupção do governo colombiano", afirmou Javier Biardeau.
Fonte: blog Brasil de Fato.

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