Artigo do economista José Luiz Ferreira de Sá.
Não restam dúvidas de que a midia é capaz de formar conceitos sobre tudo e, principalmente, a respeito de líderes políticos que, por algum motivo, fogem ao modelo tradicional, e sobre acontecimentos, não raro distorcidos da realidade.
Mas com o passar do tempo, ocorrem, via de regra, mudanças de rumo no sentido da reposição da verdade cada vez com maior rapidez por conta da possibilidade de se ter contato com testemunhos que nos apresentam outras facetas de pessoas e fatos, via Internet.
Um dos fenômenos mais recentes, e que todos nós acompanhamos, tem como pano de fundo a guerra do Iraque, promovida pelos EUA ao arrepio das leis internacionais e da Convenção de Genebra.
Talvez um conhecimento verdadeiro da situação tenha demorado mais porque os militares americanos atacaram todos os repórteres que tentaram registrar as ocorrências indesejáveis no campo de batalha.
É o caso, por exemplo, do repórter da Reuters que foi morto em Bagdá, em 28/08/2005, e cujo soldado atirador foi julgado recentemente por tribunal militar como sendo inocente, em virtude da principal prova contra ele, o filme do repórter, ter sido extraviado.
Outros casos de ataques a profissionais daquela agência de notícias, considerada isenta, e da Al-Jazeera, esta de Dubai, no Iraque e no Afeganistão
ficaram, e continuarão, esquecidos.
A invasão americana a um país pequeno com menos de 30 milhões de habitantes, a maioria pobre e jovem (60% com menos de 15 anos) foi apoiada por 80% da população americana, há cinco atrás, iniciada com um show de pirotecnia, mas com bombas verdadeiras, lançadas sobre Bagdá.
Depois de 5 anos de conflito e milhares de fotos registrando o horror de uma guerra injusta e completamente desigual e de artigos, de livros e alguns filmes críticos, apenas 33% dos americanos consideram válida a iniciativa, apesar dos 4.000 soldados mortos.
É bem verdade que as estatísticas oficias norte-americanas de baixas humanas no conflito jamais mencionam as perdas em vidas de iraquianos, sejam militares, dos ditos insurgentes ou de civis.
Mas devemos nos lembrar que americanos não são necessariamente os que governam o país durante este lamentável episódio, e uma de suas universidades empreendeu um pesquisa para contar os fantasmas da contagem oficial.
Este estudo, realizado há mais de um ano, estimou, segundo procedimento de amostragem estatística, o mesmo utilizado pelo governo para suas várias totalizações, o montante total de perdas em 550 mil pessoas!
Apesar disso, certos líderes do primeiro mundo, que, em conjunto, se auto-intitulam a "Comunidade Internacional", justificam a sua omissão ao considerar que o fato de termos nos livrado do ditador Saddam Hussein valeu por tudo.
Mas nós não temos a memória tão curta para esquecer que ele era um político válido quando serviu aos propósitos dos EUA e da GB e bombardeou o Iran, em guerra quase fratricida, nos anos 90.
Seu conceito, bem construído pelos interesses da cobiça de grupos internacionais, de ditador sanguinário, era popularizado pelo mundo ocidental, mas não garantiu que considerássemos justo e limpo o seu julgamento pelo júri americano-iraquiano.
A sua captura num buraco perto de Tikrit, sua cidade natal, em estado lamentável de falta de higiene, não sustentou o rumor americano de que teria 3 bilhões de dólares escondidos em bancos estrangeiros.
Aliás nunca se viu os pacotes de dinheiro-750 mil dólares- que teria consigo quando preso, segundo relato americano, depois de nove meses de busca e com a recompensa recorde de 25 milhões de dólares para quem o denunciasse.
Esperamos que este pesadelo que recaiu sobre o valente povo iraquiano possa terminar em pouco tempo e permitir que uma nova fase de reconstrução do país tenha lugar tão logo quanto possível.
Voltando ao tema do poder da midia, estava outro dia assistindo na Bloomberg uma entrevista de um cineasta americano que estreava um filme sobre a guerra no Iraque naquela semana nos EUA.
A certa altura, passando pelo assunto candidatura deu Obama, ele pergunta ao seu interlocutor se ele sabia quantos congressistas negros tinham votado contra a guerra da Iraque.
A informação surpreende: 80%! Uma das explicações seria o fato de que as famílias mais pobres é que mandam soldados para a guerra.
Todavia, menciona outro aspecto da personalidade dos negros que os diferenciam de "nós (anglo-saxões): eles são mais cépticos em relação ao que se divulga na midia"!
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