quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

ENTREVISTA DO COLLOR A GLOBONEWS.

Copiado do blog do Hélio Fernandes, da Tribuna da Imprensa.

Collor em entrevista à Globonews: “Escrevi um livro que vai abalar o Brasil”. Depois, mudando de tom: “Mas só vou publicar quando todos estiverem mortos”. Desde já, deu nomes e comprometeu muita gente

O ex-deputado Cleto Falcão, a pessoa mais ligada ao (futuro) presidente Collor, até a eleição e a posse, deu entrevista aberta e escandalosa, ao repórter Genetton Moraes. A Globonews publicou. Comentei logo a seguir. A entrevista é jornalisticamente importantíssima, mas por que publicar neste momento?

20 anos depois da eleição. 17 anos transcorridos do impeachment. 3 anos a partir de sua volta como senador e como personagem temido e polêmico, pelas coisas que diz e principalmente pelo que sabe e não se cansa de dizer: “Vou publicar”. Como a Organização não tem fanatismo jornalístico, alguma coisa aconteceu.

Alguns não falam nada a respeito da entrevista do Cleto, que não repercutiu, o personagem é conhecido demais. Outros falam que Collor pediu direito de resposta. Pessoas ligadas aos dois lados, me dizem: “Ele não PEDIU e sim EXIGIU esse direito”. Está em condições de fazer isso, pelo que pode publicar. E ele mesmo falou em entrevista: “Sempre diziam que eu era maluco”. E deu uma gargalhada, a única num depoimento sóbrio, discreto, cheio de nomes e relatos.

Como Collor foi o presidente mais moço, ganhando em 1989 de Ulisses, Covas, Brizola, Lula e que sofreu o primeiro impeachment da nossa história, vou comentar.

O mesmo Genetton (bom repórter, nenhuma intimidade com a televisão, apanhava das câmeras e até dos papéis, mas tinha à disposição assunto fascinante) fez a segunda entrevista. Como levou 45 minutos, preciso destacar os pontos mais importantes, embora tenha tudo na memória.

Eleição: “Sabia que ia vencer, nunca tive a menor dúvida”.

Dinheiro: “O financiamento foi difícil para o primeiro turno, os recursos não entravam”.

Segundo turno: “Depois, foi uma avalanche. O que entrava de dinheiro provocava surpresa total. Até eu ficava assombrado com o volume que chegava para a campanha”.

O repórter pergunta para onde foi tanto dinheiro: “Financiamos a campanha de muita gente, governadores, deputados”. Hesita um pouco e acrescenta: “Também senadores”. E sobrou, pergunta Genetton: “Sobrou muito depois de tudo isso. Mais de 50 milhões, acho que mais de 55 milhões, quem controlava tudo era o Paulo César”.

Inflação: “Entre a eleição e a posse, minha grande preocupação era como controlar a inflação, que estava em números assustadores”. (A Era Maílson, com a inflação em mais de 80 por cento ao mês). “Sabia que precisava dar um choque, conversei muito com economistas da campanha e outros, como Mário Henrique Simonsen, que convidado, não aceitou, mas colaborou com sugestões sobre o choque”.

Circulação de dinheiro: “Sem consultar ninguém eu achava que havia muito dinheiro, e isso alimentava a inflação. Era preciso cortar esse volume, só não sabia como, embora tivesse que ser medida radical, sem paliativo. Estava convencido, mas queria ouvir economistas”.

André Lara Resende: “O choque terá problemas políticos, mas é tecnicamente possível e aceitável”. (Collor se estende na conversa sem explicar, só fala “André”, que não era luminar. Ganharia projeção “indevida” com o Plano Real, não era o mais brilhante. Mas pessoalmente foi vitorioso, mora e vive luxuosamente na Europa).

Mário Henrique Simonsen: O ex-presidente conta: “Conversei muito com ele, convidei-o (não diz para quê, pressupõe-se que para cargo imperial no governo), ele disse que não, mas garantiu que faria sugestões”. E fez, diz Collor, “favoráveis ao choque”. Sem saber da idéia do André, disse a mesma coisa. “Era a SOLUÇÃO, tecnicamente possível”.

(O próprio Collor mostra que não estava bem orientado. Simonsen era homem de esquemas e não apenas teóricos. Como poderoso Consultor da CNI ( Confederação Nacional da Indústria) proporcionou lucros de bilhões e bilhões para as fábricas de bebidas e cigarros. Em plena Era da Inflação, os maços de cigarros e as garrafas de bebidas vinham com os impostos colados em selos. Simonsen mudou, elas passaram a recolher o “SELO POR VERBA”.

Era o seguinte: não colavam mais nada, tinham 30 dias para pagar. Em plena inflação e o domínio do que se chamava de “Open Market”, enriqueceram. Simonsen mais tarde foi Ministro da Fazenda do “presidente” Geisel, ficou um pouco com Figueiredo. Saiu, foi ser executivo do Citibank. Passei a chamá-lo de CITISIMONSEN).

Aloísio Mercadante: “Economista muito ligado a Lula, (seria seu vice-presidente em 1994, segunda candidatura) procurou Zélia Cardoso de Mello, que já se sabia que seria a minha Ministra da Fazenda, E não escondeu: “Esse choque com confisco do dinheiro é nosso (do PT e de Lula) sonho de governo. Mas estamos convencidos de que se fosse eleito e fizesse isso, Lula não governaria, seria derrubado”. (Textual de Collor e textual dele sobre Mercadante).

O confisco: “não era para atingir tudo, as ações e os bens não seriam prejudicados. Mas o mercado é muito esperto (textual), começou a transferir para ações e imóveis, fugindo da poupança. Tivemos que radicalizar, confiscar até títulos ao portador”.

O início do impeachment: “A reação foi violentíssima, muito maior do que imaginávamos. Começaram a surgir protestos e ameaças de todos os lados, aparecia a palavra impeachment. Como tinha mais de 400 deputados FIÉIS, não me preocupei”.

A maioria desapareceu: “À medida que os protestos aumentavam, a vantagem na Câmara diminuía”. O repórter fala sobre as aventuras do “presidente Batman”, Collor ri, fica logo sério, e diz: “Precisava me projetar junto ao povo, e eu já disse que era tido como MALUCO. (Repete a identificação feita por ele mesmo).

A traição: “Comecei a sentir que estava ficando isolado, aí realmente passei a pensar sobre o assunto”. Genetton aproveita a pergunta, “as entrevistas do seu irmão com acusações pesadas, tiveram importância?”. Vem a primeira e grande gargalhada, demorada, e a resposta: “Nada a ver. Eram apenas problemas familiares, nenhuma ligação política ou com impeachment”.

O vice conspirador: faz a primeira acusação frontal contra alguém, dizendo: “Itamar Franco comandou um movimento para a minha derrubada e a transferência do Poder para Ulisses Guimarães. Este, que me apoiava, passou a me evitar, e logo ficou contra, queria assumir a presidência, que tentou a vida toda. Depois, morreu, acabou tudo”.

(Equívoco de Collor. Que o vice conspirasse, nada surpreendente, é sempre assim. Mas que conspirasse para entregar o Poder a outra pessoa, isso não tem sentido, é rigorosamente inacreditável).

A derrota na Câmara: “O impeachment avançou com violência, os 400 deputados votaram contra mim, não fiquei surpreendido, mas compreendi muita coisa. E fiquei pensando no que fazer”.

A renúncia: “Faltava o Senado”. Usa o chavão, “nada melhor do que um dia depois do outro com uma noite no meio para decidir. Então pensei, se perdi na Câmara, vou perder no Senado. Durante a noite redigi o pedido de renúncia, que pela manhã foi entregue ao presidente do Senado. Não aceitaram, tudo estava decidido”.

A volta: “Retirado do governo por acusações sem nenhuma base, o Supremo me absolveu por 5 a 3. Compreendi que havia confiado demais, precisava fazer uma análise sobre o meu próprio comportamento e os erros cometidos”.

O livro-bomba: Diz, “logo, logo comecei a escrever tudo o que acontecera, fui botando no papel, ficou pronto, vi que era uma bomba, (ele mesmo coloca essa palavra como a chave do livro) o país não aguentaria, iria politicamente pelos ares”.

Thales Ramalho: “Resolvi ir com mais calma, achei que tinha que dar um tempo, vou publicar o livro, mas precisava me aconselhar. Procurei então o Ministro Thales Ramalho, grande articulador, que me mostrou coisas que eu não havia visto”. Me disse: “Presidente, por que fazer isso agora, estão todos ainda aí, vivos e atuantes, o senhor sabe o que pode acontecer? Não é melhor esperar?”.

Mais calmo: “Concordei com sua sabedoria, não era a hora, mas não desisti, apenas vou esperar”.

* * *

PS – Em suma: não há suma nem súmula. Todos os que estão citados NOMINALMENTE não podem fugir da resposta. Têm que se explicar, gastaram a reputação, esbanjam o que ganharam com a perda da reputação.

PS2 – Só o Ministro Citisimonsen, (escrevi tudo sobre ele, quando era todo poderoso, até o apelido ele recebeu em plena atividade) está livre de explicações. Morreu moço e sem qualquer desfalque visível.

PS3 – Teve antes, a mesma sabedoria de Sérgio Motta, que morreu também moço, apenas desfalcado em vida pelo fato de ter sido sócio de Golbery (Durante a ditadura). E financiador da REEELEIÇÃO de FHC. Sua morte sepultou o terceiro mandato.

PS4 – Gosto muito deste tipo de matéria. 45 minutos vendo, ouvindo e guardando na memória. Para transformar em palavras, na hora necessária. Os que terão que se explicar com a comunidade, algum prazer? Se conseguirem desmentir Collor, estarão se defendendo e servindo à coletividade.

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