Um cafezinho com Lula
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula |
Às vezes eu quero escrever algo tão inteligente que acabo não escrevendo nada. Aconteceu comigo agora com essa entrevista com Lula. Passei dias matutando uma crônica sobre o tema, reli clássicos, dei caminhadas filosóficas, à espera de inspiração, e nada. Então é melhor eu botar a viola no saco e apelar para a humildade. Façamos uma crônica fática e modesta. Ou pelo menos, vamos começar desta maneira.
A entrevista com Lula, para mim, teve início com uma mensagem via Facebook de uma assessora do Instituto Lula, uma semana antes da entrevista.
Ela entrou em contato comigo, pediu meu telefone. Em poucas palavras, ela me explicou que Lula queria dar uma entrevista a “jornalistas independentes” e perguntou se eu queria participar. Claro, eu respondi. Neste momento, eu não sabia quem seriam os outros participantes. Quer dizer, sabia apenas, pela assessora, que seriam 9 ou 10.
A semana foi passando. Descobri que o Fernando Brito também participaria, porque ele me contou. Então suspeitei que outros blogueiros estariam presentes. Na véspera da entrevista, segunda-feira, joguei um verde para um colega blogueiro de São Paulo e descobri que ele também iria. Aí tive uma ideia geral de quem seriam os entrevistadores: blogs.
Eu havia decidido ir de ônibus, por questão de economia. O Cafezinho vai muito bem de assinaturas, mas ainda não dá para ficar andando de avião para lá e para cá. E até hoje não vi um centavo do dinheiro que, segundo a mídia, os blogs recebem do governo.
Segunda-feira, final de tarde, eu estava um pouco ansioso e decidi dar uma caminhada pelas redondezas. Acabei parando num boteco na esquina da Gomes Freire com Resende, para tomar uma cerveja, pensar nas perguntas que faria ao Lula, e eventualmente ler um pouco. Eu sempre caminho carregando um livro à tiracolo, o que não é um hábito tão saudável como pode parecer à primeira vista, porque me dá sempre a ideia de parar num bar para ler. O livro em questão era Todos os Homens do Presidente, que conta a história das reportagens sobre o Watergate que levaram à renúncia de Nixon.
Então parei ali, pedi uma Heineken e fiquei pensando. Anotei perguntas e pensamentos no meu smartphone. Aliás, inaugurei um método diferente de anotação, uma sugestão do meu irmão que mora em Rio Bonito e com o qual eu converso de vez em quando pelo Skype. Ao invés de escrever, liguei o gravador do celular e fiquei falando. Para não parecer um maluco, fingia estar conversando com alguém do outro lado da linha. Uma moça ficou me encarando do lado de fora e achei que ela tivesse sacado minha estratégia. Parei de falar um tempo até que ela se afastou, então voltei a falar.
Chamei uns colegas do Barão para conversar e contar as novidades. Dias antes, o Miro, presidente do Barão, havia me convidado para integrar a Executiva Nacional da entidade. Queria contar isso a eles e também sobre a entrevista com Lula.
Liguei para a Carla, o Theo e o Gilberto. Os dois primeiros estavam por perto e apareceram. Eu já havia tomado algumas cervejas, e o consumo se acelerou após sua chegada. Minha mulher já começara a me ligar, nervosa, querendo que eu viesse logo para a casa, para me arrumar para viajarmos.
Lá pelas nove ou dez horas, fui para a casa. Carla e Theo me acompanharam, a meu convite, para tomarmos umas saideiras enquanto eu me arrumava para viajar.
Resumindo, saí de casa por volta da meia noite. Peguei um táxi para rodoviária, comprei dois bilhetes de um ônibus leito, no valor de R$ 150 cada um. Assim que me ajeitei na poltrona, e a reclinei, dormi profundamente. A viagem pareceu durar cinco minutos. Acordei já em São Paulo, no terminal Tietê.
Apesar do sono pesado, estávamos cansados. Eram seis da manhã. Ainda faltavam muitas horas para a entrevista, marcada para as dez horas. Resolvemos pegar um táxi e descansar em algum hotel próximo da rodoviária. Entramos num carro e explicamos nossa situação ao motorista. Ele disse que o melhor a fazermos era irmos a um hotel que havia em frente à rodoviária. Podíamos ir a pé. É bom?, perguntamos. É o melhor que tem por aqui, assegurou ele. Então lá fomos nós. Atravessamos o saguão central da rodoviária, pegamos a saída do metrô, descendo a rampa. Descemos uma escada, e chegamos à rua. E ali estava o hotel. Um autêntico pulgueiro. Tomamos um susto, mas estávamos agora cansados demais para procurar outro lugar. Entramos, pagamos R$ 50 por um quarto e nos instalamos. O quarto, minúsculo, não inspirava nenhuma confiança quanto a sua limpeza. O som da rua chegava com tanta violência que parecia que estávamos do lado de fora. Buzinas, roncos de ônibus, gritos, todos os barulhos de São Paulo pareciam se concentrar naquela esquina maldita acima da qual ficava nosso quarto.
A única coisa boa era um enorme ventilador posicionado bem ao pé da cama, preso à parede. Era quase do tamanho do quarto, e fazia um ruído tranquilizador.
Minha mulher logo adormeceu. Eu fiquei rolando na cama, cansado demais até para dormir. Li um pouco do jornal que tinha trazido, da véspera. Resolvi tomar um banho. O banheiro não tinha porta, como em suíte de presídio. O chuveiro deixava cair tão pouca água que, se mais gente na cidade usasse um igual, Cantareira ainda estaria cheia.
Por fim, chegou nossa hora e saímos. Antes, fizemos um planejamento. O wifi do hotel começou a funcionar e eu fiz uma pesquisa rápida onde ficava o Instituto Lula e onde poderíamos tomar um café da manhã ali por perto. Mas o tempo ficou curto e fomos direto para o Instituto. Na porta, encontrei a Conceição Lemes, do Viomundo. Entramos juntos. Lá dentro, já estava o Marco Weissheimer, da Carta Maior.
Minha mulher estava com muita fome e como a assessora nos informou que a entrevista só começava às 10:30, resolvemos dar uma volta para comer alguma coisa. Ainda tínhamos tempo. Lá fora, encontro o Eduardo Guimarães, e o Rovai saltando do táxi. Cumprimento os dois e entro no táxi do qual saía Rovai. Rodamos um pouquinho e paramos junto a um bistrozinho bem humilde, tocado por uma senhora extremamente gentil. Comemos empadas deliciosas, e café com leite, contando o dinheiro, porque o lugar não aceitava cartão de débito. Deu para comermos, cada um, duas empadas, primeiro de palmito, depois de ricota com tomate seco.
Então voltamos a pé. Dentro do instituto, todos já haviam chegado: além dos já citados, Fernando Brito, meu parceiro e sócio, vindo também do Rio; Kiko Nogueira, do Diario do Centro do Mundo, que eu já conhecia de uma festa da Carta Maior, em São Paulo; lá fora, numa espécie de varanda, Miro fumava um cigarro, e conversava com Rodrigo Vianna.
Passaram-se alguns minutos e nos convidaram a entrar na sala da entrevista. Havia plaquinhas com os nomes de cada um diante dos respectivos lugares. Todos se sentaram. O clima era descontraído. Franklin Martins já estava por ali.
Então chegou Lula. Ele entrou silenciosamente, e quando o vi, já estava dando a volta na mesa, cumprimentando a todos. Ergui-me e o cumprimentei. Ele se sentou ao meio, fez alguma graça, e aí começou a discorrer sobre a entrevista. É importante atentar para o que ele disse nesse momento: “Vocês podem me perguntar o que quiserem, só não podem xingar minha mãe”.
Ou seja, é mentira deslavada que houve qualquer combinação sobre as perguntas, ou censura. Ao contrário, Lula fez questão de nos assegurar, logo na abertura da entrevista, de que teríamos total liberdade.
Eu estava bastante nervoso, afinal não entrevisto nunca ninguém. Quase não saio de casa. Trabalho enfurnado em meu canto, sozinho com meus pensamentos, meu computador e meus livros. De repente, estou ao vivo, diante do mundo inteiro, ao lado do homem mais famoso do Brasil.
Um funcionário do Instituto fazia o papel de mediador, e ia passando a palavra aos entrevistadores. Lula falava com muita descontração e liberdade. Os entrevistadores também estavam à vontade, e burlavam a limitação de fazer apenas uma pergunta, encaixando várias perguntas numa só intervenção.
Para piorar meu nervosismo, fui o último a perguntar, depois de três horas, durante as quais eu só fui piorando. Comecei relativamente bem, depois me enrolei um bocado. Quando acabou a entrevista, fiquei numa paranoia horrível de que ninguém tinha me entendido, que tinha falado demais, mas dias depois, quando tomei coragem para rever minha intervenção, me acalmei um pouco. Consegui o que queria ao fazer a pergunta: fazer o ex-presidente falar de política internacional e das armadilhas à democracia que víamos no mundo, com manifestações sendo manipuladas por serviços de inteligência e mídias internacionais para derrubar presidentes. Vimos isso na Síria, na Líbia, no Egito, na Ucrânia, e agora na Venezuela. No Brasil, não sei até que ponto essa teoria pode ser aplicada.
Na verdade, é uma teoria de conspiração, amalucada, e que eu ainda sequer desenvolvi completamente na minha cabeça, que mistura espionagem americana, Snowden, manifestações e golpes. Eu tenho esse péssimo costume. Quando tento falar uma língua estrangeira, é a mesma coisa. Ao invés de me ater a frases e conceitos simples, eu procuro falar a coisa mais complicada que vem à minha cabeça.
A resposta do ex-presidente foi longa: ele comentou os episódios no Egito. Lembrou que as primeiras manifestações, para derrubar Mubarak, contaram com grande simpatia da opinião pública internacional. Até ele mesmo, Lula, ficou feliz, porque nunca gostou do Mubarak. Conheceu-o em alguns eventos internacionais, e sempre o achara um sujeito mal encarado, macambúzio, sinistro. “Os EUA eram o único país que o considerava um democrata”, lembrou Lula.
Mas aí, após terem derrubado um ditador, os egípcios voltaram às ruas para derrubar um presidente eleito. Lula não falou isso, mas ficou implícito: isso foi um erro. E o resultado é que agora os militares, os mesmos que eles derrubaram quando destituíram Mubarak, voltaram ao poder. “Os jovens não podem jamais achar que a solução está fora da política”, opinou Lula, e para mim foi um recado de alcance internacional, para os que acham que soluções de força são válidas.
A mensagem vale, naturalmente, para o Brasil, visto que muita gente passou a achar que se pode mudar as coisas apenas via “manifestações”. Lula, porém, defendeu enfaticamente o direito a manifestação, inclusive se posicionando duramente contra qualquer legislação anti-terrorismo ou mesmo contra o uso de máscaras, no “país do carnaval”. Lembrou que começou a fazer política justamente fazendo manifestação, passeatas, greves. Mas nada disso (acho que ele quis dizer) faz sentido se não houver a confiança de que a solução tem de vir da política. Ou seja, façamos manifestações, mas não esqueçamos que, antes e depois do ato, é preciso fazer debates, tomar deliberações, votar, estabelecer objetivos e metas. Sair às ruas sem saber o que se quer não adianta; ao contrário, corre-se o risco de se tornar massa de manobra das mesmas forças que julgamos estar combatendo.
A repercussão da entrevista, no dia seguinte, foi espetacular. Manchete em todos os jornais. Lula conseguiu a proeza de consolidar os blogueiros como intermediários respeitados no debate político brasileiro. Os achincalhes começaram apenas nos dias seguintes. E ainda continuam, aliás. A gente está preparado para tudo.
Vou mencionar apenas o que parece ter mais irritado meus colegas. Numa conversa na CBN, em programa ancorado pelo Sardemberg, com participação de Merval Pereira, ambos detratam os blogs com as acusações de sempre: blogs “pagos” pelo governo e “chapa branca”.
Eu já rebati esse tipo de acusação milhares de vezes, mas vamos lá. Em primeiro lugar, é preciso ver que se trata de uma tentativa da grande mídia de desqualificar o trabalho que fazemos. Além de ser covarde e deselegante, é uma estupidez. O nosso trabalho é reconhecido pelos leitores. Os blogs hoje tem centenas, quiçá milhares de assinantes, acumulam milhões de visitantes por semana. Ao xingar os blogs, Sardemberg e Merval não desrespeitam apenas seus autores, mas os milhares de cidadãos que nos visitam, nos respeitam e investem inclusive dinheiro em nosso trabalho.
Os blogueiros presentes à entrevista de Lula não são “pagos” pelo governo. São blogueiros de esquerda que tem simpatias por algumas políticas públicas do governo, assim como não tem por outras. Sardemberg tenta nos medir com a sua própria régua. Como a mídia é um “partido”, e um partido que paga bem a seus “militantes”, como são Sardemberg e Merval, eles acham que a mesma lógica se repete nos blogs.
A acusação de chapa-branquismo, por outro lado, me parece uma crítica incongruente. Onde está o poder, de facto? Está no governo federal ou está no poder econômico? Defender a mídia, o capital, os bancos, a propriedade privada, não é ser chapa-branca? Defender um governo anterior, por exemplo, o de FHC, não é ser chapa-branca? Se sim, os jornalistas da Globo são os maiores chapa-brancas do mundo, porque eles não parecem ver defeito nenhum no governo FHC. E os governos estaduais?
Eu passei anos investindo dinheiro do meu próprio bolso fazendo oposição ao governo Fernando Henrique. Editava um jornalzinho tablóide chamado “Arte e Política”, que eu imprimia na gráfica do Monitor Mercantil. Pagava as despesas de impressão e distribuição com meu bolso e meu suor. Quando Lula chegou ao poder, eu passei a defendê-lo, por uma questão de coerência. Assim como o Globo, que defendia FHC, passou a fazer oposição a Lula, também por questão de coerência. Se Aécio Neves ganhar as eleições, voltarei tranquilamente à oposição. É assim a democracia.
Merval tenta desqualificar os blogs chamando-os de “militantes”. Ora, e ele, é o quê? Para mim, ele é o maior militante de todos. O fato de ter ideias, de ter uma opinião, não pode desqualificar um jornalista. É saudável que assim o seja.
Além do mais, as críticas de Merval e Sardemberg me parecem ultrapassadas. Desde algum tempo, os blogs começaram a produzir conteúdo. Alguém viu a Globo fazer uma reportagem sobre a sonegação da… Globo? Alguém viu a grande mídia oferecer algum contraponto às denúncias sobre Pasadena?
Não, não viram.
Os blogs hoje também são fonte de informação jornalística. E produzimos, naturalmente, uma opinião bem diferente daquela veiculada na grande mídia.
Defendemos, sim, que o governo mude a estrutura e a lógica da publicidade oficial, ainda extremamente reacionária, concentradora e injusta, que faz com que os grandes meios de comunicação fiquem mais ricos e mais fortes e, por consequência, ajuda a debilitar os pequenos. A lógica da mídia técnica tem de ser ponderada pela lógica democrática, que visa oferecer à sociedade brasileira uma diversidade maior de opiniões.
No caso do Brasil, a mídia técnica é particularmente injusta porque o cenário midiático nacional é um deserto dominado por herdeiros da ditadura. Cabe ao Estado democrático investir na pluralidade e não incentivar a concentração. Não adianta apenas distribuir verbas para jornalzinhos de interior e rádios comunitárias, que são importantes mas não influem no debate político nacional. Não influem no parlamento. Os blogs hoje, sim, começam a influir. Deputados e senadores hoje lêem os blogs. E isso é uma mudança que Merval Pereira não pode mais mudar.
Cada blog é diferente. O Diário do Centro do Mundo, por exemplo, editado por nosso querido Paulo Nogueira, persegue o apartidarismo, e tem uma utopia jornalística que, realmente, não me preocupa. Eu não estou nem aí para se pensam se eu apoio ou não o PT, o PCdoB, ou o raio que o parta. Com todo o respeito à opinião alheia, eu defendo quem eu quero, quando eu quero, por quanto tempo eu quiser. Se eu quiser defender o PT, vou defender o PT. Estou me lixando para o que Merval pensa disso. Se eu quiser atacar o PT, idem. Evidentemente, o valor da minha opinião, o meu carisma enquanto blogueiro, o respeito que tenho dos meus leitores, reside na minha coerência, na minha lógica, na minha educação.
Não concordo também que jornalista não pode ter “amigo”. Acho, ao contrário, que esse tipo de pensamento é que desumanizou e desqualificou os jornalistas. Eu tenho amigos. Quero ter amigos. Claro que não quero amigos que sejam desonestos, e naturalmente meus melhores amigos serão aqueles com os quais eu guardo afinidade ideológica ou política. Mas não necessariamente. O mundo é grande demais, e eu tenho, infelizmente, ou felizmente, uma pá de adversários políticos. O meu blog tem lado, repito, é um blog de esquerda.
Entretanto, discordo frontalmente dessa visão policialesca do jornalismo. Eu vi isso quando escrevia sobre Pizzolato. Quando ele fugiu para a Itália, um camarada inventou, para a mídia, um tal de grupo de “amigos de Pizzolato” e me botou dentro. Na verdade, não sou amigo do Pizzolato; apenas encasquetei que ele é inocente, entrevistei-o umas três ou quatro vezes e escrevi posts.
Saíram algumas matérias com meu nome e daí a grande mídia começou a me procurar. Até o ponto em que uma repórter do Fantástico quis me entrevistar, mas aí achei demais e dei um basta. Só que aí eu vi o lado sombrio do nosso jornalismo. Alguns repórteres até se interessavam por ouvir a versão de um acusado, mas as empresas de mídia não publicavam nada. É muito sinistro isso. A grande mídia que se pretenda democrática e aliada das liberdades individuais, nunca poderia se pôr 100% ao lado do Estado perseguidor. Ela sempre deveria ser extremamente cuidadosa com a versão do indivíduo. Porque, mesmo que o sujeito seja culpado, ele talvez seja menos culpado do que as acusações que se lhe atribuem. E, sobretudo, porque o próprio linchamento midiático constitui, muitas vezes, uma violência mais cruel do que a pena da lei. É uma violência privada que se soma à violência pública. É uma coisa apavorante.
Voltando a entrevista com Lula, depois que terminamos, tiramos fotos com o ex-presidente e alguns de nós fomos almoçar num lugar ali perto. Eu tive um treco na coluna, seguramente por causa dos nervos, e decidi dormir um dia em São Paulo, para melhorar. Dormi num Ibis econômico na rua da Consolação, pagando R$ 200 a diária. Voltamos na manhã seguinte para o Rio, em ônibus leito, novamente R$ 150 por pessoa.
Tudo pago do meu próprio bolso, que fique bem claro.
Cheguei ao Rio ainda com a coluna estourada, a caixa de Dorflex já no fim. Só melhorei lá para a quinta-feira, após alguns passeios relaxantes pelo Aterro, onde depois de caminhar, me sento junto a uma barraca, contemplando a baía ensolarada, o Pão de Açúcar, e leio mais algumas páginas de Pornopopeia, do Reinaldo Moraes.
Pesquisando a repercussão da entrevista na internet, vi apenas os detratores de sempre, esquerdinhas invejosos do twitter, me chamando de “patético”, etc. Pela primeira vez, o Cafezinho saiu com destaque na grande mídia, na página mais importante do jornal O Globo, junto com outros blogs.
(Parece que na quarta-feira, vai sair outra matéria sobre a gente, no Globo, provavelmente negativa. A ver.)
Eu tinha planos, antes de escrever essas mal traçadas, de fazer uma crônica ultrassofisticada, ao estilo David Foster Wallace, mas fica para próxima. Não queria terminar o texto, porém, sem contar uma descoberta divertida no Pornopopeia, que tem a ver com Lula. Ainda falarei muito deste livro neste blog, porque é um dos maiores acontecimentos literários dos últimos anos.
Na página 409, após alguns parágrafos descrevendo um imaginário diálogo com duas velhas ricas e reacionárias, que amam FHC e odeiam Lula, o cineasta foragido Zeca, herói do romance, diz (mentindo) que votou em Ulisses Guimarães, justamente para não horrorizar suas interlocutoras reaças, das quais dependia sua segurança financeira e existencial, com suas tendências esquerdistas. Apenas o leitor fica sabendo:
“Rejane me olhará com certa apreensão aguardando a minha resposta. Não vá você estragar nosso idílio paradisíaco com tolas opiniões esquerdistas, é o que estará me dizendo seu olhar. Declarei sem titubeios:
Votei no meu candidato preferido: Nulo Branco Júnior. (…) Já na eleição do Collor, em 1989, votei no doutor Ulisses.
(…) Rejane sorrirá pra mim, orgulhosa da evidente mentira que eu terei acabado de contar, pois tenho a maior cara de quem sempre votou no porquêra do Lula mesmo, o que, aliás, é a mais comezinha verdade”.
Pois é, o “porquêra” do Lula novamente deu um drible na grande mídia.
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