sexta-feira, 9 de maio de 2008

AMAZÔNIA - Não é de hoje a cobiça internacional pela Amazônia.

Já em 1960, no seu livro "A Amazônia e a Cobiça Internacional", o Prof. Arthur Cezar Ferreira já comentava o interesse dos americanos pela região.O que se pretendia naquela época era um prenúncio do que as ONGs vem realizando hoje. A fonte é o site da AEPET.

No livro do escritor paraense Leandro Tocantins, O Rio Comanda a Vida, lançado primeiramente em 1952, trás no preâmbulo de sua 38 edição (1968), um documento histórico de autoria do eminente amazonófilo, o Professor Arthur Cezar Ferreira Reis, então governador do estado do Amazonas, autor por sua vez do importante livro A Amazônia e a Cobiça Internacional (1960).
O documento avalia as implicações de uma proposta para a criação de uma Fundação de Pesquisas Tropicais, feita pela Academia de Ciências de Washington, baseada nas observações feitas por um grupo de trabalho daquela Academia, que percorrera a Amazônia.
As conclusões que o GT chegara, além de estabelecer que o resultado das pesquisas deveria ser feito independentemente das instituições existentes na área, podem ser sintetizadas:
Uma Fundação de Pesquisas Tropicais, sediada em Washington, com direção norte-americana.
A Fundação reteria a direção dos programas, suas finanças, seu corpo técnico. - A direção da Fundação seria composta exclusivamente por cientistas treinados e recrutados nos Estados Unidos.
Os laboratórios para análises e experimentação do material coletado na Amazônia seriam montados nos Estados Unidos.
Os Centros de Pesquisas e Treinamento do Trópico úmido, a funcionar em Belém, e em outras partes do território amazônico, subordinados à Fundação em Washington, seriam dirigidos por norte-americanos.
Obs.: Será que não é isto ou parte disso, o que as ONG`S americanas fazem atualmente na Amazônia, coletando dados e material para análise em laboratórios nos EUA?
A peça histórica que aqui se transcreve na integra, é um documento expressivo encaminhado por Leandro Tocantins, então representante do governo do Amazonas no Rio de Janeiro, ao Presidente Castello Branco, em 11 de Maio de 1965:
EXCELENTISSIMO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA:
o Governo do Estado do Amazonas recebeu convite do Senhor Ministro da Agricultura para tomar parte numa reunião onde seria discutida a criação do Centro de Pesquisa e Treinamento no Trópico Americano, mais precisamente na Amazônia Brasileira, por proposta da Academia Nacional de Washington e o patrocínio da Embaixada dos Estados Unidos.
Antes de me ausentar da d_pita1 de meu Estado procurei auscultar os diversos setores da opinião pública, destacando-se as alianças políticas na Assembléia Legislativa, inclusive a da oposição. De todos recolhi a impressão de que a providência sugerida por um País estrangeiro de instalar centros tropicais de pesquisa e treinamento na Amazônia, com direção e pessoal próprios, contrariava os interesses nacionais, e, em última análise, representaria o ressurgimento, com outro rótulo, do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica, desaprovado pela opinião pública brasileira através do pronunciamento negativo do Congresso Nacional.
Durante a reunião, verificada a lOdo corrente, tive oportunidade de externar o ponto de vista do Governo amazonense, que é contra o projeto, no modo como ele foi apresentado na Agenda distribuída na oportunidade. Preliminarmente, a Fundação de Pesquisas Tropicais, a ser criada em Belém do Pará, sob a chefia de técnicos norte-americanos e controlada por um Conselho Deliberativo em Washington, não se coaduna com a boa tradição histórica brasileira, e nem se harmoniza com os superiores interesses do nosso País.
Existem, na região, dois órgãos de pesquisas e de experimentação: o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, criado para substituir o fracassado Instituto Internacional da Hiléia Amazônica, e o Instituto de Pesquisa e Experimentação do Norte. É bem verdade que esses dois organismos lutam com falta de recursos fmanceiros e elementos humanos capacitados para levar a bom termo as suas tarefas. A Agenda distribuída na reunião do Ministério da Agricultura esclarece o programa de trabalho da projetada Fundação de Pesquisas Tropicais, programa que é idêntico ao daqueles dois órgãos brasileiros. Criar-se-iam, assim, instituições paralelas, visando a idênticos fins, e, o que me parece mais grave, dirigi das, orientadas, financiadas por uma nação estrangeira, dispondo de todos os meios e facilidades para assenhorear-se de completas informações sobre um vasto império geográfico que representa metade do território brasileiro.
Julgo, Senhor Presidente, que razões de segurança nacional desaconselham o projeto, cuja aceitação de nossa parte significaria, também, o desprestígio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e do Instituto de Pesquisas e Experimentação do Norte, os quais se contemplados com recursos financeiros, instrumental técnico e elemento humano capacitado, podem, perfeitamente, alcançar, para o Brasil, os objetivos que tanto preocupam a Academia Nacional de Ciências de Washington. Estimo que uma proveitosa cooperação científica se desenvolva na Amazônia, entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, visando a dinamizar, com know-how e financiamento norte-americanos, e até europeu, as atividades dos órgãos brasileiros na região. Mas que essa cooperação seja dirigida no sentido de vitalizar o trabalho daquelas universidades regionais através de acordos ou convênios assegurando-se, sempre, a direção brasileira. Sei que a Amazônia não poderá ser efetivamente possuída pelo Brasil na parte territorial que lhe coube na empresa de conquista e domínio que vem exercendo sem interrupções de qualquer natureza, sem que se conheçam realisticamente o que valem o seu solo e o seu subsolo. Esse conhecimento deve ser obtido pela ação dinâmica, objetiva, das instituições de pesquisas.
Os dois organismos brasileiros a que já me referi, e que Vossa Excelência conhece tão bem, nas desventuras e realizações que já lhes asseguram o respeito de todos, conhece desde quando exerceu o Comando Militar da Amazônia, são os organismos legitimamente indicados para aquelas operações de identificação científica e técnica. Impõe-se, por isso, quanto antes, garantir-Ihes a dinâmica de que carecem, fornecendo-se-lhes os recursos financeiros necessários para a execução de seus programas de campo, de laboratório e de gabinete, e as equipes credenciadas que efetivem esse esforço científico.
Desejo que Vossa Excelência compreenda que não me assalta qualquer restrição aos nossos amigos norte-americanos. Não lhes faço a negação dos nacionalistas prejudicados por ideologias estranhas. O que pretendo é que a empresa da pesquisa, através do INP A e do IPEAN, é que deve ser promovida, incentivada e assegurada.
Esse é o ponto de vista que externei durante. a reunião do Ministério da Agricultura, e tenho a
honra de levar ao alto conhecimento de Vossa Excelência.
Aproveito o ensejo para apresentar a Vossa Excelência os protestos de minha alta estima e
subido apreço.
(Ass.) Arthur Cezar Ferreira Reis
Governador do Estado
Posteriormente, em discurso proferido em Belém do Pará, pelo Presidente Castello Branco, longe de conter `críticas veladas` ao Governador amazonense, significou pleno apoio à sua tese.

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