quinta-feira, 1 de maio de 2008

ECONOMIA - Ladeira abaixo.

Com a obtenção pelo nosso país do "investment grade" o que está relatado abaixo pelo Luis Nassif tende a piorar. Isto porque entrará mais capital especulativo para aproveitar os juros altos e a maior apreciação cambial (diferencial entre os juros internos e externos ), o que dará um duplo ganho aos investidores. Como consequência, o balanço de transações correntes será afetado negativamente.

Ladeira abaixo , texto do Luis Nassif.

O Banco Central se surpreendeu com a deterioração das contas externas (clique aqui). No primeiro trimestre do ano, o déficit chegou a US$ 10,8 bilhões. Para o ano, a última previsão do BC era de déficit em US$ 12 bi. Em abril, será batida a previsão – que é a última de uma série de reavaliações do BC.
Altamir Lopes, o Diretor do Departamento Econômico do BC, brandiu argumentos tentando esvaziar o impacto:1. A greve dos fiscais atrapalhou as exportações no trimestre. Esqueceu de mencionar que atrapalhou também as importações.
2. Disse que parte relevante do déficit é de remessa de lucros e dividendos, “melhor” do que se fosse para pagamento de dívida. Poderia dizer que, se houvesse confiança no taco do câmbio, grande parte desses lucros e dividendos seria reinvestido no país. Parte dos dólares - conforme ele lembrou – está indo para bancar prejuízos de matrizes. Mas parte para ganhar em cima do dólar desvalorizado. Além disso, se vier a crise, pouco importa se a razão foi infarto ou pneumonia.
Desde novembro e dezembro venho alertando para um problema fundamental em todo esse arsenal de planilhas, estatísticas e projeções que o mercado desenvolveu. Os modelos são estáticos, não conseguem interpretar inflexões radicais na economia.
Em outras palavras, pegam uma série histórica, dão um tratamento estatístico e projetam para o ano seguinte. No caso da balança comercial, há mais sofisticação nas exportações. As melhores consultorias fazem análises, setor por setor. As exportações são mais previsíveis porque dependem da economia mundial, do consumo mundial e dos preços das commodities.
Já no caso das importações e das remessas de lucros, exige intuição e conhecimento.
Por exemplo, quando o dólar bateu em um patamar baixo, as empresas começaram a procurar alternativas no exterior. Há um tempo de preparação, no qual identificam países produtores, enviam representantes para conhecer os produtos, acertam linhas de financiamento e, depois, ficam aguardando os ventos, para saber se vale a pena abrir mão de um fornecedor local.
As estatísticas não captam esses preparativos. Quando as importações começam, vêm aos borbotões, com saltos expressivos, pegando todo mundo de calças curtas. Inclusive o BC, que ficou “surpreso”.
Ora, tem-se uma informação absolutamente estratégica para a estabilidade do país, algo que tem implicações profundas tanto no plano econômico quanto no político. E o BC simplesmente se diz “surpreso” com o resultado?

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