domingo, 11 de maio de 2008

HISTÓRIA - Data esquecida, 13 de maio.

Data esquecida.

Neste artigo, o professor da UFBA João José Reis comenta o descaso da mídia nos 120 anos de abolição da escravatura.

Mais uma efeméride está sendo celebrada. Desta feita o bicentenário da chegada da família real ao Brasil, em 1808. A mídia não se cansa de falar nisso. O episódio foi sem dúvida historicamente importante: única monarquia européia a instalar-se no Novo Mundo, depois disto a história do Brasil não seria a mesma. Contudo, pensando no contexto latino-americano da época, de lutas pela independência, o Brasil não seria o mesmo de qualquer jeito e não fosse de um jeito ainda mais radical, talvez revolucionário. Como aconteceu na época na América espanhola. A vinda da família real, por exemplo, consolidou a escravidão e o tráfico transatlântico de escravos para o Brasil.
A economia agroexportadora colonial estava em fase de plena prosperidade e ascendendo, em grande medida devido à retirada quase total do Haiti do mercado internacional de açúcar, café e outros produtos cultivados no Brasil. Aquela retirada, lembrem-se, deveu- se à revolução escrava que criou um Estado nacional negro com a independência da ilha, quatro anos antes da família real desembarcar no Brasil. E a realeza aqui desembarcou pisando em sangue e suor de negro. O tráfico de africanos estava no auge, os traficantes eufóricos com a possibilidade de lucros cada vez maiores. Entre 1801 e 1825, cerca de 872 mil africanos foram embarcados para o Brasil.
A família real pisou na Bahia, a caminho do Rio de Janeiro, em 22 de janeiro de 1808, quando aqui começava um longo ciclo de revoltas e conspirações desses escravos vítimas da prosperidade brasileira. No ano anterior, uma conspiração de escravos haussás tinha sido descoberta e eficazmente reprimida pelo Conde da Ponte, o governador que recebeu a família real e se notabilizou por sua intolerância aos costumes africanos na Bahia. Achava ele que escravo era para ser tratado na ponta do chicote, sem concessões. Pois além de receber as cabeças coroadas na colônia que governava, o conde naqueles dias cuidava do julgamento dos conspiradores haussás.
Os réus foram condenados a penas que variaram de mil a trezentos açoites, que seriam aplicados em praça pública. Cumpria assim o governo ordens da Coroa para fazer com que o castigo servisse “de exemplo para evitar as funestas conseqüências que de semelhantes acontecimentos devem recear-se.” Fico eu a pensar se o governador tratou da rebeldia dos haussás em conversas tidas com o príncipe regente d. João. Bem, o translado da família real portuguesa para o Brasil serve pra gente conversar sobre essas coisas. Fecha o pano.
Uma outra efeméride, ligada a essa mesma família real, cumpre aniversário redondo este ano e quase ninguém fala dela. No dia 13 de maio de 2008, terão passados cento e vinte anos desde que a princesa Isabel assinou decreto abolindo a escravidão no Brasil, o último país americano a cuidar disso. A Abolição não foi um negócio resolvido apenas entre o parlamento e o palácio real. Os escravos contribuíram, em lutas individuais e coletivas, para o declínio e queda do império escravista. As fugas em massa que eles empreenderam nas vésperas da Abolição definiram o desfecho final. E quando os escravos souberam de sua vitória comemoraram, junto com a população negra já livre e com simpatizantes da causa. Comemoraram com tal ênfase que autoridades e ex-senhores se assustaram, pensando que à Abolição poderia seguir uma revolução. Em várias regiões os libertos ocuparam terras, mataram e comeram animais de senhores, destruíram plantações. Alguns chegaram a se armar para defender o que achavam ser seus direitos: um pedaço que fosse do espólio do escravismo.
Walter Fraga Filho conta essa história, da perspectiva da Bahia, em seu excelente e merecidamente festejado livro Encruzilhadas da liberdade, recentemente publicado (Editora da Unicamp, 2006). Em palestra recente, ele falou de suas novas pesquisas, que trata, entre outros assuntos, da memória da escravidão e das celebrações do 13 de maio nos anos que se seguiram à emancipação. Ele observou que a comunidade negra se empenhava em renovar a cada ano os festejos e aproveitava a ocasião para reivindicar o que não lhe fora concedido quando os escravos se tornaram livres. Mostrou que essas comemora ções foram pouco a pouco se esvaziando e explica que a razão era justamente que os poderes constituídos e a classe dominante branca buscavam desta forma esvaziar aquelas reivindicações.
O leitor ainda deve se lembrar de que, por ocasião do Centenário da Abolição, vinte anos atrás, governo e mídia tentaram fazer da efeméride um momento de ufanismo nacional. Foram os movimentos negros que deram um basta ao tom celebrativo e exigiram políticas públicas que favorecessem os negros. Desde então algumas vitórias, embora lentamente, vêm se sucedendo. Falo das ainda tímidas políticas afirmativas, que ganharam algum fôlego recentemente sob o governo Lula, eleito com promessas de fazer avançar a causa dos negros no país. E veio a criação da Seppir, veio o Prouni, várias universidades públicas introduziram sistemas de cotas que beneficiam candidatos negros e está para ser discutido no congresso o Estatuto da Igualdade Racial. Paralelamente a tudo isto, cresceu a mobilização daqueles que desacreditam tais políticas sob o argumento risível de que nós os brasileiros “não somos racistas”, e portanto não cabem políticas públicas raciais.
Pois bem, aqui estamos diante dos cento e vinte anos da Abolição e o silêncio “abre as asas sobre nós.” A coincidência da efeméride com a discussão do Estatuto Social explicaria o silêncio? Pelo sim, pelo não é preciso fazer barulho, é preciso não deixar que essa data passe em branco porque ela é boa para pensar na desigualdade racial, no racismo em nosso país e nas medidas que devem ser tomadas pelos poderes públicos para extirpar, como diziam os abolicionistas, este “cancro” de nosso meio.
João José Reis - Publicado originalmente no Jornal Írohinsilvia.martins@mundonegro.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

REVOLUÇÃO QUILOMBOLIVARIANA !

Manifesto em solidariedade, liberdade e desenvolvimento dos povos afro-ameríndio latinos, no dia 01 de maio dia do trabalhador foi lançado o manifesto da Revolução Quilombolivariana fruto de inúmeras discussões que questionavam a situação dos negros, índios da América Latina, que apesar de estarmos no 3º milênio em pleno avanço tecnológico, o nosso coletivo se encontra a margem e marginalizados de todos de todos os benefícios da sociedade capitalista euro-americano, que em pese que esse grupo de países a pirâmide do topo da sociedade mundial e que ditam o que e certo e o que é errado, determinando as linhas de comportamento dos povos comandando pelo imperialismo norte-americano, que decide quem é do bem e quem do mal, quem é aliado e quem é inimigo, sendo que essas diretrizes da colonização do 3º Mundo, Ásia, África e em nosso caso América Latina, tendo como exemplo o nosso Brasil, que alias é uma força de expressão, pois quem nos domina é a elite associada a elite mundial, é de conhecimento que no Brasil que hoje nos temos mais de 30 bilionários, sendo que a alguns destes dessas fortunas foram formadas como um passe de mágica em menos de trinta anos, e até casos de em menos de 10 anos, sendo que algumas dessas fortunas vieram do tempo da escravidão, e outras pessoas que fugidas do nazismo que vieram para cá sem nada, e hoje são donos deste país, ocupando posições estratégicas na sociedade civil e pública, tomando para si todos os canais de comunicação uma das mais perversas mediáticas do Mundo. A exclusão dos negros e a usurpação das terras indígenas criou-se mais e 100 milhões de brasileiros sendo estes afro-ameríndio descendentes vivendo num patamar de escravidão, vivendo no desemprego e no subemprego com um dos piores salários mínimos do Mundo, e milhões vivendo abaixo da linha de pobreza, sendo as maiores vitimas da violência social, o sucateamento da saúde publica e o péssimo sistema de ensino, onde milhões de alunos tem dificuldades de uma simples soma ou leitura, dando argumentos demagógicos de sustentação a vários políticos que o problema do Brasil e a educação, sendo que na realidade o problema do Brasil são as péssimas condições de vida das dezenas de milhões dos excluídos e alienados pelo sistema capitalista oligárquico que faz da elite do Brasil tão poderosas quantos as do 1º Mundo. É inadmissível o salário dos professores, dos assistentes de saúde, até mesmo da policia e os trabalhadores de uma forma geral, vemos o surrealismo de dezenas de salários pagos pelos sistemas de televisão Globo, SBT e outros aos seus artistas, jornalistas, apresentadores e diretores e etc.
Manifesto da Revolução Quilombolivariana vem ocupar os nossos direito e anseios com os movimentos negros afro-ameríndios e simpatizantes para a grande tomada da conscientização que este país e os países irmãos não podem mais viver no inferno, sustentando o paraíso da elite dominante este manifesto Quilombolivariano é a unificação e redenção dos ideais do grande líder zumbi do Quilombo dos Palmares a 1º Republica feita por negros e índios iguais, sentimento este do grande líder libertador e construí dor Simon Bolívar que em sua luta de liberdade e justiça das Américas se tornou um mártir vivo dentro desses ideais e princípios vamos lutar pelos nossos direitos e resgatar a história do nossos heróis mártires como Che Guevara, o Gigante Oswaldão líder da Guerrilha do Araguaia. São dezenas de histórias que o Imperialismo e Ditadura esconderam.Há mais de 160 anos houve o Massacre de Porongos os lanceiros negros da Farroupilha o que aconteceu com as mulheres da praça de 1º de maio? O que aconteceu com diversos povos indígenas da nossa América Latina, o que aconteceu com tantos homens e mulheres que foram martirizados, por desejarem liberdade e justiça? Existem muitas barreiras uma ocultas e outras declaradamente que nos excluem dos conhecimentos gerais infelizmente o negro brasileiro não conhece a riqueza cultural social de um irmão Colombiano, Uruguaio, Venezuelano, Argentino, Porto-Riquenho ou Cubano. Há uma presença física e espiritual em nossa história os mesmos que nos cerceiam de nossos valores são os mesmos que atacam os estadistas Hugo Chávez e Evo Morales Ayma , não admitem que esses lideres de origem nativa e afro-descendente busquem e tomem a autonomia para seus iguais, são esses mesmos que no discriminam e que nos oprime de nossa liberdade de nossas expressões que não seculares, e sim milenares. Neste 1º de maio de diversas capitais e centenas de cidades e milhares de pessoas em sua maioria jovem afro-ameríndio descendente e simpatizante leram o manifesto Revolução Quilombolivariana e bradaram Viva a,Viva Simon Bolívar Viva Zumbi, Viva Che, Viva Martin Luther King, Viva Oswaldão, Viva Mandela, Viva Chávez, Viva Evo Ayma, Viva a União dos Povos Latinos afro-ameríndios, Viva 1º de maio, Viva os Trabalhadores e Trabalhadoras dos Brasil e de todos os povos irmanados.