sexta-feira, 13 de junho de 2008

ELEIÇÕES MUNICIPAIS - PT: O impasse mora em BH, não no Rio.

O mais lamentável foi o papel do PMDB, rompendo a aliança com o PT.
Ao que parece, até o final do prazo limite para a realização da convenção legal que vai homologar a candidatura majoritária do PT à Prefeitura do Rio, o deputado estadual Alessandro Molon vai ser vítima de uma forte pressão para que desista da sua pretensão e abra espaço para uma recomposição dos partidos do campo democrático popular na capital do Estado. Será um teste, a hora da verdade desse jovem companheiro que se lançou de corpo e alma, ainda debutante na política, a uma audaciosa aventura: representar um Partido dos Trabalhadores que busca se recompor das seguidas derrotas políticas e eleitorais, numa das cidades politicamente mais importantes do país, como candidato à Prefeitura do Rio. Após ser duramente golpeada, pelo recente rompimento do PMDB, a candidatura Molon vai ter que mostrar a que veio e articular forças internas e sociais para resistir à proposta de substituição da sua candidatura pela de Jandira Feghali. Algo que, apesar de toda a onda que faz certa mídia, que trabalha dia e noite para enfraquecer o PT, é, segundo fontes, proposto pelo PSB como um artifício para atrair o PT, para o apoio à candidatura de Márcio Lacerda na coligação com o PSDB, tem poucas chances de ser vitorioso, salvo por uma medida de força: haja vista que além da direção nacional do PT não topar apoiar o PSB em BH naquelas condições, não há tempo político para a sua consolidação, não conta com a adesão do Molon e nem da militância petista carioca, mas certamente provocará efeitos danosos na campanha do PT. O que fica é aquela sensação de que mais uma vez o PT do Rio é convocado para mais um sacrifício...
Uma proposta que nasce basicamente da incômoda situação da candidatura de Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo, que, malgrado liderar as pesquisas, não logra atrair aliados de peso, e da trapalhada do prefeito Fernando Pimentel, que, preocupado com o seu futuro político em 2010, operou a inusitada aliança com o governador tucano de Minas Gerais, Aécio Neves, para apoiar um nome do PSB à sua sucessão, o até recentemente secretário estadual de administração Marcio Lacerda, pondo em risco 16 anos de administração petista em Belo Horizonte, e impondo ao partido isolamento político.
Se o impasse político mora na capital mineira, e não no Rio, porque não propor ao PT local o apoio à deputada federal Jô Moraes, candidata do PCdoB à prefeitura de BH, em troca do apoio da sigla comunista a Marta Suplicy em São Paulo? O PT do Rio, que fez tudo que deveria ser feito, junto com a direção nacional do PT construiu uma candidatura unitária à prefeitura, saída de um processo inquestionável de prévias, agora vê ameaçada a sua autonomia política de decisão, a partir de um debate que, se fosse feito há cinco meses, teria algum sentido, mas às portas do início de um processo eleitoral certamente terá um impacto nocivo para o petismo carioca. Aliás, esse é um erro recorrente em relação ao Rio de Janeiro, se chegar a conclusões políticas com atraso, ao invés de, como se faz no jogo de xadrez, antecipar movimentos. Lembram-se de 1998?
Ora, bolas, desde a vitória do deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP) na disputa para a Presidência da Câmara Federal sobre o deputado federal do PCdoB, Aldo Rebelo, que concorria à reeleição, e o ingresso oficial do PMDB na base do governo Lula, o processo de gestação daquele bloco partidário foi acelerado, e a relação dele com o PT foi se esgarçando, a ponto de em São Paulo, o próprio Aldo Rebelo se lançar candidato à Prefeitura, mesmo reconhecendo suas remotas chances na disputa. Embora o PT em suas últimas resoluções tenha identificado o problema e buscado construir respostas para ele, na ação prática permaneceu priorizando as relações com o PMDB, tanto isso é fato que o primeiro movimento do PT paulista foi a tentativa sem êxito do apoio do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, presidente da seção paulista do PMDB, à candidatura de Marta. O que aumentou ainda mais a má vontade do Bloco de Esquerda em relação ao PT.A base de sustentação argumentativa de tal investida nacional, a posição da Jandira Feghali nas pesquisas, num processo eleitoral que sequer foi desencadeado, é muito frágil para fazer com que o PT do Rio, a direção do partido e as candidaturas proporcionais, que livres da coligação com o PMDB mudaram as suas perspectivas eleitorais, apóiem tal aventura, que, além de tudo, retira o número 13 do horário eleitoral gratuito das campanhas majoritárias do Rio: o que acabará repercutindo de forma negativa nas candidaturas majoritárias e proporcionais do PT em toda a região metropolitana do Estado do Rio (que representa 75% do eleitorado do estado), que é servida pelos sinais da emissora de TV líder de audiência no país. Como retirar da disputa uma legenda que tem forte apelo eleitoral junto aos cariocas, numa cidade da dimensão do Rio de Janeiro? Só num processo prévio de construção, debate e esclarecimento político, tal perda poderia ser minimizada, já que nem o PT e nem o PCdoB possui mídia favorável, ao contrário, por exemplo, da candidatura de Fernando Gabeira (PV, PPS e PSDB), que, nessa disputa eleitoral, representa a modernização conservadora, cujos movimentos têm ampla divulgação.É natural que Jandira Feghali que foi candidata a prefeitura do Rio em 2004, e que polarizou a última eleição para o senado, com Francisco Dornelles, que acabou conquistando a única vaga em disputa nas eleições de 2006, apareça com destaque em qualquer pesquisa a ser realizada, antes de começar a campanha propriamente dita e o horário eleitoral gratuito de rádio e TV, quando o seu tempo será bem inferior ao do PT, mesmo que ele saia sozinho. Além do mais, a despeito da votação que obteve na eleição de 2006, a candidata do PCdoB acabou a campanha desgastada ao comprar briga com a Arquidiocese da Cidade do Rio de Janeiro, algo que por mais que Jandira tivesse razão nas denúncias que fez ao TRE, foi conduzido com rara inabilidade política e lhe custou perdas de votos decisivos para a sua eleição para o senado. Logo, tanto pela fragilidade do seu partido quanto por esse passivo político com a igreja católica, é, no mínimo, discutível a força inicialmente demonstrada por Jandira Feghali. Portanto, essa proposta de apoiar a candidatura melhor posicionada do campo democrático e popular no Rio de Janeiro, é inoportuna, chega com um atraso de pelos menos cinco meses, desorganiza o PT, tem poucas chances de se reverter em êxito eleitoral, e só serve para criar dificuldades para a campanha do PT à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro - e sequer garante criar facilidades para a candidatura de Marta Suplicy, que é o objetivo final dessa operação em curso, inspirada na visão de país que orientou a revolução constitucionalista de 1932: O Brasil é um trem, São Paulo é a locomotiva, e alguns vagões sempre podem ser descartados para fazer o trem andar mais rápido.
Já no caso de Belo Horizonte, o PT precisa encontrar uma solução política, já que o prefeito Pimentel não tem sinalizado recuo, e o partido terá que construir uma candidatura alternativa, para não ficar fora da disputa eleitoral. Logo, ao invés dessa operação legítima, mas extemporânea, proposta pelo PSB e bem vista por alguns petistas, em relação à candidatura Molon, porque não buscamos solução onde a crise está instalada e parece irreversível O apoio à candidatura da deputada federal Jô Moraes, ao mesmo tempo em que recoloca o PT no centro da disputa em BH, sinaliza, via PCdoB, que pretende retomar uma relação privilegiada com o Bloco de Esquerda.
Flávio Loureiro é jornalista

Nenhum comentário: