Depois de insistir durante seis anos - desde a preparação do "ataque preventivo" de março de 2003 - que a invasão do Iraque nada tinha a ver com o petróleo, sendo motivada apenas pelas armas de destruição em massa (AMD), que se revelariam fantasia delirante da Casa Branca, os EUA estão confirmando agora a iminente volta das corporações de petróleo do Ocidente, 36 anos depois de serem expulsas.
Esse retorno da Exxon Mobil, Shell, Total e BP (British Petroleum), parceiras originais do que se chamava então Iraq Petroleum Company, foi o destaque principal de ontem na primeira página do "New York Times". Elas voltam juntamente com a Chevron e dezenas de companhias menores. Todas estão negociando contratos sem licitação com o governo do Iraque, país ainda sob ocupação de fato.
Por coincidência, nos últimos dias a mídia mais próxima da Casa Branca de Bush, em especial a Fox News do magnata Rupert Murdoch, passou a defender a tese de que o petróleo do Iraque será a solução para os EUA em meio à atual controvérsia sobre o grande salto dos preços internacionais do barril - hoje em torno de US$ 140 dólares, o que alarma a população americana.
Contratos fora dos padrões
Segundo o "Times", os acordos do atual governo de Bagdá, ainda sustentado pelas tropas de ocupação, com as gigantes ocidentais de petróleo devem ser anunciados até o dia 30 de junho. Serão o fundamento para o primeiro trabalho comercial a ser assumido pelas empresas petrolíferas estrangeiras desde a invasão do Iraque pela máquina de guerra do Pentágono.
De acordo com a mídia dos EUA, isso abre as portas do Iraque, como um novo e potencialmente lucrativo mercado, às operações das gigantes de petróleo. Os contratos sem licitação (como aqueles conquistados pela Halliburton e outras corporações tão logo o país foi invadido) são incomuns na indústria do petróleo, devendo contemplalr também companhias da Rússia, China e Índia.
Por enquanto os contratos serão por prazos de dois a três anos. Pelos padrões da indústria petrolífera, como explicou o "Times", devem dar às companhias certa vantagem na disputa futura de outras concessões. De acordo com a análise de especialistas, o expediente em vias de ser anunciado oficialmente é a esperança maior dos EUA para elevar em larga escala a produção mundial de petróleo.
Para "agradecer" a invasão
Durante as discussões dos últimos dias sobre o salto dos preços de petróleo para o consumidor americano (que já está pagando em média, nos postos do país, mais de quatro dólares por galão de gasolina), a Fox News tem repetido que os EUA têm de convencer o Iraque a "agradecer" o governo Bush pela invasão, redobrando o esforço para assegurar um grande salto na produção de petróleo.
A reportagem publicada pelo "Times" foi enviada de Bagdá pelo jornalista Andrew E. Kramer. A certa altura, afirma textualmente: "Sempre houve a suspeita entre muita gente no mundo árabe e mesmo no público americano de que os EUA forçaram a guerra contra o Iraque precisamente para garantir a riqueza petrolífera que esses novos contratos pretendem extrair".
O governo Bush repetia à exaustão que a guerra era necessária para desarmar o Iraque, destruindo suas armas proibidas (as fantasiosas ADM que a Casa Branca alegava serem ameaça aos EUA e outros países); para combater o terrorismo (que só chegou ali com os combatentes da al-Qaeda, depois da invasão dos EUA); e para "disseminar a democracia no Oriente Médio".
Não se sabe com precisão, como observou Kramer, que papel as autoridades dos EUA desempenham, por baixo do pano, para forçar essas concessões petrolíferas em favor das multibilionárias corporações de petróleo. Mas já antes da guerra tais empresas participavam ativamente de reuniões com autoridades dos EUA sobre as "oportunidades de negócios" a serem abertas no Iraque.
Exxon comanda o saque
Conselheiros americanos, mesmo buscando manter perfil baixo, continuam ativos no ministério do petróleo do Iraque. Atribuem-se a eles até a redação das leis daquele país sobre a exploração do petróleo. Ao mesmo tempo, altos executivos de pelo menos duas grandes companhias ocidentais, admitiram que estão "ajudando" o Iraque a refazer suas instalações petrolíferas obsoletas.
Segundo um analista de petróleo ouvido pelo "Times" - David Fyfe, da Agência Internacional de Energia, sediada em Paris - a produção petrolífera do Iraque pode elevar-se a 3 milhões de barris por dia (atualmente é de 2,5 milhões), mas isso talvez exija mais tempo do que os seis meses de uma estimativa do ministério do petróleo. Em alguns anos chegaria a 4 milhões. E com o acréscimo de mais campos, a 6 milhões.
Qualquer que seja o desdobramento, terá gosto de marcha-a-ré. Pois as quatro gigantes petrolíferas que lideram o retorno são as mesmas que Saddam Hussein expulsou do país há 36 anos, ao nacionalizar o petróleo. Lee Raymond, executivo-chefe da Exxon, exaltou no ano passado o Iraque como um produtor potencial. "Nós sabemos, estivemos lá. Eles de fato têm uma enorme quantidade de petróleo".
Fonte: Tribuna da Imprensa.
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