quarta-feira, 20 de agosto de 2008

ARTIGO - Uma questão de integridade.

Uma questão de integridade.
por Doug Rokke, Ph.D. [*].

"Parta para o front", estas palavras que ressoavam na minha cabeça recordavam-me as experiências no Vietname quando, em Novembro de 1990, depois de ter respondido ao apelo do tenente-coronel para o qual trabalhava nas tropas de reserva, retomava meu posto no laboratório de investigações em física da Universidade de Illinois. Sabia que isso aconteceria após a invasão do Kuwait pelo Iraque em Agosto de 1990. Contudo, ignorava quando seria convocado. No dia de Acção de Graças de 1990 eu estava novamente a caminho da guerra, como em 1969. Hoje, sou um oficial retirado, inapto para o serviço e afectado ao serviço médico da reserva. Enquanto antigo enfermeiro na activa, especializei-me em medicina nuclear, operações militares nucleares, biológicas e químicas (NBC), informações e medicina de urgência sobre o terreno.

Quando explodiu a primeira guerra do Golfo, em Agosto de 1990, recebi primeiro uma ordem para ensinar as operações NBC ao quarto exército dos Estados Unidos. Finalmente, fiquei adstrito ao serviço activo e fui enviado à Arábia Saudita com a ordem de "trazê-los vivos para casa". O contraste não poderia ser maior com as minhas tarefas de navegador de um bombardeiro B-52 durante a guerra do Vietname, que consistir em optimizar o funcionamento dos sistemas de armas mortais. Enviado como médico perito em radiofísica médica sanitária na Arábia Saudita, fui afectado à equipe profissional do 12º comando de medicina preventiva (MP). O 12º MP era responsável por todas as medidas médicas preventivas no interior da zona de combate. Éramos como um serviço de saúde pública. Também fui afectado a três equipes de operações especiais: a tropa de ataque Bauer, a equipe de investigações sobre o urânio empobrecido e a equipe das armas tomadas ao inimigo.

Atraso nos cuidados médicos concedidos aos feridos

Hoje, 17 anos após o fim da operação "Tempestade do deserto", dos combates travados em 1994 e 1999 no Balcãs e após uma segunda guerra do Golfo que não acaba (operações Liberdade para o Iraque e Liberdade Imutável), lamento que o tratamento médico de "todas" as vítimas, civis e militares, e a reparação de todos os danos causados ao ambiente sejam adiados, recusados ou, em numerosos casos, ineficazes. Até Maio de 2007, mais de 408 mil cidadãos dos Estados Unidos pediram cuidados médicos e uma pensão devido a ferimentos e doenças contraídas em combate (www.va.gov «May 2007 GWVIS Report»).

Os problemas médicos (diagnostics ICD-9) constatados junto a mais de 300 mil vítimas de doenças ou ferimentos não devidos aos combates (DNBI) entre Fevereiro de 2002 e Dezembro de 2007 (Analysis of VA Health Care Utilization Among US Global War on Terrorism [GWOT] Veterans; Operation Enduring Freedom, Operation Iraqi Freedom; VHA Office of Public Health and Environmental Hazards; VA; January 2008) compreendem as seguintes doenças: doenças contagiosas e parasitárias, neoplasmas malignos, neoplasmas benígnos, doenças dos sistemas endócrino, nutricional e metabólico, doenças do sangue e dos órgãos que asseguram a formação dos elementos constituintes do sangue, doenças mentais, doenças do sistema nervoso/dos órgãos dos sentidos, doenças do sistema uro-genital, doenças da pele, doenças dos sistemas muscular e esquelético, das articulações, sintomas, sinais e estados mórbidos mal definidos, ferimentos/envenenamentos. Um relatório do exército de 6 de Abril de 2008 redigido por Kelly Kennedy e intitulado "Reservistas embaraçados pelos critérios a cumprir para terem direito a uma pensão de invalidez" revela que se libertaram muitos soldados feridos ou doentes sem lhes dizer que tinham direito a uma pensão de invalidez. Kenneth Cox, coronel da aeronáutica dos Estados Unidos, constatou com tristeza que funcionários do Ministério da Defesa retardavam intencionalmente diagnósticos médicos de traumatismo craniano (Gregg Zoroya: «Colonel: Pentagon delayed brain injury exams», «USA Today» du 18/3/08).

Os comandantes foram advertidos

Desde 1991, os autores de numerosos relatórios do Ministério da Defesa constataram que os comandantes médicos e tácticos não estavam conscientes dos riscos que faziam correr as armas de destruição maciça (armas NBC) e nunca disseram nada dos seus efeitos sanitários e ambientais negativos. Ora, eles foram advertidos! Nós recomendámos um tratamento médico imediato e a longo prazo. Descrevemos os riscos possíveis e seus efeitos negativos previsíveis sobre a saúde e o ambiente nas comunicações escritas e aquando dos nossos cursos. Estes cursos abrangiam o 3rd US Army Medical Command (MEDCOM) et le 3rd US Army Central Command (Arcent) Medical Management of Chemical and Biological Casualties Course (www.gulflink.osd.mil/) o NBC-E Defence Refresher Course, o Combat Livesaver Course e o Decontamination Procedures Course. De Dezembro de 1990 a Fevereiro de 1991 ensinámos a mais de 1200 militares afectados a diferentes unidades e ao estado maior de combate. Expliquei os cenários das ameaças e descrevi os problemas colocados pelas armas NBC. De Dezembro de 1990 a 25 de Fevereiro de 1991, ensinei no quadro do curso sobre as armas NBC, do curso de salvação em combates e do curso de descontaminação. A maior parte dos comandantes, o pessoal médico e as pessoas com afectação especial em todos os níveis sabiam portanto o que se poderia esperar e como era preciso reagir a toda eventualidade.

Continua-se a utilizar armas com urânio

Se bem que a Comissão dos Direitos Humanos da ONU considere as munições com urânio empobrecido (depleted uranium, DU) como armas ilegais, elas continuam a ser utilizadas, contaminando o ar, a água, o solo e os alimentos e deteriorando a saúde. A contaminação por estas armas resultando de operações do exército dos Estados Unidos foi confirmada em dois lugares do Hawai, depois de ter sido primeiramente constestada (www.armytimes.com/news/2007/08/ap_hawai). Durante o Verão de 1991, as forças armadas americanas haviam reunido em Camp Doha, no Kuwait, nomeadamente artilharia, carros, veículos de combate Bradley, munições convencionais e não convencionais e camiões. Na sequência de negligências, este depósito de armas incendiou-se. Isto resultou em explosões provocando mortos, feridos, doentes e vastas contaminações do ambiente por DU, explosivos clássicos e munições não convencionais. Recentemente, o emirado do Kuwait exigiu que o Pentágono eliminasse as contaminações. Em consequência, mais de 6700 toneladas de areia e outras matérias contaminadas foram reunidas e transportadas para os Estados Unidos, onde a firma American Ecology os enterrou em Boise, no Idaho.

Riscos dissimulados intencionalmente pelo governo dos Estados Unidos

Quando Bob Nichols, jornalista de investigação e eu próprio contactámos com a American Ecology, verificou-se que a empresa não tinha conhecimento da regulamentação 700-48 (US Army PAM-700-48), do Bulletin technique 9-1300-278 do Exército nem das instruções médicas referentes ao urânio empobrecido, à descontaminação do ambiente, à segurança e aos cuidados médicos. A empresa jamais havia ouvido falar tão pouco das directivas relativas aos resíduos mistos e perigosos, tais como as matérias radioactivas e os sub-produtos de explosivos clássicos (cf. «Approaches for the Remediation of Federal Facility Sites Contaminated With Explosives or Radioactive Wastes», EPA/625/R-93/013, Setembro de 1993, elaborados pelo US Environmental Protection Agency EPA). O transporte por mar, o descarregamento em Longview, no porto do Estado de Washington, o transporte ferroviário e o enterramento no Idaho punham em perigo não só os habitantes destas regiões como ameaçavam gravemente a agricultura introduzindo parasitas, micróbios, etc, estranhos ao nosso país.

Ambiente contaminado

Infelizmente, os perigos bem conhecidos que a contaminação pelas armas com urânio fazem pesar sobre a saúde e o ambiente já atingiram nossas zonas residenciais. A EPA increveu no seu Superfund National Priority List o antigo sítio de produção de armas com urânio Starmet, em Concord, Massachusetts, porque constitui um grande risco para a saúde pública e o ambiente. Em consequência, a comuna na qual nasceu a nossa nação em 18 de Abril de 1775 tornou-se o lugar no qual a fábrica – abandonada – de bombas sujas dos Estados Unidos constitui um perigo para a saúde e a segurança dos descendentes dos nossos primeiros patriotas, os "Minutemen" [1] .

É incrível que funcionários do Ministério da Defesa recusem aplicar as suas próprias directivas, que exigem um tratamento médico imediato. («Medical Management of Army Personnel Exposed to Depleted Uranium», Headquarters US Army Medical Command du 29 avril 2004; e a directiva anterior «Medical Management of Unusual Depleted Uranium Casualties» DOD, Pentagon, 10/14/93). Eles recusam-se ainda a reparar os danos causados ao ambiente como exigem o US Army Regulation 700-48, Logistics, «Management of Equipment Contaminated With Depleted Uranium or Radioactive Commodities», Headquarters, Department of the Army, Washington DC 16 Septembre 2002 e o Department of the Army Technical Bulletin 9-1300-278: Guidelines for Safe Response to Handling Storage, and Transportation Accidents Involving Army Tank Munitions or Armor which Contain Depleted Uranium, Headquarters, Department of the Army, July 1996.

Toneladas de resíduos radioactivos eliminadas em outros países

De facto, os militares americanos "eliminaram" ilegalmente toneladas de resíduos radioactivos em outros países que ignoravam as consequências. O principal manual de treino do exército dos Estados Unidos STP 21-1-SMCT: Soldiers Manual of Common Tasks precisa: "A poluição pelo urânio empobrecido torna inutilizáveis os alimentos e a água". [Número de tarefa: 031-503-1017 «Respond to depleted uranium/low level radioactive materials (Dullram) hazards»]. Esta confirmação mostra que as munições jamais deveriam ser utilizadas, porque o envenenamento dos alimentos e da água afecta para sempre todos os homens. O problema é que os alimentos e a água contaminados nunca mais podem ser consumidos.

Confirmação da toxidade radioactiva e química do DU pelo exército americano

Chefe do exército também confirmaram a toxidade das munições com DU. Num memorando de 1º de Dezembro de 1992, o secretário adjunto da Defesa, Walker, mandatado pelo Senado, pediu ao director do US Army Environmental Policy Institute (AEPI), para investigar como reduzir a toxidade do DU. Este afirmou no seu relatório final "que nenhuma tecnologia disponível podia reduzir de maneira significativa a toxidade química e radiológica do DU. Tais são as características intrínseca do urânio". (AEPI Executive Summary, juin 1995). Instruções internas do Ministério da Defesa dadas pelo coronel J. Edgar Wakayama confirmam os graves efeitos sanitários e ambientais do urânio empobrecido ( www.traprockpeace.org/du_dtic_wakayama_Aug2002.html ). Estas constatações vêm apoiar declarações da Comissão dos Direitos Humanos da ONU segundo a qual a utilização das munições com DU é ilegal. ( www.traprockpeace.org/karen_parker_du_illegality.pdf )

Os pedidos do projecto americano relativo ao DU

As inquietações contínuas relativas aos efeitos nocivos bem conhecidos do DU sobre a saúde e o ambiente, a insuficiência confirmada da preparação dos militares e os resultados do estudo da AEPI, tudo isso conduziu a por de pé o US Army Depleted Uranium Project. Em reacção às questões do Congresso e por ordem do secretário adjunto da Defesa, fui chamado ao serviço activo em 1 de Agosto de 1994 como chefe do referido projecto, a fim de:

1- Por à disposição um treino suficiente dos soldados que pudessem entrar em contacto com armas com DU.
2- Por à disposição testes médicos completos destinados aos soldados que haviam sido expostos a munições com DU durante a guerra do Golfo.
3- Elabora, para as operações futuras, um plano de descontaminação dos materiais contaminados por DU.

Este projecto e o exame dos resultados de investigações anteriores confirmaram nossas conclusões e recomendações de 1991.
1- Toda contaminação por DU deve ser eliminada fisicamente de maneira a impedir exposições futuras às radiações.
2- Detectores de radiações especiais que detectam e medem a emissão de partículas alfa e beta, raios X e raios gama ao nível correspondente indo de 20 dpm (cpm) a 100 000 dpm (cpm) e de 1 mrem/hora a 75 mrem/hora devem ser adquiridos e distribuídos a todas as pessoas e organizações responsáveis por cuidados médicos e por descontaminação de ambiente onde se suspeite a presença de DU (urânio 238) e outros isótopos fracamente radioactivos. Os aparelhos padrão não detectam esta contaminação.
3- Todas as pessoas que inalaram ou poderiam ter inalado ou ingerido DU ou terem sido contaminadas por intermédio de ferimentos devem ser objecto de cuidados médicos para detectar todo envenenamento interno – móvel ou isolado – por DU.
4- Toda pessoa que entre em contacto com um material contaminado de qualquer tipo que seja, passe por cima ou trabalhe num raio de 25 metros deve portar uma protecção das vias respiratórias e da pele.
5- Os materiais contaminados e danificados não deveriam ser reciclados para fabricar novos materiais.

Não aplicação das directivas do Pentágono

Desde 1991, numerosas directivas dos Ministérios da Defesa ( www.spidersmill.com/gwvrl/ ) e dos Antigos Combatentes exigem, com base em instruções anteriores e, posteriormente, com base nos resultados e recomendações do estudo AEPI e do projecto DU, um tratamento médico e uma descontaminação do ambiente. Contudo – e apesar que os responsáveis dos referidos ministérios e aqueles das Nações Unidas terem sabido o que era preciso fazer – as observações, as provas fotográficas e os vídeos, as medidas radiológicas efectuadas no local, a experiência pessoal e os relatórios publicados demonstram que:
1- Os cuidados médicos não foram concedidos a todas a vítimas do DU.
2- O ambiente não foi descontaminado.
3- Os interessados não usam protecção das vias respiratórias e da pele.
4- Os materiais contaminados e avariados foram reciclados para fabricar novos materiais.
5- O treino e as informações não ocorreram senão parcialmente.
6- As directivas sobre as medidas de luta contra a contaminação não foram divulgadas nem aplicadas.

É preciso acabar com os esforços constantes dos altos funcionários dos Ministérios da Defesa, do Exército, da Energia e dos Antigos Combatentes dos Estados assim como de funcionários britânicos, canadianos e australianos e das Nações Unidas tendentes a impedir a tomada de consciência destes problemas e a livrarem-se da sua responsabilidade. O coronel Robert Cherry, antigo membro do Exército americano e responsável no Pentágono pela protecção contra a radioactividade, difundiu mensagens electrónicas cujo teor era o seguinte: "Ele [Doug Rokke] não era director do projecto do Exército americano relativo ao DU. Nenhum projecto jamais teve este nome". Esta mentira, assim como outras difundidas por altos funcionários de Pentágono, tem como finalidade perpetuar a utilização das armas com DU e desembaraçar-se da sua responsabilidade a propósito dos efeitos nocivos destas armas sobre a saúde e o ambiente desacreditando e destruindo todos aqueles que tentam incitar os funcionários do Pentágono a aplicarem as suas próprias directivas relativas aos cuidados médicos e à descontaminação do ambiente.

Desde há muito tempo os funcionários dos Ministérios da Defesa dos Estados Unidos, de Israel, do Canadá e do Reino Unido recusam com arrogância aplicar suas próprias regulamentações que exigem conceder um tratamento médico imediato e eficaz a todos aqueles que foram expostos a radiações. (Medical Management of Unusual Depleted Uranium Casualties, DOD, Pentagon, 10/14/93, Medical Management of Army personnel Exposed to Depleted Uranium [DU] Headquarters, U.S. Army Medical Command 29 April 2004 e partes 2-5 do U.S. Army Regulation 700-48.) Infelizmente, após o recurso do Exército israelense a arma com DU aquando dos seus combates no Líbano, os responsáveis devem igualmente fornecer um tratamento médico às pessoas afectadas e eliminar os efeitos da contaminação sobre o ambiente.

Os responsáveis do Pentágono recusam-se a proceder a descontaminações como é prescrito pela AR 700-48 (cf. supra) e pelo TB 9-1300-278 (cf. supra). Em particular as partes 2-4 de l'AR 700-48 de 16 de Setembro de 2002 precisam que:
1- "os militares identificam, isolam, põem em segurança e etiquetam todos os materiais contaminados";
2- "procedimentos visando reduzir a dispersão da radioactividade devem ser tomados desde que possível":
3- "o material e os resíduos radioactivos não serão nem enterrados, nem imergidos, nem queimados, nem destruídos no local, nem abandonados";
4- "Todo o material contaminado, inclusive o material de combate ou tomado ao inimigo, será vigiado, embalado, repatriado, descontaminado e reposto em circulação (IAW TB 9-1300-278, DA PAM 700-48)"

Os responsáveis do Pentágono dissimulam as listas de materiais contaminados

Os responsáveis do Pentágono não mostram aos militares os vídeos de treino sobre DU pedidos pelo Congresso. Estes três vídeos – 1. Depleted Uranium Hazard Awareness, 2. Contaminated and Damaged Equipment Management e 3. Operation of the AN/PDR 77 Radiac Set – são essenciais para compreender os riscos que representam a utilização das armas com DU e os procedimentos de descontaminação. Os responsáveis do Pentágono devem mostrar estes vídeos a todos os militares que utilizam estas armas ou estão encarregados da descontaminação do material. A utilização passada e actual das armas com DU, as radiações emitidas por componentes de materiais militares americanos ou estrangeiros que foram destruídos e aqueles provenientes dos materiais radioactivos das instalações industriais, médicas e de investigação expuseram quantidades de pessoas a radiações inaceitáveis. Em consequência, a descontaminação deve ser realizada como exige a AR 700-48 e deveria incluir todo o material utilizado aquando de operações militares.

Os cidadãos do mundo inteiro devem elevar a voz

Não podemos continuar a não ter em conta os efeitos nocivos da utilização das armas com DU sobre a saúde e o ambiente. Nenhuma pessoa nem nenhum Estado tem o direito de dispersar toneladas de resíduos radioactivos tóxicos no ambiente do seu próprio país ou de países estrangeiros. Há uma questão à qual os responsáveis americanos, britânicos e australianos recusam-se a responder: Que direito têm eles de dispersar deliberadamente substâncias radioactivas em tal ou tal país e recusar a seguir proceder à descontaminação e a fornecer cuidados médicos a todas as pessoas que foram expostas às radiações.

Em consequência, os cidadãos do mundo inteiro devem falar a uma única voz para constranger os responsáveis dos países que utilizaram munições com DU a reconhecer as consequências imorais dos seus actos e assumir a responsabilidade de oferecer cuidados médicos a todas as pessoas expostas ao DUE e a limpar todas as zonas contaminadas na sequência de combates ou de actividades civis.

Estou frustrado por ver que não se reage às nossas advertências, aos nossos pedidos de cuidados médicos e de descontaminação do ambiente.

Por que continuar a exprimir estas reivindicações se os responsáveis americanos, britânicos, canadianos, australianos, das Nações Unidas e da NATO ficam indiferentes, continuando a negar a realidade a fim de evitar, por razões económicas e políticas, ter de assumir as suas responsabilidades. As forças da coligação aplicaram a tecnologia nos combates sem levar em conta os seus efeitos nocivos previsíveis. Os Estados Unidos transportaram para o Iraque agentes de destruição maciça, nomeadamente o antrax, difundiram substâncias químicas tóxicas nos combates, utilizaram munições com DU e agora os nossos responsáveis querem ignorar estes factos a fim de se livrarem das suas responsabilidades. Nós contaminámos a Terra. Nossas acções tiveram graves efeitos sanitários e ambientais. Meus esforços para cumprir a missão que me foi assinalada e para fazer com que os nossos responsáveis cuidassem das suas tropas saldaram-se por recusas, perdas de emprego, problemas familiares, o desaparecimento e talvez a destruição de relatórios médicos e pessoais e dos problemas de saúde. Eu próprio e centenas de milhares de outros militares recebemos agora cuidados médicos que chegam demasiado tarde ou são inadequados. Nós servimos nosso país e merecemos cuidados óptimos dos ferimentos e doenças contraídas durante nosso serviço. Ora, fomos abandonados, abusados! Sofro agora medidas de represália do Pentágono e do Ministério dos Antigos Combatentes porque recusei-me a respeitar o Memorando de Los Alamos de Março de 1991. Queriam que eu assegurasse que o DU podia ser utilizado no decorrer de operações militares e de actividades civis. Ora, no mesmo momento um memorando de um oficial da Defense Nuclear Agency mencionava sérios efeitos sanitários. Mas não estou só. Qualquer um que reclame cuidados médicos e a descontaminação do ambiente choca-se com represálias constantes e graves.

A guerra está obsoleta

Hoje devemos considerar a guerra como obsoleta pois não sabemos resolver os problemas colocados pelos efeitos nocivos à saúde e o ambiente devidos à utilização de armas que destroem as infraestruturas de um país e difundem venenos que afectam militares e civis. O custo humano da guerra é estarrecedor. Segundo relatório VA GWVIS de Maio de 2007, pelo menos 407.911 antigos combatentes das duas guerra dos Golfo, do conflito do Balcãs e do do Afeganistão que foram feridos ou caíram doentes têm de se bater para beneficiarem dos cuidados médicos que merecem por terem servido seu país. O relatório mais recente do Ministério dos Antigos Combatentes, intitulado "Analysis of VA Health Care Utilization Among US Global War on Terrorism (GWOT) Veterans; Operation Enduring Freedom, Operation Iraqi Freedom; VHA Office of Public Health and Environmental Hazards", de Janeiro de 2008, revela que mais de 299 mil antigos combatentes americanos têm graves problemas de saúde ligados à exposição às radiações que correspondem aos problemas de saúde diagnosticados nos veteranos da operação "Tempestade do Deserto" (1991). Infelizmente os cuidados médicos são ainda ineficazes para os dois grupos. Os problemas de saúde diagnosticados são o resultado de acções ou ausência de acções dos Estados Unidos. Assim, revelam-se graves problemas neurológicos. Eles são provavelmente devidos à exposição aos pesticidas – os soldados usam coleiras anti-pulgas – e à toxicidade do DU. Mas ninguém quer saber destes dois tipos de exposição, nem de outros.

Pois eles sabem o que fazem

Às centenas de milhares de vítimas americanas acrescentam-se centenas de milhares de não combatentes, sobretudo crianças, mulheres e pessoas idosas dos países que atacámos. Os problemas de saúde não se limitam aos soldados americanos, eles afectam todos os indivíduos que foram expostos.

Estimativas mundiais chegam a mais de dois milhões de vítimas, dos quais mais de um milhão de americanos que foram feridos ou caíram doentes. Milhares estão morto e eu contava com numerosos amigos entre estas vítimas. Em consequência, fazendo parte daqueles que pediram muitas vezes para limpar esta sujeira, experimento uma grande frustração por ver que os responsáveis do Pentágono e do Ministério dos Antigos Combatentes não aplicam os programas que desenvolvemos para proteger a nossa terra e tratar todas as vítimas.

Nossos filhos e nossas filhas responderam ao apelo do país nos muito casos que implicavam operações militares efectuadas sem justificação. Muito mais pessoas estão mortas e continuam a morrer enquanto outras que foram feridas, expostas a substâncias tóxicas e caídas doentes são abandonadas pelos responsáveis do nosso país, como se verificou muitas vezes no curso da história. Infelizmente, a maioria destes casos são classificados na rubrica "doenças e ferimentos não devidos aos combates" e são o resultado directo de nossas acções e de nossa ausência de acções. O custo humano aumenta porque muitos caíram doentes ou morreram depois de retornarem às suas casas e saberem o que se passa. Contudo, os chefes dos Ministérios da Defesa, do Exército e dos Antigos Combatentes recusam reconhecer o que se passou e não querem por em prática os programas que aperfeiçoámos para resolver os graves problemas sanitários e ambientais. Não se levam em conta numerosas directivas e regulamentos referentes à necessidade de conceder cuidados médicas às pessoas que foram expostas ao DU. Elas não serão tomadas e consideração pois pretende-se evitar assumir a responsabilidade dos problemas sanitários e ambientais causados pelos combates e pelas acções militares em tempos de paz.

Nossos "dirigentes" fracassaram

Quando o politicamente correcto e a vontade de evitar custos são utilizados para determinar quais cuidados médicos vão ser concedidos, quem vai se beneficiar, quando aquilo será feito e quando a descontaminação ambiental será efectuada, nós, soldados e civis, somos os perdedores. Nossos responsáveis decidiram ignorar os problemas na esperança de que estes desapareçam por si mesmos. O seu objectivo é evitar ter de responder pelos efeitos nocivos sobre a saúde e o ambiente dos seus actos deliberados e das guerras.

Recentemente o Pentágono criou o programa "Combatente ferido" para começar a resolver os problemas colocados pela recusa de cuidados, pelos atrasos ou pelos cuidados ineficazes concedidos aos nossos combatentes feridos ou doentes. Se os dirigentes do nosso país não tivessem abandonado os combatentes feridos, doentes e mortos devido às acções do Pentágono que se verificaram desde os primeiros dias da Segunda Guerra Mundial — veteranos vítimas de ensaios atómicos, guerra fria (projecto Shad), guerra do Vietname (Agente Laranja), operações Tempestade do Deserto, Liberdade para o Iraque e Liberdade imutável (urânio empobrecido, agentes químicos e biológicos, vacinas, matérias perigosas, pesticidas, armas de hiperfrequência, etc — não teríamos hoje um número impressionante de vítimas dissimuladas e abandonadas. Se bem que a equipe do programa "Combatente ferido" conceda assistência, ela ainda se recusa a ajudar a resolver os problemas fundamentais: recusa de conceder os cuidados médicos rápidos e eficazes às vítimas, atrasos, medidas de represálias e de destruição ou falsificação de relatórios.

Exijamos o fim deste pesadelo

Nossos dirigentes abandonaram os cidadãos americanos e os do mundo inteiro. Em consequência, creio que eles ignoram as palavras imortais pronunciadas por Lincoln no seu discurso de Gettysburg:

"Cabe antes a nós, os vivos, consagrar-mo-nos à tarefa ainda inacabada que eles até aqui tão nobremente cumpriram. Cabe antes a nós consagrar-mo-nos à grande tarefa que nos resta a fim de que estes mortos venerados nos inspirem uma devoção acrescida à causa que os fez dar a sua vida, a fim de que sejamos firmemente resolutos para fazer com que estes mortos não sejam mortos em vão; a fim de que esta nação, diante de Deus, renasça para a liberdade e que o governo do povo, pelo povo, para o povo, não seja apagado desta terra".
Hoje, como antigo combatente e patriota, rezo para que Deus responda ao nosso pedido de intervenção e leve nossos dirigentes a conceder os cuidados médicos necessários a todas as vítimas e a efectuar a descontaminação ambiental indispensável para a reabilitação dos nossos preciosos recursos naturais. Não cessarei jamais de fazer o que é bom para Deus e para os cidadãos do mundo inteiro porque tornou-se uma questão de integridade.

Se bem que eu tenha sido um "combatente para a guerra", devo hoje ser um "combatente pela paz". As três questões que cada um de nós se deve colocar são:
1- Quando os responsáveis dos Ministérios da Defesa e dos Antigos Combatentes reconhecerão os efeitos nocivos sobre a saúde e o ambiente das operações militares e concederão cuidados médicos rápidos e eficazes a todas as vítimas militares e civis?
2- Quando vão eles proceder finalmente a toda a descontaminação ambiental a fim de atenuar os futuros efeitos nocivos sobre a saúde e o ambiente?
3- Quando os cidadãos do mundo inteiro vão reclamar o fim deste pesadelo e encontrar o meio de viverem juntos na paz?

[1] Minuteman: Soldado colonial antes e durante a Guerra Revolucionária Americana.

[*] Nota biográfica:
"Retirado do Exército de reserva americano, com uma invalidez de 60%. Durante toda a minha carreira, meus objectivos foram fazer investigação, redigir instruções técnicas, programas de ensino e instrução, avaliar programas destinados a melhorar a preparação para os combates, efectuar reabilitações do ambiente e trazer cuidados médicos a todas as vítimas. Fui chamado a cumprir diversas missões perigosas:
1- Preparar, dirigir e avaliar missões sanitárias militares;
2- Assegurar que cada um estava preparado para a utilização de armas de destruição maciça;
3- Proceder à descontaminação do ambiente poluído pelo urânio e outras matérias perigosas;
4- Desenvolver os programas de conformidade ambiental do Exército americano e cursos a este respeito;
5- Dirigir o Depleted Uranium Project;
6- Dirigir os Laboratórios radiológicos Edwin R. Bradley, do Exército americano;
7- Desenvolver, ensinar e avaliar programas civis e militares de reacções de urgência ao emprego de armas de destruição maciça;
8- Desenvolver, após investigações, o programa do Pentágono de reabilitação ambiental dos sítios militares desafectados assim como cursos a este respeito". Doug Rokke

Ver também:

Urânio empobrecido: Bombas sujas, mísseis sujos e balas sujas
Urânio empobrecido, arma de extermínio da humanidade
O urânio empobrecido retorna aos EUA
Guerra do Iraque: Urânio empobrecido contamina a Europa
Carta de Leuren Moret ao Presidente Hugo Chavez
Afeganistão: O pesadelo nuclear principia
Os bárbaros e os civilizados
As armas utilizadas e os alvos atingidos pelos bombardeamentos israelenses
O caso do urânio empobrecido
As mortes silenciosas de militares italianos
Os efeitos das armas com urânio empobrecido usadas no Iraque

A versão em francês encontra-se em http://www.horizons-et-debats.ch/index.php?id=1095

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Nenhum comentário: