Apesar dos oito ouros do nadador recordista Michael Phelps, os norte-americanos não estão liderando o quadro de medalhas, como fizeram nas três últimas edições dos Jogos Olímpicos. A China, dona da festa, é a líder absoluta. Até esta terça-feira, são 43 medalhas de ouro chinesas, contra 26 dos Estados Unidos — um triunfo incontestável. A não ser para a ressentida imprensa norte-americana, cuja contagem deixa seu país na ponta.
Em vez de classificar os países pelo número de medalhas de ouro — como é de costume na maior parte dos países —, eles usam como base o número total de medalhas. Dessa forma, os Estados Unidos, com 79 pódios em Pequim, ficam à frente da China, com 76.
O COI (Comitê Olímpico Internacional) ordena os países pelo número de medalhas de ouro. Os quadros históricos da entidade também utilizam este sistema, apesar de as contagens serem, teoricamente, extra-oficiais, já que seguindo o espírito olímpico não poderia haver um ranqueamento de países.
Mas, na terra de George W. Bush, a ordem é mascarar, a qualquer custo, o grande êxito da China. Até o tradicionalíssimo jornal The New York Times exibe o quadro mantendo os norte-americanos em primeiro pelo total de medalhas. O Sports Illustrated, braço esportivo da rede CNN, faz igual. E não são os únicos. Os diários Los Angeles Times e USA Today, entre outros, seguem a mesma linha.
Em contraponto, o site oficial da Olimpíada de Pequim usa os ouros como primeiro critério e tem a China como a primeira colocada em Pequim. Jornais de outros países que competem pelas primeiras posições também adotam esse padrão. É o caso do alemão Spiegel, do italiano Gazzetta dello Sport e da rede britânica "BBC".
O Brasil é o 39º no quadro de medalhas, com uma medalha de ouro e cinco de bronze. Caso o ranking fosse elaborado com base no total de conquistas, o Brasil estaria na 21ª colocação, com seis medalhas.
Derrota após quatro olimpíadas.
Esta é a 26ª edição dos Jogos Olímpicos. Os Estados Unidos só não participaram da edição de 1980, realizada em Moscou, na ex-União Soviética. Os americanos terminaram com a primeira colocação no quadro de medalhas em 15 oportunidades, somando 918 medalhas de ouro, 2262 no total. Em seguida, aparecem os próprios soviéticos, com 395 de ouro e total de 1010 — a Rússia entra em contagem separada.
Estados Unidos e União Soviética competiram entre si em oito edições olímpicas, com cinco vitórias soviéticas no confronto (1956, 1960, 1972, 1976 e 1988). Isso sem contar o triunfo, em 1992, da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), herdeira soviética. Nos confrontos diretos, os americanos levaram a melhor em 1952, 1964 e 1968.
Com a fragmentação soviética, a longa hegemonia americana parecia questão de tempo. O país venceu três edições consecutivas dos Jogos Olímpicos — 1996 (em casa), 2000 e 2004. Em Pequim, porém, a avalanche chinesa impôs uma nova ordem olímpica.
Faltando menos de uma semana para o fim das competições, a torcida começa a acreditar que a China pode superar com folgas os Estados Unidos e terminar na liderança do quadro de medalhas logo em sua primeira edição como anfitrião. Por enquanto, a liderança no número de ouros traz um clima de euforia entre os chineses, que lotam estádios de bandeiras vermelhas.
Apesar de decepções como a desistência do atleta Liu Xiang nos 110 metros com barreiras por conta de uma lesão, a China já realiza sua melhor campanha olímpica. Na edição anterior dos jogos, em Atenas, foram 32 idas ao ponto mais alto do pódio. Os americanos, apesar de terem muita chance no atletismo, podem ficar ainda mais atrás, já que os anfitriões têm boas chances de ouro no tênis de mesa, boxe e taekwondo.
Repercussão local.
A possibilidade de a China liderar o quadro de medalhas sempre foi bem vista pela torcida — mas muitos achavam que seria muito complicado diante da já conhecida tradição dos Estados Unidos nos esportes olímpicos. "A China nunca fixou o objetivo de terminar em primeiro lugar no quadro de medalhas. Ainda existem diferenças entre a China e as competições de elite em muitas modalidades", disseram fontes do comitê olímpico local faltando uma semana para o início dos Jogos.
Por outro lado, todos lamentam que a nação provavelmente não levará nenhum ouro no atletismo, um dos principais esportes dos Jogos Olímpicos. Ficando em primeiro ou não, a ascensão da China em termos de Jogos é evidente: o país foi quarto lugar no quadro de medalhas da edição de 1996, em Atlanta (16 ouros), subiu para terceiro em 2000, na cidade australiana de Sydney, com 28, e ficou em segundo há quatro anos, na capital grega.
Os únicos Jogos Olímpicos em que a China não levou nenhuma medalha foram os de 1948, em Londres, na sua primeira participação. A nação levou uma modesta delegação de 26 atletas, enquanto vivia uma guerra civil, às vésperas da Revolução Chinesa liderada por Mao Tsé-Tung.
Após décadas de isolamento, a China voltou aos Jogos Olímpicos no ano de 1984 e se destacou na cidade americana de Los Angeles ao ficar na quarta posição, com 15 ouros. Com cinco primeiros lugares, os chineses foram apenas figurantes na edição de 1988, em Seul, mas voltaram à elite novamente no ano de 1992, ao ficarem novamente em quarto, com 16 ouros.
Desta vez, o país pode entrar para a história ao terminar na liderança. Para ajudar, a imprensa chinesa vem dando destaque a medalhas em provas menos populares, tais como levantamento de peso e ginástica, com muitas imagens e entrevistas no canal estatal. Além disso, cada campeão olímpico tem um selo lançado pelo serviço postal do país quase 24 horas depois do triunfo.
Fonte:Vermelho.
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