* Rogério Simões.
Há poucos jornalistas hoje na Faixa de Gaza. Duas semanas depois de Israel lançar uma ampla campanha militar contra o território palestino, com bombardeios aéreos e invasão terrestre, com o declarado objetivo de interromper lançamentos de misseis do grupo Hamas, a imprensa estrangeira segue vetada. BBC, CNN, ITV, ABC, NBC, CBS, The New York Times, The Times, The Guardian, Le Monde, El Pais, a imprensa brasileira, argentina, japonesa etc, as agências internacionais, enfim, os grandes veículos de mídia estão limitados ao trabalho dos seus poucos correspondentes locais já baseados em Gaza.
Israel alega proibir a entrada de jornalistas estrangeiros por uma questão de segurança. Mas, quanto mais complexos tornam-se os eventos dentro do território, maior a necessidade de que jornalistas tenham acesso aos fatos, em um conflito que dia-a-dia desafia a política e a diplomacia. Acusações são feitas, pontos de vista conflitantes são apresentados, e a imprensa não pode cumprir o seu papel de tentar mostrar ao mundo o que realmente acontece no campo de batalha.
Nas mais recentes polêmicas, aparece, de um lado, o governo israelense. Do outro, as Nações Unidas, a Cruz Vermelha Internacional e outras entidades humanitárias, como a Oxfam. A ONU abandonou a assistência a civis palestinos, alegando que funcionários seus foram mortos pelas forças israelenses enquanto tentavam fazer seu trabalho. No mesmo dia, a Cruz Vermelha acusou Israel de não cumprir sua responsabilidade de ajudar civis sobreviventes de confrontos, depois que crianças palestinas foram encontradas junto aos corpos de suas mães, mortas em um ataque. Bombardeios mataram dezenas de civis ao atingir duas escolas da Organização das Nações Unidas, que também acusa Israel de bombardear um abrigo de refugiados, matando outras 30 pessoas, depois de tê-los evacuado de suas casa e os dirigido para o local. A Anistia Internacional acusou os dois lados de abusos contra a população civil palestina.
O governo israelense tem rebatido as acusações, mas promete investigá-las. Israel diz ainda que o Hamas tem usado civis palestinos como escudos humanos e que membros do grupo, ou pessoas ligadas a ele, têm interesse em associar o país a supostos crimes de guerra. Israel não chega a acusar a ONU ou a Cruz Vermelha de associação com o Hamas, mas sabe-se que os organismos internacionais de ajuda são vistos com suspeita pelo governo israelense. E a imprensa internacional? Continua proibida de entrar na Faixa da Gaza, limitada a um pequeno número de bravos repórteres locais, sem recursos suficientes para verificar o que realmente acontece no território.
Toda grande potência militar tenta, durante uma guerra, controlar o fluxo de informação nas áreas que domina. Na Guerra da Bósnia (1992-1995), os sérvios impediam a entrada de jornalistas ocidentais a leste de Sarajevo. No Iraque, os Estados Unidos praticamente exigiram que repórteres estivessem com suas tropas para poder trabalhar. Quem agisse de forma independente corria o risco de ser morto, como aconteceu com o britânico Terry Lloyd. Mas nesses conflitos, como em muitos outros, jornalistas seguiam fazendo o possível para cobrir os conflitos, circulando por áreas de combate, mesmo sabendo que poderiam perder a vida.
A diferença em Gaza é que se trata de uma área mínima, cercada pelo mar, por Israel e pelo Egito, que não quer problemas em seu território e mantém suas portas fechadas. Neste conflito, Israel define quem entra e quem sai. A população civil não sai. Jornalistas não entram. Israel fechou a Faixa de Gaza para jornalistas porque pode fazê-lo, porque seu controle sobre o território lhe permite esse poder sobre a informação. Outros países provavelmente fariam o mesmo, porque controlar a informação é vital em uma guerra. Pode definir seu resultado. Vence com isso a lógica militar, mas perdem a opinião pública, os feridos e as famílias dos mortos, que gostariam que as acusações de atrocidades, possíveis crimes de guerra e supostos erros cometidos em Gaza fossem devidamente, e rapidamente, esclarecidos.
Fonte:BBC
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