Por Luciano Martins Costa.
A imprensa parece ter comprado a guerra da bancada ruralista contra o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Tudo o que se noticia a respeito do ministro induz à imagem de que se trata de indivíduo de idéias erráticas e mais dado aos holofotes do que à ação. Mas existe aí muito mais em jogo do que o ego do antigo militante que foi transferido das praias cariocas para a Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Minc é hoje o único representante dos ambientalistas no primeiro escalão de um governo obcecado pelo desenvolvimento e sua fragilização diante da opinião pública pode levar o Brasil a decisões desastrosas em relação ao seu patrimônio ambiental.
Nesse cenário, torna-se ainda mais relevante o esforço feito pelo jornal O Estado de S.Paulo nos últimos dias para iluminar um pouco o tema. No domingo (7/6), a entrevista da secretária executiva do Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, contribuiu para restabelecer certa racionalidade que andava ausente no debate (ver aqui). Na edição de segunda-feira (8), é a vez da líder da bancada ruralista, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), expressar a opinião dos produtores rurais (ver aqui).
A partir dessas entrevistas, o leitor pode começar a formular uma idéia sobre o confronto que se trava no Congresso Nacional em torno da legislação de proteção ambiental e da proposta de legalização de terras na Amazônia.
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Mas falta muito para a imprensa dar uma contribuição efetiva ao debate, porque as frentes em disputa são muitas e complexas.
A bancada ruralista está apostando na municipalização do controle ambiental porque tem o poder em praticamente todos os municípios da fronteira agrícola amazônica. Seu poder foi composto pelo domínio da economia e dos meios de comunicação regionais, o que lhe permite eleger seguidamente os prefeitos nos municípios mais importantes.
Mas não se pode esquecer os assassinatos de líderes comunitários e militantes ambientalistas ocorridos nas últimas décadas como parte desse projeto de poder.
A intenção dos parlamentares que representam basicamente os criadores de gado e o agronegócio é usar essa influência para fazer um recorte por dentro da Amazônia e criar um fato consumado que deixaria Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e parte do Pará isolados da floresta, para mais adiante pleitear a exclusão dessas áreas da Amazônia Legal. Esse propósito vem sendo perseguido claramente há cerca de dez anos, mas a imprensa parece ignorá-lo, ou concorda com ele.
Entrevistas são uma boa fonte de informação, mas a reportagem no local ainda é a melhor maneira de contar uma história. E a imprensa anda muito longe da Amazônia.
Publicado originalmente no Observatório de Imprensa.
Fonte:Revista Fórum.
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