Mair Pena Neto
Não há dúvida de que o blog “Fatos e Dados” foi criado pela Petrobras no embate com a grande imprensa, que vinha municiando a oposição para sustentar a CPI que investigará a empresa. Nesse confronto, a imprensa acusou o golpe, condenando a iniciativa da Petrobras e mobilizando entidades para atacá-la.
O que vinha sendo publicado até agora não era nada de extraordinário, mas as denúncias sistemáticas já eram rebatidas pela Petrobras, que considerava que sua palavra não estava sendo adequadamente respeitada. A criação do blog foi a resposta mais extrema, com a publicação das perguntas e respostas enviadas pelos meios de comunicação.
A grande imprensa acusou a Petrobras de vazamento de informações por ela obtidas, em curiosa aplicação do termo. No jargão jornalístico, uma informação vaza quando não é intenção da empresa divulgá-la. No caso presente, a Petrobras é a fonte ouvida para as reportagens e tem todo o interesse que a sua versão dos fatos seja amplamente conhecida.
A Associação Nacional dos Jornais considerou quebra de confidencialidade a divulgação das perguntas enviadas pelos jornalistas invertendo a relação existente entre fonte e jornalista. Normalmente, é este que tem o compromisso de preservar sua fonte, direito que pode levar até aos tribunais em caso de processos.
O que sobressai nessa disputa Petrobras x imprensa é uma quebra de confiança entre empresa/fonte e jornais e jornalistas. Esta é uma questão importante para a imprensa e que exige reflexão. Se a empresa considerasse que as informações que prestava vinham sendo respeitadas não teria tomado iniciativa semelhante, que, pela reação desencadeada, tem um custo alto para ela.
O que passa a ficar em questão é a ética jornalística. Será que os jornais estão sendo corretos em suas matérias? Será que estão confrontando as informações e denúncias que recebem com as respostas que obtêm da empresa? Será que estão levando aos leitores fatos de interesse público? Se estes quesitos estão sendo respeitados não há porque temer o blog da Petrobras ou qualquer iniciativa semelhante.
A iniciativa da Petrobras é legítima e o único problema do blog seria o de divulgar perguntas e respostas dos jornalistas antes da publicação da matéria, o que prejudicaria uma investigação particular. Com a divulgação das entrevistas e consultas, a Petrobras elimina o furo jornalístico, já que dá a conhecer os fatos investigados antes mesmo de sua publicação.
Aparentemente, a empresa não perderia muito se publicasse as informações que prestou junto com a publicação da matéria. Com a agilidade do blog, poderia fazer isso em tempo real, deixando as duas versões, caso antagônicas, à disposição do julgamento público.
Nesse sentido, o blog da Petrobras, que tanta celeuma causou, pode se tornar uma ferramenta de melhoria da qualidade da imprensa, que funcionaria como um direito de resposta imediato, preenchendo uma lacuna deixada pela falta de legislação específica. Com a exposição da maneira com que apura e publica suas matérias, jornais e jornalistas seriam ainda mais responsáveis, garantindo ao público a melhor informação.
Fonte:Direto da Redação.
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