A OEA (Organização dos Estados Americanos) revogou após 47 anos a expulsão de Cuba. É uma vitória histórica de Cuba e da América Latina nesta quarta-feira hondurenha, 3 de junho de 2009, contra uma resistência obstinada dos Estados Unidos e sua secretária de Estado, Hillary Clinton, que se prolongou até o último instante. Expressa uma nova realidade continental e ao mesmo tempo a aprofunda, pondo na ordem do dia o fim do bloqueio americano contra a Ilha.
Por Bernardo Joffily
Fidel, 82, lucidez e astúcia de guerrilheiro Hillary embarcou para Honduras dizendo que “Cuba precisa abrir-se democraticamente antes de voltar ao sistema interamericano”. "Até o último minuto exerceu pressão para que a resolução fosse aprovada com condições sobre o ordenamento político, social e econômico de Cuba", conforme reportou Rolando Segura, jornalista da Telesul na reunião da noite de terça-feira na cidade hondurenha de San Pedro Sula.
Sorriso amarelo americano
A pressão não funcionou. A secretária de Estado viajou tarde da noite para o Egito (onde acompanha o presidente Barack Obama em outro abacaxi diplomático-imperial) maldizendo a impontualidade latino-americana, que não lhe permitiu ler o longo discurso que trouxera, mas sobretudo a obstinação latino-americana em reparar a injustiça cometida em 1962 sob comando dos EUA.
Portanto, Hillary já não estava presente quando a ministra hondurenha anunciou o resultado do grupo ministerial de trabalho. Coube a Thomas Shannon, secretário adjunto para Assuntos do Hemisfério e representante dos EUA na OEA (e proximamente embaixador dos EUA no Brasil) jogar a toalha. "Hillary Clinton pediu-me que expressasse seu orgulho por ter participado desta assembleia da OEA e do grupo de trabalho que aprovou a resolução", disse Shannon, com um sorriso amarelo.
Triunfo da unidade latino-americana
Foi uma vitória da justiça. A alegação americana, de que Cuba violaria direitos humanos, cai por terra diante da convivência da OEA com tiranias como as de Augusto Pinochet no Chile, Garrastazu Médici no Brasil e tantos outros. Aliás, se existe algum centro de violação de direitos humanos em território cubano, este é o campo de prisioneiros de Guantânamo, onde os EUA ainda hoje mantêm 240 prisioneiros da chamada "guerra ao terrorismo", submetidos a torturas que o ex-vice presidente Dick Cheney defende em público (quatro já se suicidaram, o último deles nesta quarta-feira; tinha 31 anos e enforcou-se após mais de sete anos encarcerado sem qualquer acusação), numa situação que o próprio Obama admite ser ilegal.
Porém a justiça por si não explicaria a vitória, já que não conseguiu impedir que a injustiça eternizasse durante 47 anos. A decisão da 39ª Assembleia Geral da OEA em Honduras foi sobretudo uma vitória da unidade dos latino-americanos.
Neste momento, dentre as 35 nações das três Américas, apenas os EUA não têm relações diplomáticas com Cuba. O último a reatá-las foi El Salvador, com a posse domingo do presidente Maurício Funes, da Frente Farabundo Martí – presenciada por Hillary em outra missão diplomática de engolir sapos latino-americanos.
A OEA de 1962 e a OEA desta quarta
Era bem outra a correlação de forças na 8ª Assembleia Geral da OEA, que votou a expulsão de Cuba, 47 anos atrás (31/1/1962). Meses antes, na Conferência de Punta del Leste, o chanceler da jovem Cuba revolucionária, Ernesto Che Guevara, ousara desafiar o império dos EUA sobre a organização. Acabara de fracassar o desembarque de mercenários vindos de Miami na Baía dos Porcos, com a missão de derrubar o novo poder e matar Fidel Castro. Os EUA ordenaram a expulsão da Ilha rebelde; e a OEA, submissa, aprovou.
Não sem resistência. Enquanto 14 países aprovaram a resolução, e Cuba, claro, votou contra, seis delegações se abstiveram. O Brasil do presidente João Goulart, representado pelo chanceler San Thiago Dantes, foi um deles. Os outros foram Argentina, Bolivia, Chile, Equador e México. Abster-se era o máximo de ousadia que o Tio Sam tolerava na OEA.
Nesta quarta-feira, era outra a América Latina que confrontou o imperialismo norte-americano na 39ª Assembleia Geral. Tão rebelde, tão decidida, tão segura de sua nova força e tão unida, apesar das futricas sobre "três posições", que foi a vez do império se curvar. A representação dos EUA sequer pôde se abster, pois seria expor ao mundo o seu isolamento. Teve de se contentar com algumas emendas pró forma no texto aprovado, que diz:
"A resolução 6 adotada em 31 de janeiro de 1962 na 8ª reunião de consulta de ministros das Relações Exteriores, mediante a qual se excluiu o Governo de Cuba de sua participação no Sistema Interamericano, fica sem efeito na Organização dos Estados Americanos."
Fonte:Site:O Vermelho.
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