Acho que nem na época da Revolução Cubana, faz mais de meio século, a pequena ilha do Caribe mereceu tanto espaço na imprensa brasileira. De uma hora para outra, Cuba foi colocada no centro do tiroteio político na abertura da campanha presidencial, a pouco mais de seis meses das eleições. Parece até que o destino de Cuba está sendo jogado no Brasil e que o futuro do Brasil depende do destino de Cuba.
Desde que o presidente Lula teve a má idéia de visitar Havana pela quarta vez em seu governo, e ainda por cima dar o azar de chegar bem no dia da morte do preso político Orlando Zapata, após uma longa greve de fome na cadeia, Cuba não saiu mais do noticiário e dos editoriais.
Cobra-se do presidente brasileiro a condenação do regime cubano e a defesa dos direitos humanos dos dissidentes como se ele fosse o secretário-geral da ONU ou o Papa. Por mais que Lula argumente com a não ingerência nos assuntos de outros países, o fato é que o episódio em si e, mais ainda, as suas infelizes e polêmicas declarações nas semanas seguintes, serviram de munição para seus adversários políticos e causaram danos aqui dentro e lá fora à sua própria imagem.
No momento em que a economia brasileira voltava a voar em céu de brigadeiro e a candidata do governo subia nas pesquisas, enquanto a oposição perdia o rumo, Lula dedicou-se nos últimos dias a defender o indefensável, sem que houvesse necessidade de se colocar no meio desta discussão sobre o grande drama cubano, que nada tem a ver com a vida e os destinos dos eleitores brasileiros.
“Nós agora agora só não podemos errar”, ouvi de mais de um membro do governo nos dois dias que passei em Brasília na semana passada. Pois a maneira como este assunto dos dissidentes cubanos está sendo tratado pelo presidente e pelo governo em nada contribui para trazer o debate político de volta aos temas que realmente interessam neste momento de definição do cenário eleitoral.
Claro que dissidentes políticos não podem ser comparados a presos comuns e que a greve de fome, que Lula já fez e agora condena nos outros, pode ser um último recurso de quem quer denunciar as condições carcerárias ou as arbitrariedades de uma ditadura.
Não consigo entender esta disposição de dar a cara a tapa de graça e comprar uma briga em que não se tem nada a ganhar. Mesmo que tudo isso não tenha nenhum efeito na campanha eleitoral, o que só saberemos nas próximas pesquisas, o simples fato de a situação em Cuba ganhar mais espaço no noticiário e nos debates do que a política econômica e o futuro dos projetos sociais no novo governo a ser eleito em outubro já é uma anomalia.
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