A serviço de dois senhores
“As opiniões e a atuação histórica do senador Jean Paul Prates (PT-RN) são contraditórias e incompatíveis com as políticas defendidas pela AEPET”.
Após a divulgação do balanço da Petrobrás, relativo ao resultado consolidado de 2023, a decisão de não distribuir imediatamente os dividendos extraordinários ofuscou o lucro líquido de R$ 124,6 bilhões, segundo maior na história da empresa. Felipe Coutinho, presidente da AEPET, voltou a afirmar que o lucro e os dividendos são frutos de investimentos do passado, mas que a atual política de baixos investimentos para elevada e insustentável distribuição de dividendos compromete a geração de caixa futura.
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No artigo “Direção da Petrobrás mantém investimentos baixos e dividendos insustentavelmente altos em 2023”, Coutinho afirma:
“Dos resultados históricos e comparativos, da Petrobrás e de grandes petrolíferas, permitem-se concluir que a redução dos investimentos, a níveis insuficientes para manter reservas e produção de petróleo, as vendas de ativos rentáveis, estratégicos e resilientes à queda do preço do petróleo e seus preços conjunturalmente elevados, possibilitaram pagamentos de dividendos altos e insustentáveis pela direção da Petrobrás em 2021, 2022 e 2023.”
E foi justamente a questão do valor dos dividendos a serem pagos que agitou a imprensa e a bolsa de valores na sexta-feira. O Conselho de Administração da Petrobrás decidiu em contrário da proposta do presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, sobre a distribuição parcial dos dividendos extraordinários. Prates propôs a distribuição de 50% do total de R$ 43,9 bilhões, mas a maioria do CA votou pela não distribuição imediata e constituição de caixa. E isso não quer dizer que o valor não será repassado aos acionistas, pode apenas postergar a distribuição.
O mercado especulativo respondeu derrubando o preço das ações da Petrobrás em 10%, enquanto a mídia corporativa manchetava a “indevida ingerência do governo”, na empresa pública. Lula convocou Prates para uma reunião na segunda-feira (11). Entre os muitos boatos, a queda de Prates chegou a ser especulada. Foto oficial, no fim do dia, desmentia o boato. Mas, segundo fontes da imprensa, Prates teria saído enfraquecido da reunião no Planalto e declarou que não trata mais publicamente da política de distribuição de dividendos.
Se teve que se curvar diante da vontade do governo, controlador da empresa, Prates também acenou para o mercado com a proposta do bloqueio de 50% dos dividendos extraordinários e, mais ainda, abstendo-se de votar no Conselho de Administração. Ora, seria impossível servir a dois senhores que, supostamente, têm visões diferentes e antagônicas.
Quando seu nome foi cogitado para a presidência da Petrobrás, em novembro de 2022, Prates trazia no currículo recente a atuação como senador e líder da Frente Parlamentar em Defesa da Petrobrás. Mas anteriormente a isso, Prates atuou com lobista de empresas concorrentes da Petrobrás e foi, inclusive, defensor do fim do monopólio da Petrobrás na exploração de petróleo, e da própria privatização da empresa, como foi demonstrado no artigo “ Jean Paul Prates revelado”, também de autoria de Felipe Coutinho, que terminava assim:
“As opiniões e a atuação histórica do senador Jean Paul Prates (PT-RN) são contraditórias e incompatíveis com as políticas defendidas pela AEPET”.
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