Sem títulos americanos, China deixa de ser maior credora dos EUA
A China dá sinais de que não está muito satisfeita com a crescente exposição de suas reservas em papéis atrelados ao dólar e pode deixar de contribuir para o financiamento do crescente déficit fiscal de Washington e a manutenção do status de moeda internacional gozado pela verdinha norte-americana. A nova potência asiática vendeu US$ 34,2 bilhões de títulos do tesouro dos EUA em dezembro passado.
Por Umberto Martins
Com isto, o Japão recuperou a posição pouco confortável de maior detentor de títulos da dívida norte-americana. De acordo com informações do Tesouro dos Estados Unidos da América, o Japão possui 768,8 bilhões de dólares em Obrigações do Tesouro americano.Má notícia para o dólar
A China era anteriormente a maior credora do império, que por sua vez transformou-se no maior e mais voraz devedor do mundo. Na última década, a China investiu fortemente em títulos de dívida pública dos EUA. Em finais de 2001 detinha 79 bilhões de dólares, montante que foi crescendo até alcançar cerca de 801.500 milhões em maio de 2009.
Desde então, desfez-se de 46,1 bilhões de dólares (a maior redução pelo menos desde 2000), sendo que só em dezembro passado vendeu 34,2 bilhões de dólares. Atualmente, a China detém 755,4 bilhões de dólares de dívida norte-americana. O maior desinvestimento chinês deu-se na dívida de curto prazo, que vence em prazo inferior a um ano. Os chineses absorveram cerca de 47% das emissões de novos títulos estadunidenses em 2006, 20% em 2008 e apenas cerca de 5% (estimados) no ano passado
Não são poucos os observadores que consideram o fato da China vender dívida norte-americana "uma má notícia para o dólar e para o mercado de dívida pública estadunidense", especialmente num contexto de déficit e desequilíbrio fiscal crescentes. Afinal, os EUA precisam de muito dinheiro estrangeiro para fechar as contas e evitar o colapso do padrão dólar.
Desconfiança
Pode ser que o governo chinês decidiu que é hora de abandonar o perigoso jogo de refinanciamento da dívida imperial, e orientar suas reservas para a aquisição ativos reais, mais atraentes e sólidos do que os títulos emitidos pela Casa Branca, que Marx incluiria na conta do capital fictício.
Ainda é cedo para ser taxativo a este respeito, mas se as coisas tomarem esta direção, surgirão novas dificuldades para o financiamento do déficit governamental dos EUA e será bem mais difícil preservar o “estropiado padrão dólar” (conforme a definição do jornalista Celso Ming no Estadão, 17-2, B2), que tende a uma depreciação ainda maior.
Neste novo cenário, os juros devem subir. O Morgan Stanley prevê que os rendimentos dos títulos de 10 anos no país deve se elevar de cerca de 3,5% a 5,5% neste ano. “Sobre uma dívida federal bruta se aproximando rapidamente de $1,5 milhão de milhões, isso significa mais de $300 mil milhões de pagamentos de juros adicionais – e chega-se lá bem depressa com o vencimento médio da dívida hoje inferior a 50 meses”, calculou o jornalista Niall Fergurson, editor e colaborador do Financial Times.
É provável que o recente prognóstico da agência de classificação de risco Moody´s Investors Service, de um futuro rebaixamento do crédito do Tesouro, vai demorar se transformar em realidade mais cedo do que se imagina.
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