Comovente tributo à obra de Chico Buarque
O convite do amigo Wagner Homem, o popular Cachorrão, veio por e-mail:
“Caro Ricardo. Montei um show baseado no meu livro Chico Buarque – Histórias de Canções. Nele Rogério Silva toca violão e canta e eu vou ponteando com histórias entremeadas com áudios documentais, alguns raros como, por exemplo, o momento em que surge a canção “Vai Passar”, e trechos da famosa entrevista que Chico deu ao jornal Última Hora como Julinho da Adelaide.
Vou fazer dois ensaios, nas datas e endereços abaixo, apenas para amigos e alguns convidados da área de shows e gostaria muito de contar com sua presença e depois ouvir sua opinião”.
Ainda encantado e comovido com o show que acabara de assistir na noite desta sexta-feira, no pequeno auditório do Clube Helvetia, fui embora rapidamente e deixei para dar aqui no Balaio a minha opinião por escrito.
Foram duas horas memoráveis de uma viagem pelos melhores tempos da música popular brasileira em que tive o privilégio de embarcar, junto com umas outras trinta testemunhas, que certamente não esquecerão tão cedo desta noite.
Posso estar enganado, porque me empolgo ou decepciono com muita facilidade, mas tenho a impressão de ter visto nascer um belíssimo espetáculo, que deverá rodar o Brasil e ficar em cartaz por muito tempo.
É tudo muito singelo: no palco, apenas duas cadeiras e duas mesinhas, uma acanhada aparelhagem de som, um roteiro com as histórias das canções, a “cola” que Cachorrão vai desfolhando e jogando no chão, e um violão, fantásticamente tocado por Rogerio Silva, levando a platéia a cantar junto com eles.
Administrador de empresas formado pela FGV e trabalhando atualmente na área de Tecnologia da Informação, amigo de Chico há mais de vinte anos e responsável pelo site do compositor desde que foi criado em 1998, Wagner Homem, 51 anos, paulista de Cataduva, foi reunindo estas histórias dos bastidores no link “notas” (ver no www.chicobuarque.com.br), que deu origem ao livro.
No ano passado, chamou Rogério para dar uma palha nas noites de lançamento de Histórias das Canções, editado pela Leya, e foi daí que surgiu a idéia do show apresentado pela primeira vez no Helvetia.
Com a simplicidade de quem conta histórias de amigos anônimos no boteco da esquina, Wagner consegue, ao mesmo tempo, fazer a platéia cantar, rir e chorar, lembrar e refletir sobre um tempo tenebroso da nossa história _ a ditadura militar dos anos 60 e 70 do século passado _, sem nunca perder o bom humor, mesmo ao falar das maiores arbitrariedades e violências enfrentadas, não só por Chico, mas por Tom, Vinicius, Toquinho, e seus outros parceiros de canções e de vida.
Nem o próprio Chico Buarque, acredito eu, faria melhor do que a dupla Wagner e Rogério para resgatar em prosa e verso os clássicos deste que é para mim o mais brilhante artista popular brasileiro da nossa geração. É um show para ser visto principalmente pela chamada geração 68, de preferência em companhia dos filhos e, se possível, dos netos, para que nunca esqueçamos como chegamos até aqui, qual foi o caminho percorrido, como é bom viver em liberdade.
Por essas boas coincidências da vida, tive o privilégio também de ter sido colega de ginásio do Chico, no Colégio Santa Cruz, dos visionários padres canadenses que fizeram nossas cabeças, onde o Carioca, como o chamávamos, era mais aplaudido como jogador de futebol do que como cantor. Lá estudaram também minhas filhas e agora está minha neta mais velha, uma linha do tempo que o show do Cachorrão e do Rogério me permitiram refazer.
Só vendo para saber do que se trata. Sou meio suspeito para dar opinião, pois sou amigo do artista e não sou do ramo, mas acho que o show está pronto para estrear _ se melhorar, estraga.
Antes da estréia, em março, ainda haverá um novo ensaio aberto na próxima quarta-feira, na Livraria Cultura do Shopping Pompéia, às 19h30. Se eu fosse você, caro leitor, não perderia esta chance.
Mais informações sobre o livro e o show:
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