sábado, 20 de fevereiro de 2010

MÍDIA - As enchentes de São Paulo.

Do BLOG CRÁPULA MÓR.

As enchentes de SP e o viés partidário da mídia

As enchentes de SP e o viés partidário da mídia

A grande mídia no Brasil tem algum viés, desvio, tendência ideológico-partidária? É esta pergunta (e o pressuposto de que a resposta é sim) que move este blog. Há sinais de que os principais veículos de comunicação prestam um serviço republicano, denunciando descalabros dos dois principais campos políticos brasileiros: polarizados pelo PT e pelo PSDB, em nível nacional. Tanto o Mensalão do PT, de 2005, quanto o Mensalão do DEM, deste ano, ganharam forte repercussão na mídia. A administração da petista Marta Suplicy, em São Paulo, teve muitas de suas debilidades criticadas e expostas pelos jornalistas; o Governo Yeda, do PSDB, no Rio Grande do Sul, também passa por intenso desgaste. Maiores manipulações midiáticas não permitiriam estas comparações. Por outro lado, coberturas de temas como transferência de renda (Bolsa Família), MST, Privatizações, dentre outros, demonstram de maneira bem nítida um posicionamento enunciativo dos veículos.

Tais posicionamentos, na cobertura jornalística, relevam-se na seleção dos aspectos que são mostrados (ou omitidos), na abordagem de certos temas. Outra forma de os veículos de comunicação demonstrarem tendência partidária é adotando ou não teor político na cobertura de calamidades públicas, provocadas por falhas técnicas e estruturais. Este recorte analítico é eloqüente. Ontem (quinta-feira), por exemplo, o Jornal Nacional fez uma matéria sobre as enchentes de São Paulo e suas conseqüências. A matéria mostra situações trágicas: um rapaz desaparecido, trânsito caótico, rios transbordando, avenidas inteiras alagadas, ondas em pleno asfalto, carros e seus motoristas ilhados, pessoas arrastadas pelas águas ao tentarem ajudar o próximo etc. etc. Reportagens como esta freqüentemente mostram as causas estruturais destas enchentes: acumulação de lixo, bueiros entupidos, expansão descontrolada das cidades, falta de planejamento urbano, dentre outros.



Eu nunca vi uma matéria sobre este assunto mostrando um deputado do PT faturando eleitoralmente em cima das tragédias. Eu não acho que o certo seria mostrar o deputado do PT. Tampouco acho que o governador Serra e o prefeito Kassab são os únicos – ou mesmo os principais – responsáveis por tanto sofrimento. Portanto, não seria a mais adequada uma cobertura que hostilizasse o presidenciável tucano. Os dramas das famílias e o receio da população recomendam o tratamento mais técnico e sóbrio possível. Avaliações apaixonadas e utilização político-eleitoral do debate não contribuem. Entretanto, não é esta a regra que a grande mídia utiliza quando o problema atinge o outro campo político. A cobertura jornalística do blecaute de novembro do ano passado – que comparativamente causou muito menos danos aos cidadãos – foi absolutamente implacável com a Ministra Dilma. Inúmeras lideranças da oposição apareciam diariamente no mesmo Jornal Nacional, faturando eleitoralmente.

Dilma havia declarado em entrevista anterior ao blecaute que o Brasil não sofreria mais com apagões. Fato avidamente explorado por jornais, de todo o país. Sem a devida distinção entre blecaute (causado por interferências externas, como acidentes climáticos) e apagão (causado por falta de planejamento e investimento por parte do Governo). O PSDB fez propaganda em eleições anteriores sobre obras que, supostamente, iriam resolver o problema das enchentes, como a calha do Tietê. Eu poderia argumentar confortável e longamente que o Governo Lula fez investimentos eficientes no setor energético brasileiro, livrando o país do risco de desabastecimento; enquanto que os tucanos, há 16 anos governando SP, não fizeram os investimentos necessários para evitar enchentes. Mas, prefiro focar a questão do viés midiático neste texto. É prudente aceitar que ambos os problemas – apagões e enchentes – tem causas climáticas, incontroláveis, e causas estruturais, de responsabilidade dos governantes. O grave é que a responsabilidade política só é explorada pela mídia quando envolve um campo político.

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