GAZA
Israel bombardeou organizações humanitárias pelo menos oito vezes
Human Rights Watch diz que os ataques desde outubro mataram ou feriram pelo menos 31 membros de organizações de ajuda. Esta segunda-feira mais um funcionário da ONU foi morto quando ia a caminho do hospital em Rafah. No final de abril a ONU contabilizava 251 mortes entre trabalhadores humanitários.
Um funcionário do Departamento de Segurança da ONU foi morto e outro ficou ferido quando seguiam a caminho do Hospital Europeu de Rafah esta segunda-feira. Em comunicado, o porta-voz adjunto do secretário-geral da ONU condenou mais este ataque a funcionários das Nações Unidas e apelou a uma investigação ao sucedido.
Embora o exército israelita ainda não tenha admitido a autoria de mais um ataque a funcionários da ONU, este está longe de ser um caso isolado. Num comunicado também divulgado na segunda-feira, a Human Rights Watch contabiliza oito ataques feitos por Israel a localizações onde sabia que se encontrava pessoal de agências e organizações humanitárias desde outubro.
Estes ataques provocaram 15 mortos, incluindo duas crianças, e 16 feridos e foram feitos sem aviso prévio, apesar de Israel ter sido notificado pelas organizações da localização exata dos seus funcionários, como forma de os proteger.
Um dos bombardeamentos ocorreu a 18 de janeiro e feriu três pessoas numa casa de acolhimento gerida em conjunto por duas organizações de ajuda humanitária. Segundo a investigação da ONU ao incidente, as munições usadas eram de fabrico norte-americano e foram lançadas por um caça F-16, que usa componentes britânicos.
O caso mais mediático ocorreu a 1 de abril, quando a aviação israelita alvejou uma caravana da organização World Central Kitchen, que presta ajuda alimentar em Gaza. Sete trabalhadores humanitários foram mortos quando seguiam em veículos identificados com o símbolo da organização no tejadilho e num percurso previamente enviado às autoridades israelitas. O repúdio internacional ao massacre da ajuda humanitária levou Israel a reconhecer a autoria e a afirmar tratar-se de um erro.
Os outros casos documentados pela HRW são um ataque em novembro à caravana dos Médicos Sem Fronteiras, que viu também um abrigo atacado em janeiro e uma casa de acolhimento em fevereiro. Em dezembro os israelitas alvejaram uma casa de acolhimento da UNRWA, a agência da ONU para ajuda aos palestinianos que o regime sionista não esconde querer afastar do território. Esta organização viu também uma caravana atacada a 5 de fevereiro. A 8 de março foi ainda alvejada uma casa de acolhimento onde se encontrava um funcionário da American Near East Refugee Aid Organization (Anera).
No total, a ONU contabilizou no fim de abril 254 mortes de trabalhadores da ajuda humanitária, dos quais 188 pertenciam à UNRWA. Esta agência documentou 368 ataques a 169 instalações que opera em Gaza e além dos seus funcionários mortos, outros 429 refugiados que se encontravam nos seus abrigos morreram na sequência dos ataques. A estes há que somar as centenas de vítimas dos ataques israelitas aos locais onde os palestinianos se concentravam para ir buscar alimentos e ajuda humanitária.
Ataques enfraquecem apoio humanitário e transformam a fome em arma de guerra
O resultado prático destes ataques, além da tragédia para as vítimas e familiares, tem sido o enfraquecimento das estruturas de assistência humanitária em Gaza, dificultando ainda mais a distribuição da ajuda.
“A Human Rights Watch concluiu que as autoridades israelitas estão a utilizar a fome como método de guerra em Gaza. De acordo com uma política definida por oficiais israelitas e levada a cabo pelas forças israelitas, as autoridades israelitas estão a bloquear deliberadamente o fornecimento de água, alimentos e combustível, impedindo intencionalmente a assistência humanitária, aparentemente arrasando áreas agrícolas e privando a população civil de objectos indispensáveis à sua sobrevivência. As crianças em Gaza estão a morrer de complicações relacionadas com a fome”, diz a organização.
Além de apelar à divulgação das conclusões dos inquéritos israelitas aos incidentes documentados, a HRW insta as autoridades de Israel e da Palestina a cooperarem com o inquérito do Tribunal Penal Internacional aos crimes cometidos pelas partes no conflito e a permitirem uma investigação de peritos independentes a estes ataques, incluindo o acesso completo às comunicações que ocorreram antes, durante e após os ataques. Aos estados que apoiaram militarmente estes ataques, como os EUA e Reino Unido, a organização apela à suspensão da venda de armas e assistência militar a Israel, enquanto o seu exército continuar “a cometer uma sistemática e alargada violação das leis de guerra contra civis palestinianos”. E avisa que “os governos que continuam a fornecer armas ao governo israelita arriscam-se a ser cúmplices de crimes de guerra”.
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