Por mais que muita gente não acredite, a previsão do tempo frequentemente acerta e vale a pena ficar de olho. No final de abril, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e a MetSul Meteorologia divulgaram previsões de altos volumes de chuva e até alertas de risco de enchentes no Rio Grande do Sul. Efetivamente, no Vale do Taquari, os estragos começaram já na madrugada do dia 29 de abril, quando as precipitações atingiram 200 milímetros e duas mortes foram registradas.
Em seguida, a calma orientação das autoridades pedia às pessoas que ficassem em casa, mas os alertas de mau tempo, instabilidade e grande volume de chuva seguiam. E em pouco mais de uma semana, a situação se agravou enormemente e não adiantou apenas ficar em casa.
No dia 1º de maio, com os atos do Dia do Trabalhador cancelados em algumas cidades do RS, a enchente já era reconhecida como a quarta maior no estado desde junho de 2023, com 107 municípios afetados e, agora, um tom de emergência vindo das autoridades. Nas informações do Metsul, os acumulados extremamente altos de precipitação provocariam uma situação de desastre de grandes proporções no estado gaúcho. E foi o que aconteceu.
Já no dia 2 de maio, o que já era tarde, foi decretado estado de calamidade pública no RS pelo que estava sendo considerado o 'maior desastre do estado', nas palavras do governador Eduardo Leite (PSDB). De fato, enchentes, rios transbordando, deslizamento de terra e cidades submersas eram o cenário do estado.
Conforme o governador, “estamos vivendo um momento muito crítico. Em setembro do ano passado, tivemos uma enxurrada muito severa, mas o tempo abriu em seguida, o que nos deu condições de entrar em campo mais rapidamente. Neste momento, temos muitas dificuldades operacionais para fazer os resgates”. De lá para cá, as águas tomaram a capital do estado, Porto Alegre, e diversos outros municípios.
É bastante curioso que ele reconheça que houve um momento crítico há apenas 8 meses e, de lá para cá, não tenha feito algo para evitar novas ocorrências. Pelo contrário, o governo do estado ativamente ignorou um relatório feito pela Assembleia Legislativa, pedindo medidas como maior investimento nas áreas de prevenção, na área da defesa civil e uma legislação mais rígida com a questão da preservação ambiental, por exemplo.
Além disso, em 2019, Eduardo Leite limou ou alterou 480 pontos da lei ambiental do estado, atropelando o Código Ambiental do Rio Grande do Sul. À época, Luciana Genro (Psol) disse que o RS estava "na contramão de uma onda mundial, que é de valorização e de preocupação com a causa ambiental", acrescentando que a aprovação do projeto seria "uma irresponsabilidade que terá um preço elevado".
Para Leite, o que está ocorrendo agora é apenas uma tragédia climática e considera “injusto culpar a legislação local” por uma enchente em mais de 400 municípios, com mais de 100 fatalidades e mais de 1 milhão de gaúchos afetados, sendo 230 mil desabrigados até o fechamento desta newsletter.
Vale dizer que esse não é o mesmo pensamento da população, já que 68% dos entrevistados na pesquisa Genial/Quaest desta semana considera que o governo do estado, liderado por Leite, é o principal responsável pela calamidade que assola o estado há mais de uma semana.
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