Bom dia, pessoal!
Todo mundo odeia quando acaba a luz, mas normalmente depois de algum tempo – às vezes muito tempo – ela volta. Agora imagine esperar mais de 30 dias para ela voltar.
Algumas cidades em regiões remotas da Amazônia estão fora do sistema nacional de energia e dependem do fornecimento de termelétricas com a queima do biodiesel feito a partir do óleo de palma. Mas, para gerar energia, o combustível precisa viajar do Pará, onde a maior parte das indústrias estão instaladas, até regiões isoladas onde ficam as usinas. Em localidades do Amazonas, o prazo de entrega desses combustíveis pode superar os 30 dias.
O problema é que a Brasil BioFuels (BBF), principal fornecedora do combustível, enfrenta uma crise financeira após bancos suspenderam financiamentos por suspeita de violação de direitos humanos. Com a crise, o risco de essas cidades ficarem sem luz aumentou.
A cadeia produtiva do óleo de palma tem um histórico de disputa de terras entre povos tradicionais e a agroindústria instalada no norte do país. Indígenas, quilombolas e ribeirinhos locais argumentam que as plantações de palma das empresas estão sobrepostas a territórios tradicionais.
Um dos mais graves episódios do conflito ocorreu em agosto do ano passado, um dia antes de começar a Cúpula da Amazônia, quando três indígenas da etnia Tembé foram baleados na entrada da BBF em Tomé-Açu (PA). O Conselho Nacional de Direitos Humanos investigou o incidente e emitiu uma recomendação aos bancos credores da BBF para suspender financiamentos à empresa e instaurar processos administrativos sobre eventuais violações contratuais.
Com o fim dos financiamentos, a BBF entrou em uma crise que colocou em risco o abastecimento dos biocombustíveis das termoelétricas que geram energia para as cidades isoladas da Amazônia.
Diante da possibilidade de suspensão do fornecimento de energia, a diretoria da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) autorizou no fim de março, o repasse direto dos custos com combustível para os fornecedores da BBF de forma temporária.
“A situação econômico-financeira atravessada pela BBF é insustentável no médio e longo prazos. A solução proposta é temporária, visa atender a um risco iminente de que a falta de combustível acarrete o desabastecimento de energia nas localidades atendidas pela BBF”, diz o documento.
Combustíveis alternativos ao petróleo, como o biodiesel de palma, são opções que vêm ganhando espaço nos últimos anos na corrida pela transição energética. Fabricantes de biodiesel de palma querem abastecer o mercado de combustíveis da aviação com investimentos de R$ 2 bilhões.
Mas é preciso assegurar que sua produção não seja apenas greenwashing, ou seja, estratégia de marketing que destaca ações sustentáveis em companhias para desviar o foco de práticas que geram danos ambientais, sem garantir respeito aos direitos humanos e às normas trabalhistas.
Vale lembrar que a crise da fabricante de biodiesel começou com uma investigação sobre suposta violação de direitos humanos. Consultada pela Repórter Brasil, a BBF não quis se manifestar sobre o assunto.
Aqui na Repórter Brasil publicamos uma reportagem que mostra que fabricantes do óleo de palma também são alvo de milhares de ações na Justiça do Trabalho do Pará. Os trabalhadores da cadeia reclamam das condições de trabalho e pela falta de transparência no cálculo de pagamentos. Confira aqui!
Boa leitura!
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