segunda-feira, 21 de julho de 2008

ECONOMIA - Reservas mundiais de divisas.

Países do Sul concentram reservas mundiais em divisas criar PDF versão para impressão enviar por e-mail
21-Jul-2008
Bolsa de ShangaiOs países em desenvolvimento têm 4,3 biliões de dólares em reservas externas, equivalentes a 75% do total das divisas depositadas nos cofres dos bancos centrais do mundo, segundo um estudo da Organização das Nações Unidas. A China é o país com maiores reservas externas, as quais atingiram os 1,7 biliões de dólares em final de Março passado.
Artigo de Thalif Deen para a IPS.

Apesar da volatilidade dos mercados financeiros, a quebra de bancos, a restrição do crédito e a subida dos preços dos alimentos e combustíveis, o documento da ONU mostra que as reservas em divisas da China chegaram a 1,7 biliões de dólares no final de Março.

A Índia figura em terceiro lugar entre as nações com as suas reservas externas de 300 mil milhões, atrás de dois membros do Grupo dos Oito países mais poderosos do mundo: Japão, que tem no seu banco central 993 mil milhões, e Rússia, com 493 mil milhões de dólares. Aquele país da Ásia meridional inclusive supera a Coreia do Sul, nação de alta industrialização cujas reservas chegam a 264 mil milhões. Dados de Setembro de 2007 mostram que os países do G-8 não eram os que tinham os "fundos soberanos" maiores, mas sim os Emirados Árabes Unidos (875 mil milhões de dólares), Noruega (341 mil milhões), Singapura (330 mil milhões), Arábia Saudita (300 mil milhões), Kuwait (250 mil milhões) e China (200 mil milhões).

A revista financeira norte-americana Forbes define os fundos soberanos como "quantias derivadas das reservas nacionais, destinadas a investimentos que beneficiam a economia do país e os seus cidadãos". As reservas nos bancos centrais e os fundos soberanos têm algo em comum: estão em poder do Estado, ao contrário dos investimentos estrangeiros directos, que podem ser tanto públicos quanto privados. Estima-se que as nações em desenvolvimento acumulem 3.000 biliões em fundos soberanos. "Isto dá aos países em desenvolvimento um resseguro para enfrentar os impactos externos", diz o Informe Económico e Social Mundial 2008, divulgado na passada semana pela Organização das Nações Unidas.

Segundo este estudo, um nível de reservas que cubra três meses de importações é adequado. Mas uma das lições aprendidas com a crise financeira de 1997, que começou no sudeste da Ásia e afectou todo o mundo, é que as nações em desenvolvimento devem ter reservas para poderem cumprir os seus pagamentos da divida externa no curto prazo. Esses países agora contam com "fundos que superam longamente esse requisito", diz o estudo. Além disso, afirma que os países de baixo e médio rendimento têm nos seus bancos centrais o dobro das reservas necessárias para pagar três meses de importações e os serviços da dívida externa no curto prazo.

As reservas da China triplicam os fundos necessários para isso, e as dos 50 países menos desenvolvidos ficam próximos desse nível, segundo o estudo. Essas nações estão a investir as suas reservas, assegurou Rob Vos, director da Divisão de Análise de Políticas de Desenvolvimento do Departamento de Assuntos Sociais e Económicos da ONU. "Podem ter dinheiro ou ouro nos cofres dos seus bancos centrais que se destinam a investimentos seguros no estrangeiro, fundamentalmente em títulos do Tesouro dos Estados Unidos, o que ajuda a financiar o défice desse país", acrescentou.

Vos definiu um investimento seguro como o que oferece taxa de lucro menor do que a média usual do mercado internacional ou do que a que seria obtida colocando o dinheiro no sistema financeiro interno, mais alta, mas, ao mesmo tempo, mais insegura no médio e longo prazos. Acumular reservas externas é sensato, como protecção frente a inesperados impactos esternos, como aumento no preço do petróleo, mas também o é investir parte delas em títulos e activos líquidos no exterior.

"Entretanto, os países em desenvolvimento acumulam reservas cujos níveis vão muito além do que pode ser visto como medida de precaução", disse Vos à IPS, o que, a seu ver, não é tão sensato. "Além disso, como indicamos no informe, muitas nações em desenvolvimento com grandes reservas de divisas estão a receber ao mesmo tempo grandes fluxos de capitais privados estrangeiros", acrescentou. Segundo Vos, "na medida em que esses fundos contribuem para a acumulação de reservas, chamamos-lhe de reservas emprestadas".

É preciso pagar uma taxa de retorno por esse dinheiro: juros, se for empréstimos, receitas de lucros no caso de investimentos estrangeiros directos. E essa taxa é habitualmente superior ao ganho financeiro obtido com os títulos do Tesouro de outros países. Estima-se que este custo, para o conjunto dos países em desenvolvimento, fique em cerca de 100 mil milhões anuais. Vos acrescentou que muitas nações em desenvolvimento, conscientes desse custo mas em alguns casos "adoçadas" pela rendimento da exportação de petróleo ou alimentos que aumentam pelo encarecimento desses produtos, criaram fundos soberanos que respondem mais ao desejo de acumular fundos do que a movimentos preventivos.

O dinheiro dos fundos soberanos normalmente é investido em activos com altas taxas de retorno, como acções em empresas do Ocidente ou projectos de desenvolvimento noutras nações do Sul. Alguns vêem um tom político no fenómeno. Um informe do Instituto McKinsey, citado na semana passada pelo The Wall Street Journal, de Nova York, diz que "a montanha de petrodólares" está a ser usada para promover uma "agenda política anti-norte-americana". Segundo esse estudo, "o surgimento de uma grande quantidade de países com fundos soberanos aumenta as preocupações sobre as razões não económicas e ramificações políticas dos seus investimentos". Essa consultoria acusa o presidente da Venezuela, Hugo Chavez, de "financiar com petrodólares a sua cruzada hemisférica contra a influência dos Estados Unidos na região".

Segundo Vos, essas altas reservas de países em desenvolvimento são investidas em países do Sul, mas em activos que oferecem uma baixa taxa de retorno. As oportunidades estão ao alcance das mãos, especialmente para o investimento do nível de reservas que superam o necessário para cobrir entre três e seis meses de exportações e o serviço da divida externa de curto prazo. Esses fundos podem ser usados para projectos de infra-estrutura doméstica ou outros investimentos que fortaleçam as economias dos países que contam com divisas em excesso. Os países que crescem rapidamente, como a China e os maiores exportadores de petróleo, deveriam investir os seus excedentes de capital no Sul, disse Vos, "em bancos regionais que busquem novos recursos financeiros para o desenvolvimento dessas nações", acrescentou. (IPS/Envolverde)

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