Desde segunda-feira (21), 35 delegações convidadas para as negociações da Rodada Doha tentam avançar na liberalização do comércio mundial. A reunião de hoje (24) é vista como decisiva para o rumo da Rodada, que se tornou um confronto direto entre países ricos e em desenvolvimento. Cada um dos grupos espera por concessões do outro, o que pode provocar o fracasso nas negociações.
Ontem (23), na reunião de apenas sete países (Brasil, Estados Unidos, Japão, Índia, Austrália, União Européia e China) não houve avanços significativos. Os resultados foram os seguintes: Estados Unidos e União Européia cobram dos emergentes na área industrial; China, Índia e Japão exigiam mais margem para frear importações agrícolas; Brasil tenta moderar as barreiras do lado asiático e critica subsídios e barreiras dos Estados Unidos e EU, resistindo na área industrial.
A Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip) acompanha, em Genebra, as negociações e tenta evitar que o Brasil concorde com acordos que terão alto impacto negativo sobre as populações mais vulneráveis. Os relatos dos representantes da Rede podem ser acessados por meio do site do Instituto de Estudos Socioeconômicos (www.inesc.org.br).
Nos últimos informes, eles afirmaram que há fortes divergências entre os setores empresariais presentes na delegação brasileira sobre a barganha colocada na negociação entre abertura agrícola e concessões em bens industriais. A posição da Rebrip é a de que qualquer acordo que prejudique a agricultura familiar e as populações mais vulneráveis não deve ser aceito pelo Brasil. A avaliação da Rede é que as propostas atuais favorecem somente o agronegócio.
Em nota, a Rebrip ressaltou que as grandes corporações sempre foram as maiores beneficiadas pelas regras da OMC: "Ao buscar a crescente liberalização do comércio agrícola internacional, as negociações tendem a expor a produção familiar e camponesa - responsável, no caso brasileiro, por cerca de 70% dos alimentos consumidos no país - a uma concorrência desigual com as transnacionais de alimentos e com o grande agronegócio exportador".
Segundo a Rede, não haverá um mercado socialmente justo se a Rodada de Doha for concluída em prejuízo dos setores produtivos mais vulneráveis. "Os desequilíbrios e assimetrias resultantes deste acordo levariam o Brasil e muitos outros países do Sul à desindustrialização, a uma ainda maior falta de segurança e soberania alimentar, ao avanço dos monocultivos voltados a exportação, a um aprofundamento da privatização de serviços, à perda de empregos e limitações para o atendimento na prestação de serviços à população", acrescenta.
Além disso, a Rede enfatiza que, se a Rodada for concluída nas bases propostas, provocará um distanciamento do Brasil da construção de alianças estratégicas com países como Argentina e Índia que têm tentado resistir no processo negociador da OMC: "Também significaria um bloqueio ao processo de integração regional em curso, pois este requer preferências e prioridades para o desenvolvimento para dentro de nossa região, ao invés de destinarmos nossas estruturas produtivas à exportação para os países do Norte".
Fonte: Adital.
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