Mario Augusto Jakobskind
O imortal Nelson Rodrigues usava uma expressão que hoje se aplica ao esquema da mídia conservadora, sobretudo O Globo: “babar na gravata”, no caso, de ódio. É o que acontece neste momento contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na última semana, o jornal de maior circulação no Rio de Janeiro se superou em matéria de manipulação da informação.
Na edição de 24 de julho de 2008, O Globo aparecia nas bancas com a manchete “Líder do MST apóia candidato de curral eleitoral da Rocinha”. O mencionado é José Rainha, um ex-militante do MST, que não representa mais este movimento social, o que é publico e notório. O Globo “informava” (só pode ser entre aspas, pois o certo seria dizer manipulava) que “o líder do MST, que há anos comanda invasões de terra em São Paulo, disse que incentivou a candidatura a vereador do presidente da Associação dos Moradores”. O ex-militante do MST é amigo do candidato Claudinho da Academia, que supostamente tem o apoio de Antonio Bomfim Lopes, o Nem, responsável pela venda de drogas na Rocinha que impede a entrada na área de outros candidatos a vereador, segundo o informe do jornal.
Ao mesmo tempo em que O Globo divulgava o vínculo de Rainha com Claudinho, praticamente ignorava na edição do dia 24 uma nota da Executiva Nacional do MST informando que o movimento não participa do processo eleitoral nem apóia candidaturas a prefeito e vereador. Rainha, portanto, agia por conta própria e não representava politicamente o MST.
Se alguém ainda tivesse dúvida da grosseria manipuladora de O Globo, a apresentação na primeira página de uma foto de arquivo com José Rainha segurando uma bandeira do MST, deixava as coisas bem claras. É o caso de perguntar: que estranho critério de um jornal, abastado como O Globo, colocar em manchete de primeira página uma foto de arquivo tirada da gaveta?
Tem mais: na edição de sábado, 26, a mesma foto de Rainha com a bandeira do MST, editada na primeira página no dia 24 como sendo de arquivo, aparecia na página 9 identificada como de 24.07.2008. E sabem mais o quê? Atrás de Rainha aparecia claramente os dizeres “Oscar Niemeyer nosso irmão A Rocinha abraça pelos 100 anos de luta contra as injustiças sociais”. No meio da foto aparece a data de 15 (possivelmente de dezembro de 2007, quando dos 100 anos do arquiteto) junto com “Local CIEP da Curva do...” (o restante está coberto com a foto do tal do Claudinho da Academia).
Como se tudo isso não bastasse, O Globo prosseguia sua baba na gravata afirmando “com ou sem o beneplácito do movimento, a participação de militantes do MST na campanha eleitoral da Rocinha, em defesa do candidato do curral eleitoral da favela, é mais um indício de que ele se converteu numa organização política cujo foco vai muito além da reforma agrária”. Era a resposta ao Departamento Jurídico do MST, só divulgada na edição do dia 26, de que “José Rainha foi afastado do movimento por não se submeter às orientações do MST” e reafirmando que o movimento “não tem vinculação política com candidatos, partidos políticos ou governos de todas as esferas”.
Não satisfeito com o predomínio do esquema do pensamento único, O Globo em seu editorial de 26 de julho mostrava supostos vínculos do MST com o narcotráfico, como as Farc na Colômbia.
Mas os leitores se enganam se imaginam que só O Globo manipula grosseiramente a informação. Na área eletrônica o troféu “baba gravata de ódio” ficou por conta da TV Bandeirantes, que na semana de 21 a 25 de julho de 2008, sob o comando do âncora “é uma vergonha” Boris Casoy, além de só ouvir um dos lados, exatamente figuras críticas ao MST, também insinuou que o MST tem vínculos com as Farc. Casoy tem história e vida pregressa. Embora negue, integrou os quadros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) nos anos de chumbo, segundo militantes do movimento estudantil daquele período.
Na era Collor, Casoy se deu bem. Antes do confisco geral da Madame Zélia Cardoso de Mello ele tirou dos bancos todas as suas aplicações financeiras. Disse à época que tinha apenas intuído, não contava com nenhuma informação privilegiada. Ora, âncora de noticiário televisivo, o mínimo que a ética jornalística e a fidelidade aos seus telespectadores recomenda, em qualquer época, é tornar pública a “intuição”.
Hoje, Casoy chega até a alterar a fisionomia, muito próximo de babar, quando fala ou comenta sobre o MST. Isto, na verdade, não é jornalismo, mas, sim, “uma vergonha” e exemplo típico de estratégia de pensamento único.
Atenção nas próximas semanas para o acirramento da baba na gravata de ódio a qualquer tipo de organização dos setores de menor poder aquisitivo da sociedade brasileira.
Fonte: Blog Direto da Redação.
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