Belgrado, 21 jul (EFE).- O ex-líder servo-bósnio Radovan Karadzic, de 63 anos, o homem mais procurado desde o fim da guerra envolvendo a antiga Iugoslávia, e chamado por muitos de o "Açougueiro dos Bálcãs", foi detido hoje, segundo o Conselho de Segurança da Sérvia.
Segundo a mesma fonte, Karadzic foi levado diante do juiz de instrução da sala de Crimes de Guerra do Tribunal de Belgrado.
Karadzic, que estava desaparecido desde 1996, é acusado pelo Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (TPII) como criminoso de guerra.
Karadzic é considerado responsável por genocídio e por outros crimes perpetrados durante a guerra civil bósnia (1992-1995).
De origem camponesa, nasceu em Montenegro, em 1945. Doutor em Psiquiatria pela escola de Jovan Raskovic e ferrenho seguidor do nacionalismo sérvio, ajudou, durante seus anos em exercício como médico da Federação de Futebol de Sarajevo, doentes muçulmanos e croatas, que posteriormente seriam considerados seus inimigos.
Em 1990 apareceu na cena política iugoslava, com a formação do Partido Democrático Sérvio (SDS), para construir a "Grande Sérvia" promovida por Belgrado.
Em 1991, antes de explodir a guerra, seu partido retardou o plebiscito para votar se desejava ou não permanecer em uma federação iugoslava junto com a Sérvia, Montenegro e os enclaves sérvios da Croácia.
Karadzic, líder do SDS, colaborou a princípio no Parlamento bósnio com os muçulmanos do Partido de Ação Democrática (SDA) de Alija Izetbegovic e com os croatas.
Mas em 1992, rompeu com o parlamento, quando os muçulmanos bósnios, 44% da população, e os croatas católicos bósnios, 17%, votaram a favor da independência no plebiscito, realizado em março, boicotado pelos servo-bósnios, que eram 32% da população da Bósnia.
Pouco depois, em abril de 1992, começou a guerra. Karadzic se colocou à frente da força militar sérvia da Bósnia.
Em 6 de abril de 1992, a então Comunidade Européia e os Estados Unidos reconheceram a independência da Bósnia.
A partir desse momento, os sérvios se autoproclamam República e iniciam uma ofensiva contra alvos croatas e muçulmanos dirigida por Karadzic, que pretendia uma guerra para a conquista de territórios.
Em poucos meses, as tropas aliadas de Karadzic tinham sitiado militarmente a capital Sarajevo e as grandes cidades.
Karadzic violou repetidamente as resoluções da ONU e se negou a aceitar os acordos de paz de Dayton (Ohio, EUA), assinados em novembro de 1995 entre o então presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, o croata Franjo Tudjman e o bósnio Alija Izetbegovic, com os EUA, a Rússia e a União Européia (UE) como mediadores.
Em 14 de dezembro de 1995 esse acordo foi ratificado em Paris.
Karadzic considerava que os sérvios eram vítimas da deslealdade muçulmana e da incompreensão ocidental. Além disso, propunha um Estado sérvio independente na Bósnia ou a união em um só Estado dos sérvo-bósnios com o resto dos sérvios.
Em maio de 1995 foi anunciado pela primeira vez que Karadzic poderia ser julgado com dois de seus colaboradores pelo Tribunal Internacional de Haia por delitos de genocídio contra a humanidade cometidos em setembro de 1992 e em junho de 1993, quando se acentuaram as ofensivas sérvias.
Após meses de pesquisas, o TPII ditou em 11 de julho de 1996 uma ordem de busca e captura contra Karadzic e o general Ratko Mladic que os tornava "foragidos da justiça internacional".
Este tribunal confirmou por unanimidade as acusações de crimes contra a humanidade e genocídio que pesavam contra eles.
Em várias ocasiões, helicópteros da força multinacional (Força de Estabilização na Bósnia-Herzegóvina, SFOR) distribuíram na Bósnia panfletos com a foto do suposto criminoso de guerra, Karadzic, e a recompensa de US$ 5 milhões por sua captura.
Em março de 2002, a força da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) destacada na Bósnia pediu que Radovan Karadzic se entregasse voluntariamente à Justiça internacional.
Chamado por alguns de o "açougueiro dos Balcãs" e por outros como "criminoso de guerra" por sua apologia da limpeza étnica, paradoxalmente possui diferentes distinções por sua faceta literária, já que publicou cinco livros de poesia.
Em agosto de 1993 obteve o mais prestigiado prêmio literário de Montenegro, o "Risto Ratkovic", por seu livro de poemas "The Slav Guest" ("O convidado eslavo", em tradução livre).
Em 1994, recebeu o prêmio Mikhail Sholokhov, outorgado pela União de Escritores da Rússia "em reconhecimento público dos méritos artísticos e a elevada moral de suas obras".
O denominado "Comitê para a Verdade sobre Radovan Karadzic" publicou vários livros do ex-líder servo-bósnio. Membros deste grupo anunciaram que estão preparando a publicação de diversos livros com suas cartas, declarações, discursos, ensaios e entrevistas.
Segundo alguns círculos jornalísticos, era assíduo em cassinos, onde gastava fortunas em uma só noite.
Está casado com Liljana Zelen e é pai de um filho e uma filha, Sonia, que em 1993 protagonizou um escândalo quando esbofeteou publicamente a suposta amante de seu pai, Clara Mandic, quando ambos se encontravam em um restaurante de Belgrado.
Seu filho, Aleksandar (Sasha), foi interrogado e posto em liberdade em julho de 2005 por militares da Otan. EFE
Nenhum comentário:
Postar um comentário