Mexicanos resistem à privatização
No final de junho, aconteceu na Praça da Constituição a segunda reunião informativa contra a iniciativa energética proposta pelo governo de Felipe Calderón, do Partido de Acción Nacional (PAN), a qual visa a privatização da riqueza da petroleira estatal Pemex.
Um grande letreiro com a frase “Nem um passo atrás” aparecia ao fundo do palco, onde Andres Manuel López Obrador (candidato de esquerda derrotado nas eleições presidenciais de 2006) esteve acompanhado por diversos parlamentares do Partido del Trabajo (PT), Partido Revolucionário Democrático (PRD) e Convergencia, assim como por diversos intelectuais e artistas.
Em meio a críticas ao governo de Calderón (eleito, em meio a fraudes, em 2006), Obrador ressaltou a atual crise alimentícia, o aumento desproporcional dos preços da maioria dos produtos básicos mexicanos e fez referência aos altos índices de violência e à condição de insegurança pela qual passa o país. Após dois anos das eleições, ele recordou: “O tempo confirmou que fomos vítimas de uma grande farsa eleitoral, uma confabulação de interesses mesquinhos para seguir impondo uma política injusta, antipopular e entreguista”.
“Com as reformas privatizadoras de Calderón haverá mais pobreza, mais desemprego, mais frustração e violência. Tanto que nem a eles mesmos será conveniente, porque ninguém poderia viver em um país com tanta desordem social”, afirmou Obrador, que completou: “Nos opomos à privatização pois seria abrir a porta às companhias petroleiras estrangeiras, ou seja, a soberania e o patrimônio nacional. Queremos seguir sendo um país, não aceitamos nos convertermos em uma colônia”.
Desestatização
As privatizações no México, também chamadas “processos de modernização” pelos neoliberais, começaram na década de 1980 com o governo Miguel de la Madrid e foram amplamente desenvolvidas por Carlos Salinas e todos os outros presidentes. Dentre os serviços privatizados destacam-se os sistemas bancários, de telefonia, os portos, aeroportos e estradas.
Já nos últimos meses aconteceu uma série de debates no Senado, assim como em diversos fóruns públicos. Nesses eventos, a iniciativa de Calderon foi classificada como anticonstitucional na medida em que trai o patrimônio nacional do povo mexicano, que há 70 anos foi nacionalizado pelo presidente Lázaro Cárdenas.
O historiador Adolfo Gilly, durante um debate universitário sobre a reforma energética, comentou alguns argumentos do governo. “Foi demostrado que a precariedade tecnológica e econômica é mentira, assim como foi provado que é uma chantagem a ameaça de que, com a não-privatização da Pemex, não haverá recursos para educação, saúde e para o, suposto, 'combate a pobreza'”, rebateu.
Plebiscito
Nas últimas semanas, o chefe de governo do Distrito Federal, Marcelo Ebrad, convocou a realização de uma “consulta cidadã” para o dia 27 de julho, a partir da qual os mexicanos poderão votar e decidir pelo futuro de seu petróleo. A proposta, como era de se esperar, foi negada pelos partidos governistas PAN e PRI. Nas palavras de Obrador, a atitude do governo revela “um escasso poder de convencimento e o medo que têm do povo”.
No encerramento da mobilização Obrador categorizou em cinco pontos as reivindicações petroleiras:
1. Que se destinem todos os excedentes dos preços altos do petróleo ao fortalecimento da Pemex, sendo invertidos em exploração, perfuração, mantenimento etc.
2. Que se fortaleça o Instituto Mexicano do Petróleo, realizando atividades de exploração em terra e água (basicamente no sudeste do país).
3. Que o Conselho de Administração da Pemex reduza o número de seus membros ligados ao Executivo Federal e Sindicatos e escolham representantes da sociedade civil, cuja tarefa primordial será evitar atos de corrupção.
4. Que se fortaleçam as áreas substantivas da Pemex em diversos Estados mexicanos, como Sonora e Campeche, onde a produção tem sido afetada pela falta de investimentos e negligência dos anteriores e atuais diretores.
5. Que se reunifique o Pemex em uma só empresa estatal para administrar de maneira integral todo o setor energético.
Na luta contra mais uma perda nacional, Obrador visitou os 31 Estados da República, distribuindo vídeos e folhetos, colaborando assim com o aumento do número de novos participantes do Movimento Nacional em Defesa do Petróleo. “Hoje podemos dizer com muita satisfação que já somos 200 mil brigadistas”, celebrou.
Fonte: Revista Fórum.
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