sexta-feira, 14 de novembro de 2008

MÚSICA - O fim da loja Guitarra de Prata.

Antiga loja de instrumentos musicais fecha as portas.

Depois de 121 anos de funcionamento, a loja A Guitarra de Prata, freqüentada por músicos como Pixinguinha, Noel Rosa, Ary Barroso e fornecedora preferida de Paulo Moura e Baden Powell, fechou as portas. Os funcionários foram avisados do encerramento das atividades no último dia 31. Vizinhos acompanharam a retirada de instrumentos nos últimos dias.

"É uma tristeza. Eu ia sempre comprar papel de música, que não se encontra mais por aí, só cadernos. Mas para desenvolver uma idéia, sempre preferi o papel. É uma perda para a música", lamentou o clarinetista Paulo Moura, que freqüentava a loja na Rua da Carioca desde os anos 1950. Outro que tem boas lembranças da Guitarra é o compositor Moacir Luz. Foi ali que ele comprou seu primeiro "violão decente".

"Essa loja remete à minha infância, meu início como músico. Ficava ali, ziguezagueando pela Rua da Carioca, olhando a vitrine, como mosca de padaria. Até que pude comprar meu primeiro violão decente ali", conta. Para Luz, o fechamento desse tipo de loja é resultado do "novo comércio", feito a partir de catálogos, internet e financiado pelos cartões de credito internacionais. "São muitas as facilidades. O hábito de sentar num banquinho e testar o instrumento está acabando", sentenciou.

A Guitarra de Prata foi inaugurada em 1887 por Antônio Tavares de Oliveira. Pioneira na venda de gramofones no Rio, ao longo dos anos tornou-se uma das melhores casas do ramo musical. Conta a lenda que Noel Rosa batucava numa caixinha de fósforo na entrada da loja quando compôs "Com que roupa". Ali Dilermando Reis deu aulas de violão, antes de fazer sucesso no rádio e firmar-se como um dos mais importantes violonistas brasileiros.

Ao longo das décadas, a loja tentou se adaptar aos modismos. Nos anos 1950 e 1960, época de ouro do rádio, a casa vendia até 20 acordeões por dia. Nos anos 1970, as guitarras faziam sucesso. Os teclados tornaram-se, mais recentemente, o instrumento da vez. Violões sempre estiveram entre os mais vendidos. Nos últimos anos, a loja passou a vender também softwares musicais, numa tentativa de acompanhar as mudanças. Não foi suficiente.

"A verdade é que a Guitarra de Prata parou no tempo. Vivemos o nosso pior momento antes do fechamento. O movimento caiu muito, as dívidas acumularam, houve desavença entre os sócios", conta Miguel Roberto Lia, de 71 anos, 52 deles passados entre os instrumentos da Guitarra de Prata, até o fechamento da loja. "Percebemos que as coisas não iam bem quando deixaram de depositar o FGTS, há uns seis meses.

Depois, alguns donos de lojas da vizinhança começaram a visitar, olhar as instalações. A gente perguntava se a loja seria vendida, mas a dona desconversava", conta Lia, que pela primeira vez vê a Guitarra fechada. Nas outras sucessões que acompanhou, a casa permaneceu em funcionamento. Foi assim quando Otilia Clark Ventura assumiu a direção da empresa depois da morte do marido, Samuel Ventura, em 1963. Foi substituída pela neta, Leila Ventura, em 1983. Em 1995, Leila sofreu assalto na Rua do Matoso, na Praça da Bandeira.

Um tiro a atingiu no pescoço e esfacelou sua medula. Permaneceu internada um mês, mas não resistiu. Os filhos assumiram a loja. Não deu certo e venderam para Maria Helena Moço, que até então era fornecedora de instrumentos para a Guitarra de Prata. No mês passado, Maria Helena foi procurada para dar entrevista para matéria sobre empresas centenárias que sobrevivem a sucessivas crises econômicas. Abatida, recusou-se a falar. Nos últimos dias, procurada novamente, não foi localizada.

"Eu a encontrei aqui na rua e ela comentou apenas que tinha fechado. Sem entrar em detalhes. É uma coisa meio estranha passar pela Carioca e ver uma loja tão tradicional fechada. Sinto um certo vazio", comentou Marcos Oliveira, proprietário da Casa Oliveira, fundada em 1956, agora a mais antiga loja do ramo musical em funcionamento na Rua da Carioca. "É uma perda para a história musical da cidade", resume o cavaquinista Mauro Diniz, cliente da também tradicional Bandolim de Ouro, mas que "sempre comprava alguma coisinha" na Guitarra.

No número 37, onde funcionou a Guitarra, não foi deixada nenhuma informação aos fregueses - a única inscrição é de uma placa da prefeitura em homenagem à loja com a frase: "Mais de um século de tradição, contribuindo para o aprimoramento da nossa cultura musical". A estudante de música Sheila Frauches, de 30 anos, ficou frustrada ao encontrar as portas de ferro cerradas.

"Comprei aqui meu teclado e agora vim para comprar o violão. É uma loja de muita tradição. Difícil acreditar que não tenha resistido". Lia tem esperanças de ver A Guitarra de Prata reaberta. "Já soube que a loja foi vendida. Parece que vão fazer obras. Espero que reabra com o mesmo nome", comentou. O antigo vendedor, que já recebeu convite para trabalhar em outras duas lojas da rua, decidiu aposentar-se de vez. "Encerrei o ciclo. Meus filhos estão bem encaminhados. Gostei dessa vida de "vagabundo", brinca.
Fonte: Tribuna da Imprensa.

5 comentários:

Darci Velasco disse...

Também estramhei, à 2 dias atrás passei em frente à loja e a vi fechada. Um Intrumento musical de qualidade tem que ser importado, pouco se produz no Brasil. Ao testar o instrumento temos que atentar para o custo-benefício. As fábricas (ROLAND, YAMAHA, etc... dão às REVENDAS uma meta de vendas tipo: Vender 10 teclados/MÊS. Se o revendedor não atingí-la, perde a REVENDA. Por outro lado nós músicos dependemos de fazer bastante SHOWS em cada mês para trocarmos de instrumento e se não comprarmos, o lojista não vende e a fábrica IDEM.
Por outro lado, nós músicos

Anônimo disse...

A loja n fechou
Ja fez 122 anos

antonio disse...

ver o fim da tradicional loja de instrumentos musicais do rio de janeiro, "a guitarra de prata" fechar suas portas depois de 122anos de tradição, popularidade, foi inusitado... é estranho passar na rua da carioca e não admirar aquela centenária loja a mais antiga do ramo.. trabalhei nesta loja 90/92 guardo boas lembranças.....

Anônimo disse...

Tudo se dá o por ela , a vaidade política de um prefeito que resolveu brincar de Autorama nas ruas do centro do Rj , ai se deu fim.

Anônimo disse...

Brincadeira trenzinho é Autorama no centro Rj foi o fim dele.