quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

ANOS DE CHUMBO - Apelo de um brasileiro aos militares deste século.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exonerou no mesmo dia (10) o general Maynard Marques de Santa Rosa, que chamou de 'Comissão' da Calúnia' a Comissão da Verdade criada pelo governo para investigar os crimes da ditadura de 1964. Segundo a Agência Estado, Lula afastou o general para que "fique claro que não vai aceitar" este tipo de comportamento. Cabe aos brasileiros, civis e militares, refletir sobre o episódio.

Por Bernardo Joffily

A exoneração do general Santa Rosa foi pedida a Lula nesta quarta-feira pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, por sugestão do comandante do Exército, general Enzo Peri. Lula, consultado antes da posse do novo ministro da Justiça, endossou: "É isso mesmo que tem de fazer".

Santa Rosa permanecerá sem função até o último dia do mês que vem. Nesta data completa 12 anos de generalato e portanto será compulsoriamente transferido para a reserva.

Ainda segundo a Agência Estado, durante o almoço desta quarta-feira no Quartel Geral do Exercito Santa Rosa mostrava-se "um pouco abatido". Mas confidenciava que "não tinha nada a perder e que tudo que afirmara no texto, era sua convicção" (Veja a íntegra do texto sobre a 'Comissão da Calúnia' em Jobim exonera general após provocação contra direitos humanos).

O passar dos anos vai removendo um a um os militares que partilham dessa convicção, e em nome dela fizeram o golpe, a ditadura, o Ato 5, a Operação Bandeirantes, a guerra sem prisioneiros no Araguaia e companhia. Outras gerações chegam à caserna. É bem outro o cenário geopolítico do mundo e da pátria, a reclamar um pensamento estratégico atualizado com os desafios e ameaças do século.

No dia em que o general exonerado passará à reserva, o golpe de 1964 completará 46 longos anos. A ditadura já acabou faz 25. Está mais do que na hora de outras vozes, contemporâneas, lúcidas, falarem pelos militares.

Se possível, que tenham lido mais que as orelhas dos livros dos filósofos e não nos penalizem com os disparates introdutórios do general Santa Cruz. Mas, antes e acima de tudo, que não errem na conclusão.

O Brasil está crescendo, em um mundo mutante e perigoso. Precisa talvez mais do que nunca de Forças Armadas, e que sejam atiladas, bem equipadas e em especial bem equipadas de neurônios.

A esmagadora maioria da nação condena a ditadura de 1964. Basta ver que tanto o governo como a oposição escolheram para a eleição presidencial deste ano candidatos que foram perseguidos por ela. Divorciar-se desse sentimento, e afrontá-lo, em nome de um espírito de corpo deformado, é ruim para o país e pior para as Forças Armadas.

Os militares brasileiros de hoje não têm o menor motivo para renderem os Santa Cruz na missão ingrata, inglória, improfícua e inútil de guardiões dos armários de esqueletos do regime de 1964. A rigor, estão entre os maiores interessados em que a verdade venha à tona, a luz jorre, as lições sejam tiradas, os mortos enterrados com o respeito que merecem, e o Brasil siga adiante, ainda maior, mais íntegro, consciente e altaneiro.

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