1 DE JUNHO DE 2013 - 15H59
Bombardeio de saturação é nova tática pré-eleitoral contra Dilma
Faz todo sentido do mundo usar uma metáfora militar para definir a estratégia do grupo político que congrega meia dúzia de impérios de comunicação, três partidos de oposição e que trata de tentar cooptar partidos volúveis da base aliada contra o governo Dilma Rousseff.
Por Eduardo Guimarães, em seu blog
Bombardeio de saturação é uma tática militar antiga. Consiste em um bombardeio intenso, rápido e concentrado, disparado de várias origens, contra uma determinada área que se quer destruir.
A metáfora ilustra o noticiário de grandes meios que ora ataca o governo com versões sobre o desempenho econômico do país. O que se percebe, nesse processo, é o virtual abandono do recurso a denúncias de corrupção e uma aposta sôfrega na construção de uma realidade virtual.
A tática já foi usada contra este governo e o anterior, mas quase sempre tendo como mote a corrupção. Eis que o conclave que envolve partidos de centro e de extrema direita conclui que apelar à “ética” do brasileiro não funciona e, assim, “descobre” que o povo só pensa no próprio bolso.
O jeito, pois, está sendo tentar criar uma realidade alternativa que faça com que a sociedade – ou a maior parte dela – acredite que o Brasil está indo mal e que o desastre econômico se avizinha.
Dirão que essa tática não é exatamente novidade – e não é –, mas a visão das forças políticas que controlam a comunicação de massas é a de que o momento é propício para usá-la porque haveria elementos de verdade no mau momento econômico que o país estaria atravessando.
Pode-se notar que, desde o início do ano, denúncias de corrupção perderam força. E perderam porque, ano passado, a aposta no julgamento do mensalão como forma de gerar uma fragorosa derrota eleitoral ao PT nas eleições municipais, mostrou-se um rotundo fracasso.
Nesse aspecto, o ano começa com o anúncio por toda a grande mídia e pela oposição de uma gigantesca catástrofe que estaria prestes a se abater sobre o país: haveria racionamento de energia elétrica.
Durante semanas a fio, o pânico se instalou. Ações de empresas geradoras e distribuidoras de energia despencaram; empresários paralisaram planos de investimentos; preços foram reajustados “preventivamente”.
Com a economia andando lentamente, racionar energia elétrica jogaria o país em uma profunda recessão.
Todavia, a mídia e a oposição foram vítimas de “especialistas” que dizem o que elas querem não só para ganharem espaço e notoriedade, mas para não correr o risco de contrariar impérios de comunicação que detêm poder para destruir vidas por meio da difamação.
Esses “especialistas” deram esperança à oposição e à mídia de que seria possível ocorrer tal hecatombe econômica, apesar de que a estruturação do setor energético brasileiro a partir da catástrofe de 2001/2002 erigiu mecanismos para impedir que voltasse a ocorrer.
O resto da história todos conhecem, o que dispensa maiores considerações. Resumindo, portanto: não deu certo.
A partir dali, o desempenho modesto do PIB e a inflação se tornaram a nova aposta. Até porque, havia e há dificuldades nessas áreas não só para o Brasil, mas para o planeta Terra – sobretudo no que concerne ao crescimento das economias.
A evolução modesta do PIB – o tal “pibinho” – poderia convencer os brasileiros de que os ganhos em qualidade de vida da década passada e do início desta estariam para terminar.
A aposta continua forte apesar de o nível de emprego continuar incrivelmente alto e melhorando mês a mês. Afinal, as políticas governamentais de combate a uma inflação gerada exclusivamente pelo patamar alto – ainda que estagnado – de atividade econômica frearam o crescimento da renda das famílias, que foi contido porque o país não tem condições de arcar com mais crescimento da renda e dos salários.
Houve um crescimento muito rápido do poder aquisitivo dos brasileiros na década passada. As hordas de brasileiros – inclusive de classe média-média – que saem pelo mundo torrando dinheiro fazem com que, no exterior, pensem que estamos ricos.
Nesse aspecto, a recente visita do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ilustra bem o excelente momento pelo qual o país atravessa, apesar do crescimento modesto.
O Jornal Nacional da última quarta-feira (29) evitou noticiar mais detidamente declarações de Biden que contrariam uma das vertentes do bombardeio de saturação em curso contra o governo Dilma, o ataque ao Bolsa Família, que, após sucesso inegável, volta a ser alvo de acusações de produzir “acomodação” e de “perpetuar a miséria”.
Assim como a ONU, o Banco Mundial e dezenas de países (muitos, desenvolvidos), Biden elogiou fartamente o Bolsa Família.
Segundo ele, o resto do mundo olha para o Brasil com inveja. E isso justo no momento em que a direita midiática, após espalhar um boato criminoso sobre extinção do programa, tenta atribuí-lo ao governo de forma literalmente surreal, pois a tese não resiste ao menor exercício de lógica.
As palavras de Biden: “O Bolsa Família é copiado em mais de quarenta países. O Brasil mostrou que não é preciso que uma nação escolha a democracia ou desenvolvimento. Os brasileiros mostraram que política econômica e desenvolvimento social podem andar juntos. Vocês já se desenvolveram e esta é uma má notícia, porque a cobrança é muito maior“.
O vice-presidente dos EUA veio ao Brasil justamente porque, à exceção de publicações internacionais como o ultraconservador The Economist, nosso país é retratado hoje como um dos poucos polos de desenvolvimento mundial e detentor de um mercado consumidor gigantesco e ávido.
O mundo desenvolvido sabe que o PIB baixo é momentâneo e que o crescimento que temos tido, com distribuição de renda, redução da pobreza, valorização dos salários e forte criação de empregos, é um fenômeno surpreendente.
O gráfico abaixo mostra que o Brasil está crescendo na média do mundo, mas com o diferencial de que, ao contrário do resto dele, crescemos com inflação controlada – e cadente – e com melhora a olhos vistos de nossos problemas sociais.
Como se vê, até a China está crescendo muito menos. A potência que mais cresce no mundo, cujo ritmo de evolução do PIB sempre andou por volta dos 12% ao ano, vem tendo crescimento que é quase a metade de sua média histórica. Enquanto isso, o Brasil já cresce mais do que tigres asiáticos como a Coréia do Sul.
Todavia, no mesmo dia em que o vice-presidente dos Estados Unidos demonstra quão formidável vem sendo o desempenho econômico do país, telejornais, jornais, revistas, grandes portais de internet, hordas de colunistas, editoriais e até cartas de leitores entoam um monocórdico discurso sobre nossas misérias imaginárias.
Não há quase espaço para outro tom na grande mídia. A tática militar de bombardeio de saturação depende da ausência de divergência da tese “oficial” sobre a decadência do país.
Esse processo já foi visto outras vezes, inclusive com foco na economia. Entre 2008 e 2009, quando eclodiu a crise econômica internacional, na mídia era dado como certo que o Brasil quebraria e que mergulharíamos em uma profunda crise econômica, com desemprego, recessão etc.
A grande diferença é a de que, à época, o então presidente Lula fazia um forte contraponto ao noticiário e, devido ao palanque natural e obrigatório que cargo de presidente concede ao seu detentor nos meios de comunicação, não havia como deixar de reproduzir sua contra-argumentação.
Lula foi à tevê e exortou os brasileiros a não acreditarem no noticiário. Assim, apesar de a mídia acusá-lo de “mistificador” de uma situação que seria “catastrófica”, ao ter que reproduzir o que dizia os brasileiros tiveram acesso a outra versão dos fatos.
Agora, porém, vivemos uma situação preocupante. O mutismo da presidente Dilma Rousseff a está enfraquecendo politicamente e isso está se refletindo através dos problemas crescentes que o seu governo está enfrentando com a base aliada no Congresso.
A ausência de contraponto, de reação ao bombardeio de saturação em curso, de mutismo que se baseia na tese de que o que o brasileiro sente no bolso e no cotidiano destoa do noticiário, é uma aposta perigosa. Assim, a base aliada está sendo motivada a pular fora do barco.
*Eduardo Guimarães é jornalista
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