
Por Glauco Faria
E o que estava escrito se consumou. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, concedeu habeas corpus da Daniel Dantas e mais dez pessoas presas na operação Satiagraha da Polícia Federal. O ministro já havia sinalizado isso, pra quem quisesse ouvir, quando na noite de terça-feira contestou o uso de algemas pela PF, criticando o que ele chamou de “quadro de espetacularização”. Escolheu o foco e preferiu se ater à parte do todo, a parte que interessava. Mendes deveria ver algum programa policial desses que adoram exibir “suspeitos” sendo algemados e humilhados, nenhum deles com o status de Dantas, obviamente. Para essa parcela da população, o Estado de Direito não existe ou deve existir.
Fundamento jurídico para a concessão do habeas corpus existe, como existe também para a não concessão do mesmo ou como, com base na mesma argumentação utilizada para soltar Dantas, poder-se-ia soltar tranqüilamente o casal Nardoni. Talvez a opinião pública (e boa parte dela sequer sabia que Dantas existia até terça-feira) faça diferença, para o bem e para o mal. Mas outros fatores também fazem.
Ainda no capítulo Justiça, impressiona que na tentativa de suborno, relatada ontem de forma pormenorizada no Jornal Nacional, saia uma declaração dizendo que o problema de Dantas seria a primeira instância, já que no STJ e no STF ele “resolveria”, e não existe qualquer reação mais firme desses órgãos para responder tal acusação. É melhor ignorar do que responder, talvez ninguém se lembre disso daqui a pouco. Se fosse dito algo do tipo “na Presidência da República a gente resolve” será que haveria tanta parcimônia?
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A investigação sobre o mensalão permitiu à PF ter elementos que desbaratassem o esquema de Daniel Dantas, mas parte da imprensa já tenta circunscrever o dito cujo a apenas isso e à fusão da BrOi. O deputado Gustavo Fruet (PSDB-RS) conseguiu aprovar a criação de uma subcomissão na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara para investigar a transação.
Mas Dantas foi preso porque a PF detectou que seu grupo movimentou entre 1992 e 2004 aproximadamente US$ 2 bilhões por meio de uma offshore no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, no Caribe. É excelente e fundamental que se investigue a ação do “banqueiro” no negócio da BrOi, mas ignorar todo essa movimentação feita em um período anterior (durante 13 anos) é querer empurrar muita sujeira pra baixo do tapete. E ignorar como Dantas cresceu e articulou seus tentáculos na classe política e financeira do país.
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Em sua coluna na terça-feira, o jornalista Lauro Jardim, da revista Veja, publicou uma nota intitulada “Lula, Lulinha e Daniel Dantas”, contando a história de como o “banqueiro” teria tentado ser sócio do filho do presidente no negócio Gamecorp e Lula, advertido pelo empresário Antoninho Trevisan, teria vetado o negócio. Ao final, pondera: “Se Lula não tivesse procurado Trevisan, a PF teria prendido hoje um sócio de seu filho.”
Pois é, Jardim. Mas acabou prendendo uma ex-sócia, Verônica Dantas, da filha do governador José Serra, Verônica Serra. Cabe refletir se o governador paulista não tem um amigo como Trevisan ou simplesmente não se mete nos negócios de família. Mas claro que ninguém vai perguntar a isso a ele, nem Arnaldo Jabor vai bradar pedindo explicações.
Fonte: Blog do Rovai.
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