terça-feira, 8 de julho de 2008

COLÔMBIA - Ações para-militares continuam.

Opinião: Ações para-militares continuam nas comunidades colombianas

Por Brunna Rosa

A Colômbia foi a principal notícia da semana que se passou e provavelmente continuará sendo desta que se inicia. Com a (estranha) operação que libertou 14 reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colombia (Farc), entre eles a e a ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt, o país é assunto internacional, o que reacende o debate acerca dos conflitos armados com um alvo só: As Farc.

Porém o conflito no país é muito mais complexo do que nos é apresentado. As Farc nem de longe são os únicos inimigos da paz e do regime democrático colombiano. E para pensarmos em uma verdadeira democracia e um real processo de paz, é preciso entender a história colombiana e perceber que ela está distante em um país que não investiga a morte de 26 trabalhadores sindicalizados apenas no mês de maio ou os 225 atentados contra dirigentes em 2008, com 193 casos de desaparecimento.

O país é o que mais mata defensores dos direitos humanos e sindicalistas no mundo, segundo os dados do Movimento Nacional de Vítimas de Crimes do Estado (Movice). É também um dos únicos países no mundo que teve um dos seus partidos políticos dizimados, A União Patriótica (UP).

A UP foi fruto de um acordo político realizado em 1984, durante o mandato do presidente Belisario Betancur, e que levou para as vias institucionais a tentativa de paz. A experiência durou até 1990 e teve importantes resultados eleitorais para a UP, como o candidato à presidência colombiana Jaime Pardo Leal e posteriormente Jaramillo Ossa, que obtiveram o maior número de votos alcançado até então por um partido que não fosse os tradicionais Liberal e Conservador. Ambos foram assassinados em 1987 e 1990, respectivamente.

Em 1994, a UP perdeu seu último membro no Parlamento, com o assassinato do senador Manuel Cepeda Vargas. Anteriormente, oito parlamentares foram vítimas de atentados fatais. Em outra demonstração de violência, em 11 de novembro de 1988, quarenta militantes da UP foram executados publicamente na praça central de Segóvia, departamento de Antioquia.

Iván Cepeda, filho do senador Cepeda, membro Movice, é um dos atuais líderes do movimento que denuncia os crimes do Estado, dos paramilitares e a violação sistemática dos direitos humanos que a população colombiana sofre. Ele é advogado e diretor da Fundação que leva o nome do pai e, junto a outros defensores dos direitos humanos, elaborou um documento com aproximadamente 40 mil casos de sérias violações cometidas na Colômbia desde 1996.

Nesta semana, enquanto o mundo comemorava a libertação dos 14 reféns das Farc e questionava o fim da guerrilha, forças paramilitares voltaram a atacar o povoado de San Jose de Apartado. No dia 21 de fevereiro de 2005, a pequena comunidade ficou conhecida no mundo após o assassinato de quatro crianças e três adultos, de forma brutal. As investigações apontam para uma ligação entre as forças legalistas da Colômbia e as forças paramilitares. Em junho de 2008, uma série de líderes comunitários foram assassinados, entre os quais Martha Cecilia Obando, liderança comunitária do bairro São Francisco de Assis.

Joseph Contreras, jornalista e correspondente da revista Newsweek, é o autor da biografia não autorizada de Álvaro Uribe Vélez. Publicada em 2002, o livro devassa a vida do atual presidente colombiano e suas ligações junto aos quartéis de drogas no país.

De fevereiro de 2007 a março de 2008, uma verdadeira limpeza aconteceu no Congresso do país a partir de investigações do Ministério Público colombiano. São 70 parlamentares do Partido de Convergência Cidadã (PCC) acusados de envolvimento com a “narcoparapolítica”, isto é, de manter relações com paramilitares de direita e o tráfico de drogas. Muitos foram presos, incluindo Mário Uribe Escobar, primo do presidente Álvaro Uribe, detido em março deste ano, quatro meses depois de renunciar.

Mário Uribe era presidente do Senado e é acusado de manter ligações com grupo paramilitares armados de ultradireita com o objetivo de expulsar milhares de camponeses de suas terras nos departamentos de Sucre e Antioquia. Ele ainda é acusado de se reunir por duas vezes com o líder máximo dos paramilitares, Salvatore Mancuso, com quem teria feito acordos eleitorais no começo de 2002.

Em abril deste ano, outro senador governista, Humberto Builes, foi preso devido a vínculos com grupos paramilitares. Após 29 prisões a Colômbia debatia se haveria a dissolução do Congresso e a antecipação das eleições, como noticiou o jornal a Folha de São Paulo.

O mesmo Congresso pode aprovar uma emenda constitucional que permitiria o terceiro mandato de Álvaro Uribe. O que parece problemático no caso do presidente Lula, no Brasil, e de Hugo Chávez, na Venezuela, é plenamente aceito no caso colombiano.

Ocultando fatos como esses, a postura nada crítica da imprensa internacional tem pouco a contribuir para o conturbado processo democrático da Colômbia.

Nenhum comentário: