sexta-feira, 11 de julho de 2008

COLÔMBIA - Lula é a melhor opção para negociar acordo com as FARCs.

Lula é a melhor opção para negociar acordo com Farc, diz ex-refém Clara Rojas

Horas depois de ser libertada, dia 2 de julho, a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, que antes de ser seqüestrada era uma das rivais do presidente colombiano Álvaro Uribe, elogiou a política de segurança adotada pelo governo, e disse ser favorável à segunda reeleição do mandatário. Na avaliação de analistas colombianos, as declarações de Betancourt fortalecem a política militarista de Uribe.

Em Paris, na França, a ex-refém assumiu outro discurso e disse que Uribe deveria romper com sua linguagem de "ódio" em relação à guerrilha. "O presidente, e não apenas ele, mas a Colômbia como um todo, deveriam mudar algumas coisas", disse à rádio francesa RF1. O governo colombiano e seus seguidores se referem à guerrilha como terroristas.

Conflito armado

"Acho que é chegada a hora de mudar a linguagem do radicalismo, do extremismo e do ódio, as palavras muito fortes que causam mágoa profunda a um ser humano", afirmou Ingrid, acrescentando que são necessários tolerância e respeito. Marcando diferença com a posição do governo, a ex-candidada à presidência da Colômbia ressaltou a necessidade do diálogo para solucionar o conflito armado no país.

Na opinião de Ivan Cepeda, do Movimento de Vítimas de Crime de Estado (Movice), Ingrid poderá desempenhar "um papel importante" no processo de negociação para um acordo de paz no país. "O governo colombiano pretende converter essa operação como a única forma de tratar o problema do conflito armado; e não é assim", afirma. "A solução passa por um processo de negociação política e Ingrid sinaliza neste sentido", acrescenta.

Acordo humanitário

Na avaliação de Cepeda, a participação da comunidade internacional é fundamental para concretizar um acordo humanitário. O governo colombiano, no entanto, dá sinais de preferir não contar com a mediação internacional. No dia 8, o alto comissário para Paz da Presidência da Colômbia, Luis Carlos Restrepo, afirmou que o governo abrirá mão de mediadores internacionais e buscará um "contato direto" com as Farc. "Há uma decisão já tomada. Depois da libertação de um grande grupo de seqüestrados, vamos colocar em marcha esse contato direto", disse Restrepo a uma rádio local colombiana.

Em um comunicado divulgado também no dia 8, o novo líder da guerrilha Alfonso Cano disse aceitar um contato direto com o governo para negociar um acordo humanitário que prevê a libertação de reféns em troca de guerrilheiros presos.

Apesar de muitos colombianos terem festejado a operação militar de resgate dos reféns, o analista político Ricardo Avila disse que a maioria está convencida de que a saída para o conflito se alcançará por meio da negociação. "Os colombianos podem apoiar uma ação contundente contra a guerrilha, mas estão convencidos de que não há outra saída para o conflito se não for por meio da negociação", afirmou.

Resgate cinematográfico

A operação de resgate que resultou na libertação de 15 reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), entre eles a ex-candidata à presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, foi descrita pelo ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel Santos, como "Um resgate cinematográfico". A operação militar, que alavancou a popularidade do presidente da Colômbia Álvaro Uribe e sua política de combate militar à guerrilha, foi ensaiada como uma peça teatral.

De acordo com a revista Semana, semanário de maior circulação na Colômbia, a ação do exército colombiano deveria ser idêntica à uma missão humanitária de resgate de reféns. Para atuar com perfeição, os militares assistiram dezenas de vezes o vídeo transmitido pela multi-estatal Telesul no momento em que libertaram a advogada Clara Rojas e a ex-congressista Consuelo Perdomo em janeiro desse ano, e o momento da libertação de outros quatro políticos, libertados em fevereiro depois da gestão do presidente da Venezuela Hugo Chávez.

Comunicação interceptada

A tarefa dos militares que participavam da operação era convencer os guerrilheiros de que se tratava de uma operação humanitária coordenada pelo novo líder da guerrilha Alfonso Cano, que assumiu a chefia do grupo em março, após a morte de Manuel Marulanda, líder fundador das Farc.

De acordo com o semanário colombiano, César, um dos homens de confiança do secretariado da guerrilha, teria sido desarmado depois que os reféns já estavam no helicóptero. No entanto, essa versão dos fatos não é a mesma descrita por Ingrid Betancourt, ao desembarcar na base militar de Catam, na capital colombiana Bogotá. Segundo Ingrid, os prisioneiros teriam entrado no helicóptero e logo depois ela teria visto os guerrilheiros já rendidos, algemados, no chão da aeronave.

Métodos utilizados

De acordo com Ivan Cepeda, do Movimento de Vítimas de Crime de Estado (Movice), ainda é cedo para saber com precisão os detalhes da operação, mas acredita que "quando se trata de um exército que tem atuado de maneira pouco ortodoxa, habituado a atuar com pouco respeito às normas internacionais é importante avaliar com cuidado toda a operação, não somente as conseqüências, mas também os métodos utilizados", disse.

Fonte: Blog Brasil de Fato.

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