sexta-feira, 4 de julho de 2008

PETRÓLEO - Carta do Diretor da AEPET.

Rio de Janeiro, 04 de Julho de 2008

DIRETOR DA AEPET ENVIA CARTA A MIRIAM LEITÃO

O diretor de Comunicações da AEPET, Fernando Siqueira, enviou, no dia 01/07/08, carta à colunista do jornal `O Globo`, Miriam Leitão, a respeito dos crescentes aumentos no preço do petróleo e irreversível discrepância entre oferta e demanda de petróleo, no mundo. Até o presente momento, a jornalista não se manifestou sobre a carta, que segue:

`Prezada jornalista Míriam Leitão. Embora tenha grandes divergências ideológicas com a ilustre jornalista, sou leitor assíduo de sua coluna. Em boa parte das vezes você insere matérias com dados interessantes, como no caso da energia renovável, por exemplo.

Infelizmente, ocorrem exceções, como foi o caso da sua coluna de 28/6 no jornal `O Globo`, onde afirma: `Está todo mundo confuso. Inclusive os especialistas. Ninguém previu o que está acontecendo hoje no mercado de petróleo`. Em seguida cita cinco `especialistas`, todos do sistema financeiro, mostrando suas divergências quanto às previsões sobre petróleo. Desses, o único que realmente entende um pouco de petróleo, e assessora o governo americano, é o Mathew Simon.

Os verdadeiros especialistas em petróleo, que vêm fazendo previsões, e acertando, mas não têm espaço na mídia internacional, ao meu ver, são: Jean Laherère, do Instituto Francês do Petróleo e Colin Campbell, presidente da ASPO, Associação Internacional de Estudos do Pico de Produção. No site lifeaftertheoilcrash.net há outros.

Estes especialistas previram, em 1999, que o pico de produção mundial de petróleo iria ocorrer antes de 2010 e que o barril de petróleo ultrapassaria os US$ 100 nessa ocasião. Há, inclusive, uma curva mostrando esse pico de produção, englobando as curvas de todos os países, incluindo o Oriente Médio, águas profundas, o petróleo pesado, etc. Tenho usado esses dados em palestras por todo o País, desde o primeiro Fórum Social Mundial, onde fizemos oficina sobre petróleo e divulgamos esses dados mostrando que este pico seria o terceiro e definitivo choque do petróleo, desta vez irreversível. `Como a demanda continuará a crescer fortemente, haverá uma forte escalada de preços`, disse na ocasião.

Mas estas informações não têm espaço porque a Agência Internacional de Energia e a Agência de Informações Energéticas procuravam esconder tais informações para proteger os países da OCDE (mormente os EUA e a União Européia) à qual elas pertencem e prestam serviço, não deixando transparecer a grave situação que os países membros vivem por consumir muito petróleo e não ter reservas. Elas propagaram informações de que o petróleo é uma mera `commodity` e que o mundo está sobre um mar de petróleo. Enquanto isto, os EUA, que consomem 10 bilhões de barris por ano (8 internamente e dois nas bases militares pelo mundo), tendo somente 29 bilhões de barris de reservas, invadiram o Afeganistão e o Iraque, pelo petróleo.

O Brasil acaba de descobrir uma nova província petrolífera com previsões de reservas da ordem de 90 bilhões de barris, riqueza pertencente, pela Constituição, à Nação brasileira, podendo superar os 20 trilhões de dólares, antes mesmo de ser posta em produção. Vemos com preocupação a reativação da 4ª frota americana e a criação de mais uma base militar americana no Peru.

Além disto, nossos políticos e dirigentes afastam do foco da discussão o absurdo marco regulatório atual, que dá a propriedade do petróleo a quem produzi-lo e apenas 0 a 40% de participação para a União. Destaque-se que a média mundial de participação dos países produtores e exportadores é de 84%. Agora mesmo, fala-se na criação de uma nova estatal 100% do Governo. Seu objetivo seria continuar administrando os leilões, entregando as áreas a quem não pesquisou nem correu riscos para descobri-los e se tornarem donas e exportadoras de todo o nosso petróleo, deixando o valor máximo de 40% no país.

Este é o ponto crucial: o pré-sal evidenciou o absurdo da Lei 9478/97 que, em seus artigos 3º e 21, diz que as jazidas e o produto da lavra do petróleo pertencem à União Federal, mas o artigo 26 entrega o petróleo a quem o produzir, podendo fazer com ele o que quiser, inclusive exportar`.

Fernando Siqueira, diretor de Comunicações da AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobrás. Rio de Janeiro, 01 de julho de 2008.

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