segunda-feira, 9 de março de 2009

SAÚDE - O jejum pode fazer bem?

Pesquisadores americanos tentam comprovar que ficar sem comer por algum tempo pode ser para o corpo humano. Mas, segundo endocrinologista ouvido por ÉPOCA, a prática não é recomendada.

Danilo Casaletti
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BENEFÍCIOS?

Ainda não há comprovação de que o jejum faça bem ao corpo humano

Você gosta de ficar em jejum? A resposta certamente é negativa. Há quem encare o período à base de água por questões religiosas. No catolicismo, por exemplo, o jejum é uma forma de penitência e de renúncia ao prazer que o alimento proporciona; e uma forma de os católicos se solidarizarem com aqueles que passam fome. No judaísmo, o principal período de jejum é o Iom Kipur, o dia do perdão, que inclui abstinência de líquido, alimento, sexo e cigarro, do amanhecer ao pôr-do-sol. No budismo, a prática é usada como forma de purificação do corpo e do espírito. Mas, agora, o que pesquisadores americanos querem comprovar é que o jejum, que sempre está ligado ao sacrifício, pode ser benéfico para o corpo humano.

Foi observando uma comunidade de mórmons que cientistas da Universidade de Utah, na região oeste dos Estados Unidos, perceberam que os praticantes da religião tinham 40% menos chances de desenvolver doenças coronárias, além de uma baixa incidência de diabetes. Entre os mórmons, o jejum é praticado o primeiro domingo de cada mês.

Outro experimento foi o do Instituto Nacional sobre o Envelhecimento, nos Estados Unidos, que sugeriu que ratos e camundongos de laboratório submetidos a períodos de jejum vivem mais tempo e têm menos probabilidade de desenvolver alguns tipos de câncer. Além disso, o ritmo de envelhecimento das células desses animais foi mais lento do que o daqueles que tiveram uma alimentação normal.

Para o diretor da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), João Eduardo Nunes Salles, é preciso ter cautela sobre os possíveis benefícios do jejum. Segundo Salles, não existem estudos com seres humanos para validar a eficácia de que passar um período sem comer faça bem para o corpo. “O experimento com animais nos traz uma conclusão bem simples: aqueles que foram expostos ao jejum não sofriam de obesidade e, por isso, tinham uma qualidade de vida melhor e maior que os demais”, afirma. De acordo com o endocrinologista, há outros métodos já comprovados para prolongar a vida e evitar as doenças relacionadas à obesidade. “Se a pessoa tiver uma alimentação equilibrada diariamente, certamente terá uma qualidade de vida melhor”, afirma. Enfático, ele diz que, salvo em casos de intercorrências médicas - como a realização de um exame ou cirurgia -, não recomenda o jejum para ninguém. “Não adianta de nada”, afirma.

Mattos também condena a atitude daqueles que, arrependidos depois de uma final de semana de comilança, por exemplo, resolvem fazer um dia de jejum para eliminar as gordurinhas extras adquiridas. “Isso não emagrece e o dia seguinte ao jejum é pior ainda, você acaba engordando mais”, diz Salles, que explica que o organismo vai trabalhar para repor tudo de que ele foi privado durante o dia longe dos alimentos.

O que acontece com o nosso corpo durante o jejum

Durante o período de jejum, há uma queda dos níveis de insulina no corpo, o que promove, em um primeiro momento, a utilização de uma substância chamada glicogênio, armazenada no fígado e nos músculos, para a produção de glicose, ou energia. Em um segundo momento, o corpo começa a utilizar as proteínas dos músculos e dos tecidos adiposos e os ácidos graxos para produção de glicose. Por isso, segundo João Eduardo Nunes Salles, é muito difícil que uma pessoa que se submeta a um período de jejum apresente quadros de hipoglicemia. De acordo com o endocrinologista, primeiramente, a pessoa vai sentir uma sensação mais forte de fome, mas, posteriormente, com a normalização dos níveis de glicose, o organismo vai se acostumar com a situação.

Para quem, por questões religiosas, precisa ou opta pelo jejum, é preciso ter cuidado para deixar o corpo bem hidratado durante o período e prestar atenção ao que sentir no dia seguinte. “Um jejum não deve ser acompanhado de um método compensatório. O exagero na alimentação em um pós-jejum é totalmente maléfico para o corpo humano”, afirma Salles.
Fonte:Revista Época.

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