segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ECONOMIA - O que dá começar a repartir o bolo...

O que dá começar a repartir o bolo…

O Globo e o Estadão, hoje, trabalham em cima dos mesmos dados da Fundação Getúlio Vargas, mostrando a redução da pobreza no Brasil desde o início do Governo Lula, em 2003.

O Globo, porém, não consegue sair da “visão de mercado” e vai ouvir…publicitários e dirigentes de empresa, para saber como estão adptando seus produtos para essa “nova classe média”.Embora seja jornalisticamente válido, é uma pena que algo tão importante para a cidadania seja tratado exclusivamente sob a ótica de seu impacto comercial.

O Estadão tem uma matéria melhor: a entrevista com o economista Marcelo Néri, da FGV, responsável pelo estudo. Depois de avisar logo que “não é tucano nem petista” (e, pela entrevista, se vê que não é mesmo), ele vai ao ponto:

-Nos números da Pnad de 2001 a 2008, se observa uma queda muito forte na desigualdade. Ela só tinha se alterado significativamente no Brasil uma vez: nos anos 60, e para cima. A desigualdade aumentou na época do milagre econômico. Por isso o (economista) Edmar Bacha cunhou o termo “Belíndia” (segundo o qual, em termos sócio-econômicos, o Brasil seria uma mistura de Bélgica e Índia). Apenas de 2004 para cá, 32 milhões de brasileiros subiram para a classe ABC. Em cinco anos, 19,3 milhões saíram da pobreza. Então, a boa notícia é que dá para transformar o País rapidamente, aos saltos. A má é que a desigualdade continua grande: ela ainda precisa cair três vezes para convergir ao nível norte-americano, que já é muito alto.

Tirar quase vinte milhões de pessoas da pobreza é algo de uma dimensão que se tem dificuldade até de imaginar. Isso equivale, por exemplo, quase a metade de toda a população nordestina. E e fazer 32 milhões de pessoas entrarem no mundo da inclusão é, evidentemente algo ainda mais impressionante.

É muito, com certeza, mas está muito longe de bastar. Como Neri afirma com propriedade, o Brasil, mesmo ficando um país mais justo, ainda continua extremamente injusto socialmente.

Os jornais não publicaram, mas eu fui buscar para vocês os gráficos elaborados no trabalho do de Marcelo Neri, intitulado Consumidores, produtores e a nova classe média: miséria, desigualdade e determinantes das classes , que publico aí ao lado, mostrando o quanto diminuiram os dois estratos mais pobres de nossa população.

A entrevista de Neri, que merece ser lida, revela ainda algo que sempre sustentamos: o trabalho e o emprego é que sustentam esta mudança.

- O que cresceu significativamente no País foi renda do trabalho, não aquela proveniente dos programas sociais – o que já garante certa sustentabilidade. Outro fator é o aumento da formalização do trabalho. De 2003 a 2009, o número de empregos formais novos foi de 8,5 milhões, o que mostra que o empresário, que é o símbolo e a força dinâmica do capitalismo, está apostando. Parece que a sociedade brasileira como um todo, que sempre aceitou a desigualdade, agora aceita menos.

Digamos, professor, que a elite brasileira está tendo de aceitar a redução da desigualdade. E , reconheça-se, a parte mais humana e mais inteligente dela até percebe que, sem isso, este país será um inferno para todos.

Por que esta elite não pensa senão em negócios. Por isso trata a saída de tantos brasileiros da miséria como um fenômeno de consumo. Não festeja, não se emociona com que seus irmãos passem a viver de forma minimamente digna. Estão sempre arranjando um motivo para justificar a drenagem da renda do trabalho para os grandes negócios.

Grande negócio, para o Brasil, mesmo, é a história de ex-faxineira Marilene Silva, que o Zero Hora de hoje publica.

“Na tarde do último dia 22 de janeiro, a recepcionista Marilene Cardoso da Silva vestiu uma toga preta e entrou no auditório do prédio 41 da PUCRS para receber o seu diploma de pedagoga. Foram os últimos passos de uma caminhada iniciada em 1997, quando Marilene dois filhos pequenos na época e só com a sexta série do Ensino Fundamental decidiu voltar a estudar.

Depois de finalizar um supletivo para o antigo 1º Grau, cursou o Ensino Médio em um colégio estadual da Capital. Para poupar com a passagem de ônibus, os guris Guilherme e Gabriel ficavam em casa, aos cuidados da avó – e Marilene ia direto do trabalho, na própria PUCRS, para as aulas. Formada, em 2006, decidiu encarar um curso superior. Saía de casa às 5h20min para voltar perto da meia-noite. No orçamento apertado, a faculdade pesava mesmo com o desconto que recebia como funcionária da universidade. Ela é agora a única de uma família de 12 irmãos com diploma de curso superior.

– Não quero ter as dificuldades que a minha mãe teve para nos criar. Isso, só com estudo – explica.

As marlenes silva deste país não precisam de muito. Precisam de trabalho e educação. O resto são valentes para conquistar sozinhas. Viva, Marilene, parabéns! Este país é feito de gente, não de “mercado consumidor”!

Brizola Neto

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