O ‘Jornal Nacional’ visto por um cineasta | |
Ritmo uniformiza jornal, novela e comercial. A opinião é de Eduardo Escorel, cineasta, sobreo noticiário da Rede Globo e publicado pela Folha de S.Paulo, 07-02-2010. Eis o artigo. De segunda a sábado, às oito e quinze da noite, o patrocinador oferece o "Jornal Nacional". Durante cerca de 35 minutos, divididos em quatro blocos, separados por três intervalos comerciais, a Globo apresenta as notícias do dia. Na terça-feira, 2 de fevereiro, como de hábito, o casal de apresentadores diz "boa noite" e anuncia as principais manchetes, sentado atrás de uma bancada. O cenário tem um toque futurista, combinando formas criadas em computação gráfica com a própria redação. Teclados e telas de computador, à frente dos apresentadores, parecem apenas peças decorativas. O casal está vestido e penteado com sobriedade. Ele, de paletó e gravata; ela, de vestido preto com gola branca. Durante o programa, rápidos olhares entre eles tentam romper a formalidade da postura e a frieza do ambiente. Mas predomina o olhar direto para a lente das câmeras e a leitura ininterrupta do "teleprompter", em tom imperativo. É através da voz e do olhar que se procura prender a atenção. A imagem é secundária. Busca uma certa neutralidade ou serve apenas para ilustrar as narrações em "off". Nessa atmosfera asséptica, o rosto ferido e sangrando da vítima de um acidente parece incluído por engano. O contraste entre o artificialismo do estúdio e a vida real costuma ser atenuado, mesmo quando é dada ênfase a tragédias, crimes, agressões, fraudes e corrupção. Repórteres, com uma exceção, usam figurino formal, segurando à frente o microfone com a marca da emissora. Também falam olhando diretamente para a lente, de costas para o que constitui a notícia. Poucos procuram se relacionar com o ambiente à sua volta. Um deles, pecando por excesso, grava com água pelo meio da canela, em rua alagada e deserta, vestindo capa de chuva e capuz. O comentário e a contextualização da notícia são reduzidos ao mínimo. O especialista em educação fala por cerca de 15 segundos; o médico, por dez; o economista, por nove. A linguagem do "Jornal Nacional" não destoa do que vem antes e depois. Nem dos comerciais exibidos nos intervalos. O ritmo acelerado do jornalismo, da publicidade e da dramaturgia é semelhante. Há uma uniformidade entre os três gêneros, suavizando as passagens de um para outro: da novela para o jornal e de volta para a novela. |
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
domingo, 7 de fevereiro de 2010
MÍDIA - O JN visto por um cineasta.
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