O observador atento dos costumes políticos nacionais, sem maior dificuldade, constatará uma clara evidência. A oposição, em nosso meio, apresenta-se com contornos sazonais.
Não existem oposicionistas permanentes. Representantes populares capazes de apontar erros da administração durante todo o mandato dos ocupantes dos cargos do Executivo.
Após a posse dos prefeitos, de governadores ou do presidente da República, o silêncio da oposição é pleno. Passa a freqüentar os gabinetes do Executivo com desenvoltura.
Mostra-se prestativa e profundamente sensível aos programas a serem concretizados durante os quatro anos da nova administração. Os oposicionistas mostram-se cordatos e lhanos de trato.
Ocupam lugar nas cerimônias públicas. Aceitam convites para almoços e jantares. Freqüentam os mesmo lugares públicos que os situacionistas. Fazem questão de se mostrarem íntimos dos governantes.
Oposição e situação parecem desejar os mesmo objetivos. Nada de conflitos. Muito menos de investigações. Ao contrário, as mazelas dos Executivos são omitidas. Vale a boa camaradagem.
Tudo muda quando se aproxima o fim dos mandatos dos eleitos para cargos do Executivo. Ai estes – prefeitos, governadores e presidente da República – tornam-se para oposição perigosos tiranos.
O Executivo, em qualquer nível, é capaz de praticar os mais asquerosos atos de improbidade administrativa. Torna-se facínora perigoso, capaz das mais hediondas práticas.
Sempre foi assim. Não será diferente na atual campanha eleitoral. As figuras até ontem elogiadas por atos e atitudes passaram a se portar, segundo a oposição pré-eleitoral, como celerados.
É mais um traço da personalidade nacional. O brasileiro não pode viver longe do poder. Como seus antepassados ibéricos, pelo afago do rei tornam-se vilões.
Perdem a respeitabilidade. Querem conviver com a nobreza do poder. Esquecem que pertencem à oposição e foram eleitos para vigiar e fiscalizar os governantes durante todo o período do mandato recebido.
As CPIs são esquecidas e até esquecidos os ritos de seu procedimento. No entanto, quando se aproximam eleições, por toda a parte querem os oposicionistas investigar. Tornam-se novos Catões.
Adoram um espaço nos noticiários da televisão e das rádios. Falam sem pensar. Agridem sem causa. Não se preparam para fazer indagações. É o mero espetáculo, pelo espetáculo.
Nada de conteúdo. Perdem-se na presença de um técnico bem preparado, mesmo que este esteja escondendo toda a verdade. Parecem os oposicionistas maus alunos durante prova oral.
Os espetáculos proporcionados pelas televisões públicas do Congresso Nacional apontam para uma oposição despreparada e insolitamente agressiva. Apenas verbalmente. O conteúdo é medíocre.
Os partidos políticos precisam preparar os seus quadros, particularmente quando querem assumir o papel de oposição. Atualmente, a farsa é lamentável. Pobre e mesquinha.
A conclusão que se capta é simples. A política, nestes trópicos, tem traços próprios do aventureiro: audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade e vagabundagem, tal como enumerou o sociólogo ao apontar as características dos primeiros colonizadores chegados às terras do Brasil.
Fonte: Blog do Cláudio Lembo.
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