| | O problemão Yidisgate
| Apesar do Plano Colômbia, em 2007, o cultivo de cocaína na Colômbia aumentou 27%, contra os 4% do Peru e os 5% da Bolívia[1]. Este é um «problemão» para Uribe, mas pode reduzir-se a um «problemazinho» comparado com o Yidisgate, que lhe acaba de estalar nas mãos: o Supremo Tribunal de Justiça sentenciou que foi ilegítimo o acto legislativo que aprovou a reforma que permitiu a sua reeleição em 2006 e pediu ao Tribunal Constitucional para se pronunciar sobre o caso. Em 2004, Uribe viu-se obrigado a violentar a constituição para se reeleger, porque os votos no congresso não o favoreciam. Yidis Medina – de aqui o Yidisgate – junto com outros dois colegas, Teolindo Avendaño e Ivan Díaz, opuseram-se durante muito tempo à reforma. De um momento para o outro, mudaram de opinião e a reforma passou porque foram subornados pelo governo do Senhor das Sombras. Yidis Medina, que acaba de ser condenada a três anos de cárcere – comutados por prisão domiciliária porque «colaborou» com as autoridades e é mãe chefe-de-família – reconheceu que vendeu o seu voto a troco de prebendas políticas e económicas, várias das quais não foram cumpridas, o que a levou a denunciar a situação às autoridades. O tribunal que condenou os corruptos foi muito claro e no caso de Yidis Medina afirmou que a mesma «ostentando um cargo de eleição popular, decidiu trair a confiança e o interesse colectivo a troco de dádivas, mesquinharias aviltantes (...) e promessas burocráticas». Para já há três altos funcionários uribistas a contas com a justiça pelo Yidisgate: dois ex-ministros, um ex-director da polícia política, um ex-superintendente de Notariado e Registos e o ex-chefe dos assuntos políticos do Ministério do Interior. Uribe não gostou nada desta decisão do Supremo Tribunal de Justiça e criticou duramente o Tribunal, afirmando que era diligente nas investigações de alguns congressistas vinculados com os paramilitares, mas «negligente» no caso dos acusados de nexos com a guerrilha. Repete assim a velha táctica de tentar ligar com as guerrilhas todos os que ousem criticá-lo.
A lei e o Senhor das Sombras
Esta não é, porém, a primeira vez que Uribe – já como presidente – anda em confronto com a Justiça. Em Maio, quando o seu primo Mario Uribe foi preso por ligações com os paramilitares, Uribe barafustou contra os juízes. Dias depois, contrariou as recomendações do máximo órgão judicial do país e extraditou 14 chefes paramilitares, com o objectivo de parar as suas revelações, as quais já tinham permitido deter 29 congressistas ligados a Uribe e estavam a facilitar as investigações relacionadas com outros 51. Entregá-los a Bush foi a maneira de parar as investigações e de impedir conhecer novas verdades sobre os aspectos mais sujos e criminosos da sua presidência. Esta decisão do Supremo Tribunal de Justiça está longe de ter esgotado todas as suas consequências. Uribe respondeu com a chantagem de um referendo que decida se se repetem ou não as eleições de 2006. Jaime Castro, ex-ministro, afirmou que Uribe «quer politizar uma decisão judicial» e que o pedido de referendo tem duas interpretações: «uma, que é um garrafal erro político, e duas, uma jogada mestra (..) própria de um sucessor de Maquiavel, para garantir a segunda reeleição». Desde o Pólo Democrático Alternativo, o ex-magistrado Gaviria Díaz acusa Uribe de querer instaurar uma «ditadura populista» porque as sondagens lhe dão 84% de popularidade. Por outro lado, Antanas Mockus, ex-autoridade máxima de Bogotá, diz: «Se estivesse no seu lugar, teria renunciado». Para o ex-presidente Samper o referendo não vai solucionar, mas aprofundar a crise política. Hernández Galindo, ex-presidente do Tribunal Constitucional diz que se Uribe quer responder com argumentos políticos a uns argumentos judiciais e trata de pôr o povo contra a CSJ, quase de poderia falar de «um golpe de estado» (..) «Um referendo não pode ser para (...) desconhecer um decisão judicial». Uribe entrou em pânico. No uribismo «há pessoas – afirma o jornalista Carlos Lozano – que já não apoiam a sua reeleição, entre elas o chefe dos empresários e o presidente da Bolsa de Bogotá», porque a sua situação está cada vez mais ligada a ilegalidades. Entretanto, o Yidisgate cresce. Carlos Gaviria (Pólo Democrático) pergunta se é possível condenar quem recebeu o suborno e não quem o deu. «É como se houvesse um tio sem sobrinho». ____________ [1] Relatório Mundial sobre as Drogas (ONU) Fonte: Jornal Avante.
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