George W. Bush deixará a Casa Branca em janeiro que vem. Mas tudo pode acontecer no apagar das luzes do mais impopular e possivelmente o mais reacionário dos 43 presidentes estadunidenses. Por exemplo: um ataque militar de Israel ao Irã, que o general e vice-primeiro ministro de Israel, Shaul Mofaz, declarou ser ''inevitável''.Ao longo do mês, publicações como a revista alemã Der Spiegel e o jornal estadunidense The New York Times mencionaram a iminência do ataque. O pretexto é o programa nuclear iraniano, alvo de pressões e chantagens orquestradas a partir de Washington, inclusive sanções econômicas, há pouco secundadas pela União Européia.
A República Islãmica do Irã não abre mão de seu programa nuclear. Tem 68 milhões de habitantes, uma economia quase toda dependente de uma riqueza não renovável – o petróleo – e potencial hidrelétrico limitadíssimo. Argumenta que precisa de usinas nucleares para se desenvolver e não para fabricar a bomba.
Por uma ironia sinistra, os acusadores e possíveis agressores do Irã são: os EUA, que detêm o maior arsenal atômico do mundo (superior à soma de todos os outros) e são o único país que já usou bombas nucleares, em 1945, contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, causando a morte de 450 mil civis; e Israel, uma potência nuclear ''não declarada'', com arsenal atômico calculado em 200 ogivas, voltadas contra seus vizinhos do Oriente Médio.
Há razão para esperanças de que a declaração de Mofaz não passe de uma fanfarronada. E de que Bush, depois do Afeganistão e do Iraque, careça de cacife para abrir uma terceira frente de sua ''Guerra contra o Terror''. Mas não há como descartar a possibilidade. Ainda em junho a Força Aérea de Israel empreendeu manobras com toda a aparência de ensaios de ataque às usinas nucleares iranianas.
EUA e Israel equiparam-se igualmente no fundamentalismo religioso que infecciona a ala direita de seus meios políticos. Ainda agora, motivo do 60º aniversário do Estado sionista, Bush (que diz ter invadido o Afeganistão e o Iraque porque Deus em pessoa o ordenou) reafirmou essa santa aliança de fundamentalismos em um discurso cheio de misticismos e mistificações. O possível ataque ao Irã seria feito sob o estandarte ideológico dos primeiros e a cortina de fumaça das últimas (quem se lembra dos inexistentes ''artefatos de destruição em massa'' iraquianos?).
Uma tal aventura terminaria de atear fogo em todo o Oriente Médio, onde faz gerações que o sentimento antiimperialista cria raízes e cumula material inflamável. Quer em sua vertente laica, quer na religiosa – que tem nos governantes iranianos uma importante expressão –, esse sentimento representa objetivamente uma força legítima e progressista.
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
sábado, 5 de julho de 2008
EUA - Ameaça de ataque ao Irã.
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