sábado, 5 de julho de 2008

INGRID - O outro lado da história.

O episódio da libertação da franco-colombiana Ingrid Betancourt e mais 14 reféns das Farc, entre os quais três agentes policiais estadunidenses, vale algumas reflexões, que remetem inclusive à problemática da democratização da mídia. É que depois do anúncio da soltura dos seqüestrados, praticamente cem por cento dos veículos de comunicação repetiram a mesma retórica, com destaque para o “enfraquecimento” do Presidente Hugo Chávez. Ou seja, prevaleceu o esquema do pensamento único de uma só verdade, divulgada pelo governo colombiano.

A versão sobre as circunstâncias da ação, apesar do carnaval relacionado com o esquema gênero Rambo, tem pontos obscuros que não mereceram destaque na mídia. Teria havido algum acordo com as Farc ou o que está sendo informado corresponde exatamente a realidade? Como que um grupo armado em operação permanente desde 1964, por mais enfraquecido que se encontre, como parece neste momento, se deixa enganar tão facilmente pelos rambos com camisas de Che Guevara?

O que fazia o candidato John McCain na Colômbia? Ele estava lá por mera coincidência? Difícil de acreditar. O governo estadunidense diz que não participou diretamente da operação etc e tal. Difícil de acreditar.

Afinal, o carcereiro de Ingrid Betancourt se deixou enredar pelos rambos ou caiu numa armadilha depois que houve o acordo e acabou preso? As agências de notícias tinham informado poucas horas antes da libertação dos reféns que o ex-cônsul francês em Bogotá, Noel Saenz e o diplomata suíço Jean-Pierre Gontard, fizeram um contacto com as Farc para discutir o destino de Betancourt. O noticiário dizia que “um negociador francês e um suíço passaram três dias numa área onde se acredita que operam importantes comandantes, como parte do esforço para a libertação dos reféns que incluem a franco-colombiana Ingrid Betancourt e três estadunidenses”.

O insuspeito jornal conservador Le Fígaro informava que os negociadores tinham se reunido com uma pessoa próxima de Alfonso Cano (o substituto do falecido Manuel Marulanda Vélez, o Tiro Fijo), nas montanhas do sul da Colômbia para, de acordo com “fontes oficiais colombianas”, discutir o destino de Betancourt.

Outro fato que não se deve deixar de mencionar: há cerca de dois meses diziam que Ingrid Betancourt estava mal de saúde, talvez até não resistisse a uma série de doenças que teria contraído no seu cativeiro na selva. Pois bem, ela reapareceu parecendo muito bem de saúde e até bem disposta. Será que somente a alegria de conseguir a liberdade fez com que ela mudasse de fisionomia de uma hora para outra?

Os falcões estão radiantes. Vão insistir com a tese de que a única saída é mesmo a do confronto militar. O Pólo Democrático, o setor da esquerda democrática que se opõe a Uribe, já deixou claro em uma nota que “o êxito da operação – partindo-se do pressuposto de que prevalece a verdade dos Rambos – não pode levar à conclusão de que o resgate militar é o método eficaz e seguro para libertar os seqüestradores, sem risco para a vida e integridade (das vítimas), e que se deve descartar a possibilidade de um acordo humanitário como paliativo às conseqüências do conflito armado enquanto este subsiste”.

É importante conhecer o ponto de vista deste setor neste momento, porque os falcões de todos os rincões vão querer induzir a opinião pública que fora do confronto militar não há mesmo outra saída. Para tanto foram acionados os colunistas de sempre e até mesmo figuras conceituadas do mundo acadêmico.

Desancaram sobre o presidente Hugo Chávez, considerado “enfraquecido” pelo desfecho da operação. Tentaram de todas as formas, com base na mentira ou meias verdades, insinuar, como faz o Departamento de Estado norte-americano, que o presidente venezuelano apóia as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Há poucas semanas, Chávez apelou às Farc no sentido de libertar os seqüestrados sem qualquer condição. Para o presidente venezuelano esta seria uma forma concreta de se avançar nas negociações. O apelo teria sido levado em conta e sinalizou para o início de um acordo que contemplaria a libertação de 41 reféns?

Outra reflexão importante, que foi enfatizada por Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva e Rafael Correa, entre outros, é o de que a América Latina hoje não comporta mais a luta armada como forma de se chegar ao poder. Em muitos casos a insistência nesta via pode servir de pretexto para a linha dura Uribe-Bush colocar a estratégia belicista em ação.

Em
tempo: Informação mais recente divulgada pela rádio pública suíça Romanda, assinala que as Farc teriam recebido quase 20 milhões de dólares para libertar Ingrid Betancourt e os outros 14 reféns. A emissora disse ainda que os Estados Unidos estiveram na “origem da transição” e todo o resto foi uma encenação. Segundo ainda a emissora, a informação tem como base uma "fonte ligada aos acontecimentos, confiável e testada em reiteradas ocasiões nos últimos anos".

Uma outra versão assinala que o pagamento teria sido feito a um guerrilheiro.

O governo francês nega que tenha feito qualquer pagamento.

É possível que muitos outros fatos venham a se tornar públicos mais cedo ou mais tarde. Quem viver verá
Fonte: Direto da Redação.

Nenhum comentário: