sábado, 5 de julho de 2008

EUROCOPA - Xenofobia européia.

Um brasileiro, negro, está entre os responsáveis pelo provável fim do complexo de vira-lata do futebol espanhol após a recente conquista da Eurocopa. É o jogador Marcos Senna, que ficou entre os melhores da competição e foi escolhido pelos próprios espanhóis, em sondagem do El País, como destaque da seleção campeã.

Marcos Senna é um imigrante brasileiro que foi para a Espanha em busca de melhores condições de trabalho. Sentiu-se tão adaptado ao país que optou pela nacionalidade espanhola para poder disputar uma Copa do Mundo. Sua situação tem certas particularidades, mas pode ser comparada a de muitos outros imigrantes brasileiros que vão para a Europa atrás de trabalho e melhores dias.

O sucesso de Marcos Senna poderia ajudar a Espanha e a Europa a refletirem sobre a xenófoba lei de imigração aprovada pelo Parlamento Europeu. O continente que já viveu duas grandes guerras, fome e pobreza, causando, inclusive, grandes levas de imigrantes, deveria ser o exemplo da tolerância e não do preconceito.

Na véspera da final da Eurocopa, uma emissora brasileira de televisão exibiu reportagem com os parentes de Marcos Senna torcendo por seu sucesso. Era uma família tipicamente brasileira, todos negros, trajando orgulhosamente a camisa da seleção espanhola. Torciam pelo filho e pelo país que o acolheu. Podemos imaginar que se a família de Marcos Senna chegasse a Espanha para visitá-lo sem identificação prévia, correria o sério risco de ser mandada de volta do aeroporto de Madri.

O comportamento europeu é, para dizer o mínimo, ingrato. Quando o continente precisou de mão-de-obra imigrante para forjar o seu desenvolvimento, não hesitou em abrir as portas. Quando precisou exportar seus cidadãos sem perspectivas, encontraram na América um porto seguro, onde muitos prosperaram e se integraram totalmente à vida de seus novos países.

No Brasil, a colônia espanhola é imensa. Os portugueses são irmãos e jamais foram tratados como conquistadores. Os italianos ajudaram a colonizar o sul e a fazer de São Paulo uma potência econômica. Os alemães também se instalaram no Sul e influenciaram a nossa cultura.

A decisão européia merece condenação universal. Os países sul-americanos aprovaram uma declaração repudiando a Lei do Retorno, que permite aos países europeus prenderem imigrantes ilegais por até seis meses antes de deportá-los . Também está em exame um recurso ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. O movimento sul-americano precisa da solidariedade global para interromper um retrocesso histórico.

O mundo desenvolvido, defensor da livre circulação do capital e dos produtos de suas empresas, não aceita a livre circulação de pessoas, questão fundamental na construção da unidade européia sob o conceito de liberdade e justiça.

O que a Europa promove com a nova lei é a criminalização do imigrante, geralmente latino-americano, africano ou asiático. É uma medida racista, que lembra os piores momentos da história do velho continente.

Fonte: Direto da Redação.

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