Os recentes ataques de hackers ao sítio oficial do PT confirmam que a internet será um campo de batalha privilegiado na guerra eleitoral deste ano. Quem não investir neste meio virtual e não souber usar seus diversos recursos terá maiores dificuldades para se consagrar nas urnas – seja na disputa pelos cargos majoritários (presidência, governos estaduais e senado) ou proporcionais (deputados federais e estaduais). Não é para menos que já ocorre uma verdadeira corrida para a internet dos principais contendores de 2010.
518 mil guerrilheiros virtuais
Em outubro passado, o PT lançou o seu novo portal, com emissora de rádio e TVWEB. O projeto custou cerca de R$ 600 mil em equipamentos, além do custo mensal de R$ 60 mil com sua manutenção. A direção petista também conclamou os 518.912 mil filiados que participaram das eleições internas do partido, em novembro, a se transformarem em “guerrilheiros virtuais”, utilizando as várias ferramentas – blogs, sítios, twitter, Orkut, Facebook e outras – na guerra de “informação e contra-informação” da campanha.
Segundo o deputado André Vargas, secretário de comunicação do PT, a internet será decisiva na eleição deste ano. “O PT já conta com imensa base social, ao contrário dos tucanos. Nossa militância tem discurso e será estimulada a divulgá-lo... Vamos trabalhar fortemente na internet. O Twitter, por exemplo, pauta a mídia e é um instrumento formador de opinião”, explica Vargas, que propõe a criação de milhares de comitês virtuais, que teriam a tarefa de adaptar o discurso nacional às realidades regionais.
A infantaria virtual dos tucanos
O PSDB também investe pesado na internet. As informações sobre gastos nesta área são menos transparentes, mas as movimentações são intensas. Segundo reportagem do jornal Correio Braziliense, intitulada “Tucanato organiza infantaria virtual”, o partido está de olho nos 44 milhões de brasileiros já “conectados”. O comando desta operação de guerra está a cargo de Eduardo Graeff, que foi secretário-geral da Presidência no reinado de FHC e é amigo intimo de José Serra desde 1978.
“Graeff coordena ao lado de outros nomes de destaque do partido a estratégia que o PSDB começou a traçar desde o ano passado, pensando no potencial eleitoral da internet. Ele trabalha para conseguir o que chama de ‘infantaria’. A internet será a principal arma do PSDB para angariar aquilo que ainda é uma herança poderosa e invejada do PT: a militância. ‘Somos ruins de organização da base. O PSDB é um clube parlamentar’, explicou Graeff”, relata a reportagem do Correio Braziliense.
Investimentos pesados na internet
Para montar sua “infantaria”, os tucanos já possuem cinco sítios – um deles dirigido por Gila Schulman, ex-secretária de comunicação do governador Jaime Lerner. O PSDB também contratou a empresa Loops Mobilização Social, especializada em marketing digital. Ela atuará na captação de doações e no monitoramento de informações. Criada por quatro jovens – entre eles, Arnon de Mello, filho do senador Fernando Collor--, a Loops vai atuar sob a coordenação do empresário Sérgio Caruso, da agência Sinc.
Além dos dois partidos com fortes candidatos à presidência, outras forças estão tateando o uso da internet. Para a campanha de Marina Silva, o frágil PV acionou Caio Túlio, o fundador da UOL. O esforço é para potencializar ao máximo essa moderna arma digital, conhecendo melhor suas ferramentas, linguagem e a relação com os internautas. Em recente entrevista à BBC, Joe Rospars, que se consagrou mundialmente como “diretor de estratégia digital” da vitoriosa campanha de Barack Obama, alertou que a internet é um instrumento que exige cuidados especiais.
As especificidades do espaço virtual
Com base na sua experiência nos EUA, ele afirma que a internet está revolucionando a comunicação entre políticos e eleitores. Para ele, não dá para encarar este meio como o das outras mídias. Cada uma tem sua especificidade e sua importância. O diferencial da internet é que ela permite um maior engajamento de pessoas. Para isso, a interatividade é essencial. A internet não é um meio unidirecional. Outra baita vantagem, nem sempre valorizada, é que ela é multimídia, integrando vários recursos – texto, áudio, vídeo.
“A maior mudança é que a barreira para entrar é menor e mais pessoas podem participar de diferentes maneiras do processo político. Você não tem necessariamente que ser uma pessoa envolvida com política em período integral ou ser membro de um partido para expressar sua opinião ou organizar algo em sua comunidade... A grande diferença é que não são mais apenas os políticos e a mídia que determinam o discurso. Com a internet há também pessoas em suas comunidades conversando entre si”.
Ele deixa claro que a internet é uma poderosa ferramenta, mas não substitui o candidato e o programa. “Não há substituto para uma mensagem forte e um candidato que acredita no que diz. Há novas técnicas e ferramentas, mas não há um segredo especial... A tecnologia simplesmente torna possível que mais pessoas participem, mas o caráter político continua sendo o mesmo. A internet torna tudo muito mais fácil e mais pessoas podem participar, mas no fundo a questão é de construir relacionamentos”.
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