domingo, 11 de maio de 2008

ARTIGO - Agripino e a tortura.


ARTIGO - Agripino e a tortura.
Eu participei do movimento estudantil e talvez, por não pertencer a nenhuma organização, escapei de ser preso. Porém, tive companheiros e uma prima que foram presos e torturados pela redentora. Dito isto, entendi bem o sentimento da Dilma Roussef ao ser inquirida pelo senador.O artigo a seguir do Paulo Moreira Leite é para ser lido e guardado.

Ao longo de sua história os anais do Congresso brasileiro dificilmente terão registrado uma declaração tão repulsiva como as afirmações do senador Agripino Maia sobre a ministra Dilma Roussef. Ao acusar a ministra de mentir quando estava presa sob o regime militar, o senador deu a tortura a legitimidade de um teste de caráter. Transformou o porão que massacrava opositores num local onde vigoravam princípios como o respeito a verdade. No mundo inteiro os torturadores gostam de culpar as vítimas pelos crimes que eles cometem. Seu comportamento mais frequente é inverter os papéis para esconder a própria responsabilidade. Eles sustentam que a pessoa que responde a um interrogatório e dá informações após receber choques elétricos, porrada e ir para o pau de arara não é vítima de um crime, mas um cidadão com falha de caráter, um delator e um fraco. O ato de torturar, por este raciocínio, não seria uma violência nem uma covardia - mas uma forma de se chegar à verdade. Esse raciocínio tenta dar a impressão de há uma ética no porão, onde no fundo todos seriam iguais – o problema é que algumas vítimas são “corajosas” e outras, “covardes”. Algumas teriam mais “saúde” para enfrentar os castigos e as outras seriam “pouco resistentes.” Alguns falam a "verdade" e outros "mentem." A idéia, sempre, é transferir a responsabilidade para a vítima e apagar o papel do carrasco. Em 1970, o pai de um estudante preso pela OBAN em São Paulo, foi pedir satisfações a um capitão que comandava o destacamento. Ouviu o seguinte:“Seu filho está apenas levando socos e pontapés; mas isso não tem importância, porque também os levaria na faculdade. Está também levando choques elétricos, mas não se impressione porque os efeitos são meramente psicológicos.”A pressa de amigos e aliados para tirar o senador de cena envolve um esforço teatral de sobreviência. Mas era tarde. Com o pronunciamento, caiu a máscara de uma velha direita brasileira, que faz juras de amor à democracia por pura conveniência. Acho que o Senado Federal deveria seguir o exemplo de um juiz que tentou reeducar dois delinquentes da internet obrigando-os a ler Guimarães Rosa e Graciliano Ramos para saber como a vida é dura.Agripino Maia deveria ser obrigado a ler as 312 páginas do Brasil Nunca Mais, de onde tirei a citação acima (que está na página 229). Talvez assim ele pudesse entender porque a Constituição brasileira define a tortura como crime hediondo – e tivesse dignidade na próxima vez em que fosse abrir a boca no Senado Federal. E você, tem alguma sugestão para reeducar o senador?

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