sábado, 21 de junho de 2008

REFLEXÕES DE FIDEL - Bush, os milionários, o consumismo e o subconsumo.

Não é necessário provar que a matança prossegue com ódio crescente no Iraque, um país onde mais de 95% do povo é muçulmano deles, mais do 60% xiitas e o resto sunitas e no Afeganistão, onde mais de 99% é também muçulmano 80% sunita, e o resto xiita. Ambos povos estão constituídos a sua vez por nacionalidades e etnias de diversas procedências e localização.
Além de soldados dos Estados Unidos, no Afeganistão estão envolvidos os de quase todos os Estados europeus, incluído o reforço francês ordenado por Sarkozy.
Os russos não deixaram-se embarcar nesta guerra; sua cota de sangue ali tinha sido suficientemente ampla e seu custo político, incalculável. Seguramente, no Afeganistão morreram, como os soldados soviéticos, cidadãos da Estônia, Lituânia, Letônia, Geórgia e Ucrânia, que hoje fazem parte ou aspiram a ingressar na OTAN como repúblicas ex-soviéticas.
Outro fato muito real é que a luta contra a heroína não é mencionada em um país onde a guerra tem convertido aos que cultivam a papoula em capazes de abastecer as necessidades médicas de ópio e prover além de drogas a uma cifra inúmera de pessoas.
O Presidente da Rússia observa que a OTAN cresceu de 16 a 28 membros. Bush declara que olhou nos olhos de seu interlocutor russo e leu seu pensamento, é o que faz com o teleprompter? Mas não explicou se escrito em inglês ou em russo.
Extraíram da Rússia mais de 500 bilhões de dólares através dos países capitalistas da Europa Ocidental, uma parte importante dos quais foram investidos em empresas altamente rentáveis ou residências de luxo, e o resto em bancos norte-americanos amparados pelo governo desse país. Tudo era ilegal e imoral. Antes de seu desaparecimento, a URSS foi vítima de sabotagens como o que fez explodir por meios técnicos o gasoduto da Sibéria, operado com software norte-americano, cavalo de Tróia do império, e desarmou-se unilateralmente ante Reagan, como tem sido demonstrado.
Não posso menos que lembrar na segunda-feira 3 de abril, quando coloquei de lado o volumoso boletim das notícias internacionais, e peguei o Granma desse dia para me distrair um momento. Comecei por olhar a última página. Que surpresa! Juan Varela ilustrava-nos com uma descrição quase perfeita da diferença entre o Conejito de Aguada de Pasajeros, na província de Cienfuegos e o de Nueva Paz, província de Havana, ambos abertos 24 horas por dia. No primeiro lutou-se e luta-se numa batalha até agora ganha. No segundo, ainda que lute-se, não está ganha ainda.
Que nos conta Juan Varela? “Os vendedores procedem de diferentes lugares, funcionam como uma espécie de associação com um original sistema de aviso. Mediante sinais alertam a presença de agentes da autoridade ou de qualquer dirigente. Com felina mobilidade são capazes, em poucos minutos, de desmontar o palco de operações e transladar a mercadoria para um lugar conveniente. Ali esperam o sinal de normalidade.”
De onde procede o que vende a quinta coluna em Nueva Paz? São mercadorias subtraídas de fábricas, transportes, centros de armazenagem ou distribuição. Os que rendem culto ao egoísmo sem restrição alguma por parte do Estado, o qual consideram de perturbador, não poderiam construir jamais uma obra social sólida e duradoura, que em nossa época, com o desenvolvimento das forças produtivas, só pode ser fruto da educação e a consciência, criando valores que devem ser semeados e cultivados.
Não está proibido pensar; também não está proibido sonhar, mas pensar não prejudica ninguém; sonhando pode-se afundar um país ou algo mais: a própria espécie. Junto às forças produtivas, a ciência tem desenvolvido paralelamente as forças destrutivas. Alguém pode negar?
Nesse mesmo dia, volto a folha do Granma e encontro-me com a seção “Por trás da notícia”, escrita por Elson Concepção Pérez. O que diz textualmente não tem desperdício:
“Nem uma só notícia da grande imprensa refere-se às diferenças sociais, ao desemprego, a inflação, entre outros males vindos com o capitalismo.
“Na Internet, não obstante, pode-se conhecer essa outra cara da moeda: um grupo de 300 romenos. Os mais ricos?, Tem atingido a espetacular cifra de mais de 33.000 milhões de dólares, que representam 27% do Produto Interno Bruto deste país, segundo informou a revista Capital ´Top 300´.
“Enquanto são milhões os que vivem abaixo da linha da pobreza, a nação do Leste Europeu tem um cidadão com uma fortuna calculada entre 3 bilhões 100 e 3 bilhões 300 milhões de dólares.
Seu nome é Dinu Patriciu, que recentemente vendeu uma parte da companhia petroleira Rompetrol ao grupo KazMunaiGaz, do Cazaquistão, por 2.700 milhões de euros.” Quase 4.000 milhões de dólares. “Dinu destronou Iosif Constantin Dragan, que ficou relegado ao sétimo posto com um capital dentre 1 bilhão 500 e 1 bilhão e 600 milhões de dólares, diz textualmente a publicação.
“Gigi Becali, dono do clube de futebol Steaua, tem a segunda maior fortuna, estimada entre 2 bilhões 800 e 3 bilhões de dólares, que tem acumulado sobretudo no setor imobiliário.
“O ex-tenista e homem de negócios de Ion Tiriac, o segundo homem mais rico em 2006, com ações na bolsa, seguros e automóveis, passou para o terceiro lugar com uma fortuna entre 2 bilhões 200 e 2 bilhões 400 milhões.”
Até aqui é o que em forma detalhada reporta Elson na seção de Granma.
Recordemos todos que a Romênia era um país socialista, onde tinha petróleo e indústria petroquímica bastante desenvolvida, generoso solo e clima para a produção de alimentos protéicos e calóricos, para não citar outros ramos.
Tinha ali teóricos do acesso fácil aos bens de consumo, como há em Cuba; ouvidos e olhos imperiais atentos a esses sonhos.
Há outros perigos derivados do capitalismo desenvolvido: a mudança climática.
Uma notícia da AFP informa sobre as declarações de James Hansen, principal especialista em clima da NASA (Administração Nacional de Aeronáutica e do Espaço, criada por Eisenhower em 29 de julho de 1958, uma instituição que tem sido decisiva para o poder atual dos Estados Unidos).
“´As emissões de dióxido de carbono à atmosfera já atingiram um nível perigoso´ de 385 partículas por milhão, o que representa um ´ponto crítico´, explicou à AFP Hansen, quem, aos 67 anos de idade, dirige o Instituto Goddard de estudos espaciais da NASA em Nova York.”
“O principal obstáculo para resgatar o planeta não é de ordem tecnológica, afirmou James Hansen, nomeado em 2006 entre as 100 pessoas mais influentes pela revista estadunidense Time”.
“Ficou-me claro no curso dos últimos anos que tanto o poder executivo como o legislativo têm estado fortemente influenciados pelos interesses específicos do setor das energias fósseis, sublinhou.
“A indústria induz ao erro o público e os responsáveis políticos sobre as causas da mudança climática. Da mesma maneira em que o fazem os fabricantes de cigarros: sabem que fumar provoca câncer, mas têm recrutado cientistas para afirmar o contrário´, acrescentou.”
“Durante uma audiência no Congresso, Hansen denunciou as interferências que impedem que as informações científicas atinjam o público depois de chegar ao governo do presidente George W. Bush.
“Os responsáveis pelas relações públicas do governo -explicou nesse momento- filtram os fatos científicos para reduzir nas pessoas a idéia de que a mudança climática e as emissões de gases de efeito estufa estão vinculados.”
“Os responsáveis políticos, que deveriam estar à corrente, ´ignoram o estado atual do problema, sua gravidade e sobretudo sua urgência´, acrescentou.”
Outro ponto importante que desejo assinalar: O Fundo Monetário Internacional (FMI), baluarte do sistema capitalista desenvolvido imposto à humanidade, possui 3. 217 toneladas de ouro. Os Estados Unidos, com direito a 17% dos votos que se emitam, privilégio concedido à potência dominante após a Segunda Guerra Mundial. Pode vetar qualquer decisão, ainda que todos os demais membros do Fundo a aprovem. A instituição, lastrada por excessiva burocracia, decidiu vender 403,3 toneladas de ouro, “para funcionar com mais eficiência”. A causa real é que se ficou sem clientes pelas condições leoninas que impõe a seus empréstimos. As 403,3 toneladas de ouro, a seu preço atual, equivalem a quase 12 bilhões de dólares. Esse dinheiro não significa nada, uma soma igual o governo dos Estados Unidos a injeta forçadamente à circulação em matéria de horas, para salvar a seus bancos.
O colossal aparelho do império para a desinformação, entre outras coisas referidas a minha mensagem aos intelectuais, afirmou que Fidel arremetia contra o emprego da computação, como se tratasse de uma pessoa apartada da realidade. Abel Prieto, ministro de Cultura e prestigioso intelectual, em seu discurso de encerramento do Congresso da UNEAC, respondeu com brilhantismo à intriga, lembrando os mais de 600 Jovens Clubes que foram sendo criados ao longo da ilha nos últimos 20 anos e hoje graduam no manejo da computação a mais de 200 mil cubanos a cada ano. Recordou igualmente a Universidade das Ciências Informáticas, visitada pelos delegados do Congresso, que hoje gradua mais de 1.600 destacados engenheiros nessa especialidade por ano, bem como o investimento, em pleno período especial, para a reconstrução do quase impossível projeto das Escolas de Arte de Cubanacán.
As palavras de Esteban Lazo,uma testemunha excepcional por ter sido primeiro secretário do Partido na Cidade de Havana e outras províncias com anterioridade persuasivas, realistas, contundentes, com sua pele negra e seu cabelo branco, mas a voz firme de suas 64 anos, deram-lhe força à argumentação de Abel.
Se o império conseguisse obter de novo o controle de Cuba, não ficaria uma só das escolas de estudos superiores criadas pela Revolução para oferecer esse direito a todos os jovens; enviaria à maioria a cortar cana; é sua política declarada. Trataria de roubar os talentos artísticos e cientistas já criados, como faz com os demais países de nosso hemisfério. Disponibilizar mais de 70 mil especialistas em Medicina Geral Integral e outras centenas de profissionais, ajudar a outros entre os mais pobres e exportar serviços, é um pecado que não pode tolerar de um povo do Terceiro Mundo.
Afinal de contas, temos resistido seu bloqueio, suas agressões e seus brutais atos de terrorismo durante quase meio século.
Tive o privilégio de escutar importantes intervenções dos convidados latino-americanos e de outros países no VII Encontro Hemisférico de Luta contra os TLC e pela Integração dos Povos. Dou-lhes obrigado por suas palavras solidárias e junto-me a suas causas, que com tanto talento e coragem defendem. Formar consciência e mover politicamente às massas é uma grande consigna!
Fonte: PrensaLatina.

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