Marcus Figueiredo (*)
Data: 11/04/2010Sabemos de longa data que o primeiro passo para uma disputa eleitoral competitiva é a construção do cenário político feito pelos partidos. O cenário eleitoral constitui-se de dois elementos fundamentais: as candidaturas e as suas agendas. Candidatos e agendas formam uma entidade, um “ser político”, dual, fundado nas respectivas histórias e ações prospectivas.
No jargão da ciência política, candidatura implica no binômio história e futuro. Popularmente, aos olhos do eleitorado, Collor era “o jovem, destemido, que veio para cuidar da gente”; Maluf é “o malandro, como Pedro Malazarte, que ‘cuida’ da gente”; FHC é o “príncipe que veio cuidar da gente”; Lula, “como a gente, operário, que veio cuidar de gente como a gente”.
Portanto, história e futuro “da gente” formam o cenário eleitoral. E é isto o que estamos vendo na preparação das eleições deste ano. (Vejam nos gráficos abaixo.)
Gráfico 1: Intenção de voto 2010 Sempre Cenário 1 - Ponto a ponto - atualização 9/4/2010
No primeiro acompanhamos a evolução das candidaturas já confirmadas para este ano. Polarizando a disputa, de um lado temos José Serra (PSBD, e seus aliados) e de outro Dilma Rousseff (PT e aliados). Alem desses dois, outros aprecem nas pesquisas, especialmente, Ciro Gomes e Marina Silva. Em breve alguns mais estarão nas pesquisas, os ditos “nanicos”.
Este cenário vem sendo construído desde fevereiro de 2008, ocasião em que apareceu, publicamente, a primeira pesquisa de intenção de voto. De lá para cá várias simulações foram feitas e a polarização entre Serra e Dilma sempre foi destacada, independentemente das respectivas intenções de voto.
Para compreendermos melhor a construção do cenário temos que ter em mente que o processo eleitoral brasileiro tem quatro etapas estabelecidas por leis. A primeira delas, sem data estabelecida para começar vai até fim de março, quando candidatos têm que se desincompatibilizar de cargos executivos, como aconteceu agora com José Serra e Dilma Rousseff. Este é o período em que os pretendentes constroem suas alianças, políticas e sociais, e posicionam-se perante o eleitorado, isto é, publicitam suas histórias e dizem ao eleitorado “a que vieram”.
Este é um momento em que as candidaturas sofrem oscilações maiores. Passado esta etapa, as definições das candidaturas tornam-se mais nítidas e entra em jogo as alianças sociais em tornos dos candidatos. Isto é, os grupos e classes sociais vão se posicionando em torno dos candidatos e os indecisos vão palatinamente diminuindo. Hoje temos 20% de indecisos, mais do que os “Outros” candidatos e Serra e Dilma estão virtualmente empatados, 34% e 31%, respectivamente. Esta segunda etapa vai até junho quando as convenções partidárias formalizam as candidaturas. Neste período vivemos um limbo eleitoral, pois já temos candidatos definidos, mas não se podem fazer campanhas. É por isso que o Presidente Lula tem sido multado pelo TSE ao fazer inaugurações e discursos abrindo espaços para a apresentação da candidata do PT.
As demais etapas começam em julho quando as campanhas ganham as ruas e a propaganda eleitoral começa. Até lá ainda teremos oscilações nas intenções de voto, porém menores.
Gráfico 2: Intenção de Voto e projeção 2010 sempre cenário 1 ponto a ponto - atualizacao 9/4/2010
O momento em que estamos já estabeleceu que a polarização entre Serra e Dilma será a tônica desta campanha. As projeções que fizemos indicam que Dilma está em curva ascendente consistente e Serra, na melhor das hipóteses, se estabilizará na faixa de 30-35%, percentual próximo ao que obteve no 2º turno de 2002 (38%). (Ver gráfico das curvas de tendências) Isto é, a sua passagem pela prefeitura de São Paulo e no governo do estado de São Paulo (2006-09) não lhe acrescentou nada de significativo em termos de voto.
Dilma, ao contrário, entra nesta disputa com 4% de intenções de voto em fevereiro de 2008 e hoje se projeta apontando para cima em vias de passar o Serra em breve.
O cenário construído tem e terá até a eleição o confronto de duas historiais e duas agendas: Serra, com sua história e suas alianças já definidas, herda os 8 anos dos governos FHC e Dilma, com sua história e suas alianças já definidas, herda os 8 anos dos governos Lula.
O eleitorado, mais uma vez, irá perguntar: “quem são esses caras, de onde vieram, o que oferecem pra cuidar da gente?”.
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